CinMeireles 13/01/2024
O Assassinato de Roger Ackroyd é o 7º livro de Agatha Christie, e afirmo categoricamente que não só é o melhor dela até então, como seu nível está estratosfericamente acima dos 6 primeiros.
A história em si segue o padrão Agatha: um assassinato, muitos suspeitos, muitas pistas que parecem não se encaixar, muitos nomes complicados, e Hercule Poirot fazendo todo mundo se sentir burro. Mas é na construção da história e no uso de certos recursos narrativos que Agatha demonstra um significativo amadurecimento: se, nos livros anteriores, a solução era muitas vezes obscura e precisava de uma explicação expositiva, aqui os fatos expostos contam uma história clara. Ao reler o livro, percebi que o motivo de eu não adivinhar o culpado não foi por falta de informações, e sim por ter acreditado em coisas que nunca haviam sido realmente ditas - coisas que a autora induz o leitor a pensar propositalmente.
E é aí que entra a genialidade desse livro: a narração dos fatos nunca usa de mentiras, e ainda assim engana. Agatha usa a verdade para esconder a verdade. Ela induz o leitor a traçar determinado caminhos sem nunca ter dito que eram corretos, deixa que ele crie suas próprias mentiras. A verdade está ali o tempo todo, na forma como as coisas são ditas, na revelação de coisas que não foram ditas. Se esquecemos o que as pessoas acham e focarmos apenas no que realmente está acontecendo, a verdade é gritante. E, mesmo assim, só percebemos quando Poirot praticamente esfrega a verdade na nossa cara.
Depois de experiências variando de ruins a medianas com os livros anteriores, O Assassinato de Roger Ackroyd fez eu recuperar meu entusiasmo pelas tramas geniais da autora. Se você quer conhecer melhor Agatha Christie, recomendo que comece por esse livro. Você não vai se arrepender.
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