Rodrigo1001 25/05/2023
Promessa (mais que) cumprida! (Sem Spoilers)
Título: A Promessa
Título original: The Promise
Autor: Damon Galgut
Editora: Record
Número de páginas: 308
Além de ter vencido o Booker Prize de 2021, A Promessa foi considerado o livro do ano pelo Sunday Times, The Guardian, The Observer e Daily Telegraph. Seu autor, Damon Galgut, nasceu na África do Sul, e já havia sido indicado três vezes para o Booker Prize.
Questionado sobre o porquê de ter se tornado escritor, ele revelou que teve linfoma quando criança, período em que "aprendeu a associar livros e histórias a um certo tipo de atenção e conforto". Em uma entrevista mais recente, Galgut disse que a ideia original do livro surgiu de uma conversa com um amigo, que é o último sobrevivente de sua família.
Me pergunto se, em algum momento dessa conversa, o autor teve alguma sensação, algum pressentimento, palpite ou intuição de que estaria prestes a escrever uma verdadeira obra-prima.
Porque é isso que A Promessa é, uma obra-prima!
Diante de tanta agitação, tantos prêmios e tantos adjetivos, o livro me entregou uma história que começa confusa. De início, são muitas vozes ao mesmo tempo, com o foco mudando de um personagem a outro sem aviso prévio. Um caleidoscópio de vozes. Ninguém é devidamente apresentado: nós somos introduzidos em uma história já em movimento e vamos descobrindo os donos das vozes à medida em que vamos avançando.
Completamente alienígena de início, esse drama épico me trouxe uma novidade entre tantos livros que li. Ouso dizer que talvez tenha sido um dos romances mais impressionantes que li nos últimos anos! Um tour-de-force escrito como uma saga de uma família branca sul-africana onde tudo gira em torno de uma promessa feita em um leito de morte.
Os personagens principais são tão vividamente desenhados que cada um parece representar uma característica particular ou falha fatal, contribuindo para sua queda ou, em outro plano, sobrevivência. Galgut mostra habilidades tremendas, quase surreais, em descrever as situações e sentimentos de cada personagem. Seu estilo narrativo é deliciosamente fascinante, bem-humorado, vertiginoso e refrescante. Por trás dessas vidas individuais, a África do Sul aparece em grandes temas como racismo, intolerância, religião, integridade, honra, lealdade, egoísmo e desumanidade. Todos tratados com um toque leve, mas completamente seguro.
Um aspecto notável do romance é o estilo único de narração, omitindo as conversas com a pontuação usual, o que pode ser um pouco desconcertante no começo, mas depois que nos acostumamos, isso se torna duplamente eficaz, pois o pensamento e a fala dos personagens fundem-se em um verdadeiro estilo de fluxo de consciência. A meu ver, a escrita de Galgut evoca a de outro grande sul-africano, J.M. Coetzee, no tema e na visão, se não no estilo. Me lembrou Faulkner também. Me lembrou primazia, excelência, domínio, quilate, calibre e competência.
Amei como o autor retratou o humor e o cinismo em uma história contada com uma profundidade incrível da natureza humana. Escrita excelente e tremendamente inteligente, tão gostosa de ler que sinto que poderia reconhecer os personagens se os conhecesse na vida real!
Com frases perfeitas, totalmente absorventes, me faltam adjetivos para qualificar o livro. A destreza da prosa, com narradores audaciosos e brutais, as descrições concisas que tecem uma pessoa inteira, completam, em um punhado de palavras, as tangentes errantes de vidas fragmentadas, a história da África do Sul pós-apartheid, dilemas insinuados e provocados, mas nunca, nunca cozidos demais. Galgut, na verdade, faz com que pareça incrivelmente fácil.
Enfim, muitas vezes nos perguntamos se os elogiados romances contemporâneos resistirão ao teste do tempo. No entanto, este... Oh, este é um dos maiores de todos os tempos, com certeza!
Pagou a promessa.
E sai da prateleira diretamente para o rol dos meus livros favoritos.
Leva 5 de 5 estrelas.... leva uma constelação inteira!
Frases interessantes:
“É terrível se afastar do que você um dia, brevemente, amou, ou achou que amava, ou quis achar que amava. Aquilo que no entanto continua preso, para sempre.” (pg. 43)
“Como é comum e como é estranha a vida humana. E em que delicado equilíbrio. O seu próprio fim pode estar bem à sua frente, aos seus pés.” (pg 116)
“A agressão acaba sempre machucando o agressor.” (pg 255)
“A negação [das coisas] só funciona com os outros; com o destino, ela não tem efeito.” (pg 263)