rayumix 23/12/2023
Quem é "ela"?
Li o livro para um trabalho de Literatura e Arte, e gostei bastante! Segue o texto da performance adaptado para resenha.:
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Leitura e sobretudo poesia é o fazer sentir individual pelo compartilhamento de vivências, uma interpretação latente.
As palavras de Luciene Nascimento emprestam a própria pele para se sentir em uma dança ritmada com sua própria mente e a da autora.
Não só sendo um agente passivo nessa leitura, mas um agente questionador. Um alguém que passa as mãos pela biblioteca da memória e lembra de todas as narrativas de amor dedicadas à imagem de uma mulher com a pele alvíssima, cabelos que escorrem por suas costas dourados como o sol, lábios como rosas e olhos de oceano, de uma calmaria e doçura inabaláveis; a dos moldes sociais, aquele que parece estar tudo bem, remetendo todo esse padrão estético e comportamental da feminilidade, demonstrando idolatria e completa aceitação.
Mas como muito bem pontuado no livro "Tudo nela é de se amar", a sociedade é uma construção e o racismo é o cimento, e se essa estrutura protege e abriga as pessoas brancas, ela aprisiona do lado de fora as pessoas negras.
Negadas de sua própria condição, sua beleza é às vezes obrigada a ser libertadora, forte, valente e pulsante. Porque elas nascem em um mundo que expulsa esses corpos para a margem, são discriminados, desprezados, humilhados, sexualizados, violentados, explorados, abandonados, mortos. Quando você é uma mulher negra a sociedade te põe nessa sala escura e ao passar da vida você tromba com essa construção social feita com esse cimento racial de seu próprio sangue e suor inocente. Nem todas essas mulheres conseguirão um dia acender a luz para enxergar a armadilha mortífera e cruel que estão inseridas, mas sempre haverão essas objeções e vozes ecoando em suas histórias.
Essas mulheres são negadas de sua própria beleza, ao se olhar no espelho ou em qualquer outro lugar dificilmente se encontrarão.
Como lemos no livro, a beleza é um fenômeno avassalador, em todos seus sentidos.
A dor de tentar se encaixar é avassaladora.
A necessidade de entender sua história é avassaladora.
O orgulho de ser quem se é é avassalador.
Estampar na cara não só quem se é mas também a luta de um povo é avassalador..
Tudo nela é de se amar, mas quem é ela?
A sociedade é chocante e se a beleza é avassaladora as vivências também são; e às vezes é importante parar para entender a construção que vivemos e como ela foi construída; para percebermos quanto da nossa mentalidade foi condicionada a esse modelo opressor, e aprender a nos desconstruir.