FellipeFFCardoso 28/12/2023
Karoline estreia com contos sólidos, cujas bases estão na realidade sociopolítica e econômica que vivemos nesse país, mas lapidados pela própria experiência de vida como uma mulher preta. Os textos que ela nos apresenta neste livro trazem para o leitor um experiência de tensão e assombramento, não pela irrealidade daquilo que contam, mas pela verossimilhança absurda que sabemos existir cotidianamente. Ela cria personagens mulheres que não são vítimas, ainda que reféns de um sistema histórico, patriarcal, e que se veem sim nos reflexos das misérias sociais que nos impedem de evoluir, brasileiros, enquanto um povo ciente de suas responsabilidades. Mais do que representações de um pessimismo, essas mulheres retratadas pela autora são evidências desses espelhos que continuam refletindo, ano após ano, injustiças e falhas para com todas as gerações, em especial as mais jovens, cuja herança de abusos, violências e segregação acaba por curvar ainda mais a jornada de mulheres jovens, tais como Karoline, que batalham para serem, existirem, sonharem-se e, acima de tudo, confiarem em si mesmas como potências que são, ainda que o mundo muitas vezes as faça crer que não. Para cada texto, uma reflexão e, ao final do livro, a resiliência de ver uma publicação independente de qualidade lutando não pelo seu espaço, pois este já é dela, mas pelo reconhecimento que o mercado (e suas Helenas, como uma de suas personagens) ainda reluta dar. Parabéns, Karoline, fico à espera e com muita ansiedade pelo o que ainda há de vir com a sua literatura.