workin4thefork 14/12/2023
Ah se A cama pudesse ser a narradora?
Na cama nascem, vivem, amam, choram e morrem seres das mais diversas gerações, incrível não? Já tiveram a sensação estranhamente confortável de que alguém, em outro tempo, era tão gente quanto a gente? O livro de Lygia Bojunga traz esse sentimento por meio de cada situação acerca da famigerada cama-de-duzentos-anos, onde são exploradas não só a mortalidade humana e seu legado material, como relações passageiras e do tipo-pra-ficar que são afetadas pelo mesmo problema. O jeito que os personagens viam na cama esperanças ou ofensas diferentes me encantou desde o começo: sendo para Zecão um símbolo de tradição, para Tobias um artifício para alcançar a admiração do pai, para Maria Rita uma esperança de não morrer de fome, para Elvira um objeto de admiração, para Petúnia uma oportunidade de conseguir a felicidade do amor de sua vida, para Jerônimos um problemão, para Américo a tentativa de reconquistar sua filha e para sua filha um insulto de seu pai. Realmente, o que o mesmo objeto pode significar para várias pessoas? E o que esse objeto tem a dizer sobre as tantas pessoas que viu viver e morrer?