Henrique 02/03/2022
Liricamente belo. Poeticamente brutal.
“Pequena coreografia do Adeus” é o livro mais recente da Aline Bei, a mesma autora de “O peso do pássaro morto”. Que fez muito barulho quando lançou, o que não está divergindo desse. Seguindo o mesmo estilo narrativo de seu irmão mais velho, a escrita em versos, essa obra também tem um caráter extremamente cru.
Nele, nós acompanhamos a infância e adolescência da Julia, uma menina que é cheia de sonhos e ao mesmo tempo, cheia de traumas. Abordando o abandono parental e emocional, Aline Bei criou um enredo cheio de nuances que vão dá forma mais pura e boa de demonstrar o amor, até a forma mais problemática e desastrosa. Com o plano de fundo o processo de formação do ser humano e os efeitos de uma infância marcada por abandonos, nós temos um livro cheio de significâncias que, no entanto, não estão completamente explícitos.
Parecido com o que a Sally Rooney fez em “Pessoas normais”, de mostrar muito da história nas entrelinhas, a Aline Bei fez nesse livro, a prova disso é que, ao decorrer da narrativa, em momentos precisos, temos uma variação na fonte, seja uma mudança em seu tamanho, por exemplo, ou ela se apresentar em itálico.
De fato, esse livro merece ser lido e apreciado, porque, por mais que ele seja curto, ele consegue transmitir todos os sentimentos necessários para que você consiga entendê-lo plenamente e, acima de tudo, ser cativado pela Júlia. O poder de escrita de Aline chega a um nível de tanta perfeição que o motivo das ações da personagem principal se torna tão verossímil quanto completamente inteligível da maneira mais fluida e natural possíveis. Por fim, acredito genuinamente que esse livro é uma obra-prima, simplesmente um dos melhores que já li na minha vida. Esse livro exala poética.