Bruna 20/01/2022
Ficar
Um problema que encontro em praticamente todos os contos do Kindle sobre transexualidade é que nunca parece que o público-alvo são pessoas trans. Sempre parecem estar querendo dizer para pessoas cis que pessoas trans existem e são pessoas e que não são piores do que elas por serem trans. E isso sempre me deixa... ai. Esse conto é sobre isso, inteirinho. É sobre uma moça trans que vive sendo abandonada por suas namoradas simplesmente por ser trans, uma moça trans transicionada e até mesmo operada. Essa narrativa poderia até mesmo se encaixar melhor na vida de uma pessoa trans recém saída do armário, porque, afinal, o mundo sabe ser realmente babaca, mas achei que ficou meio esquisita no caso da Cris. Não estou dizendo que na perspectiva da Cris não existe mais sofrimento, e amigos indo embora e tudo mais, não, eu sei que não é assim. Mas a questão é que todas as histórias trans que encontrei são assim, estão simplesmente dizendo: "Ei, pessoas trans são pessoas, viu?". Se você, pessoa que leu o conto, ficou se sentindo super inspirada e completa por ter sido atingida por essa mensagem, então você precisa começar a ver esses preconceitos internalizados aí de verdade, porque é uma coisa básica que pessoas trans são pessoas.
De qualquer forma, reconheço as intenções da autora, e acredito que ela tenha feito isso de uma forma menos condescendente do que em outros contos que já vi, com algumas informações legais e o discurso sobre radfem extremamente necessário depois das escrotices da JK Rowling. Também gostei da escrita e das personagens em si, a Cris é uma personagem muito legal, e eu ia gostar muito de ler uma história maior figurando ela e a profissão de treinadora dela.