spoiler visualizarJulia 28/11/2021
Um dos temas mais característicos dos seus livros anteriores ainda se mantém no novo livro de Sally Rooney: o complexo da falta de comunicação decorrente de mentes solitárias, que buscam conforto e afeto nas pessoas mais inesperadas. No livro, temos quatro protagonistas com realidades diferentes, mas, que de certa forma, se encontram em meio ao seu caos decorrente da confusão interna comum.
Quem eu sou? Qual é o meu futuro? Qual é a minha função na Terra? Essas são três perguntas contemporâneas que parecem se repetir durante o enredo todo em meio às cenas diárias e às passagens cansativas das trocas de e-mails entre as duas melhores amigas. As respostas não são encontradas, tendo em vista que os personagens terminam a trama mais confusos sobre si do que quando começaram, todavia, pelo menos, vão, em passos lentos, expondo suas frustrações um com o outro, se abrindo e quebrando o primeiro obstáculo da falta de comunicação. Essa quebra constrói o diálogo de que todos estamos no mesmo barco e que não adianta guardar problemas para si, conversar é necessário para que o ato de viver não se torne um fardo, tal qual os protagonistas vivenciam.
Muitos podem criticar o excesso de passagens de sexo entre os relacionamentos, mas, veja bem, temos aqui três personagens passando por episódios de depressão (Simon, Eileen e Alice) e um que acabara de sair da mesma situação (Felix), lógico que a intimidade decorrente dos casais viria do desejo, ao passo que nenhum deles está pronto para lidar com seu passado, presente e, muito menos, sobre seu futuro. Consequentemente, se temos quatro pessoas que tentam ao máximo não se expor por meio de palavras, a vulnerabilidade transmitida nas passagens de sexo é o máximo que eles conseguem se abrir para o leitor sem a necessidade de diálogos desgastantes, os quais não só cansariam nós que lemos, mas também quebrariam a eles mesmos que buscam se salvar e não se afundar ainda mais quando estão juntos.
Outro aspecto é que temos quatro protagonistas se afogando em problemas pessoais, logo o volume da carga emocional pode desgastar o leitor e fazê-lo achar os personagens insuportáveis. Entretanto, a autora cansa de repetir de como eles mesmos também tem essa mesma mentalidade, fazendo com que todos ao seu redor acabem se afastando ao conhecer-los de maneira não tão mais superficial. Isso seja por meio dos relatos de relacionamentos amorosos anteriores fracassados, seja por conversas autodegradantes, em que eles mesmos se humilham de modo a reafirmar sua condição psíquica ?incurável? (isso é o que eles acham, não eu).
Sally Rooney repetiu aqui a mesma dinâmica de Normal People, mas sobre uma perspectiva mais madura do consciente de quatro adultos e não dois adolescentes. De maneira geral, uma leitura extremamente agradável e com a fluidez impressionante característica da autora. Não existe uma história mirabolante de fazer cair o queixo, o intuito é, puramente, de gerar uma reflexão introspectiva psicológica de que precisamos prestar mais atenção às pessoas ao nosso redor e que, de vez em quando, é mais do que necessário desacelerarmos, respirarmos fundo, e nos atentarmos com gratidão ao belo mundo onde vivemos, pois todos estamos juntos nessa grande missão da vida. :)