becka 13/01/2024
Tristeza
Vim pra esse livro com certa expectativa, a jemisin é uma autora consagrada, importante e que já escreveu obras definitivamente melhores que essa.
sinceramente, alguns problemas talvez sejam de tradução, como a fala ?os artistes? provavelmente é, mas não muda o fato de que a linguagem neutra é utilizada mal nesse livro, mas isso precisaria checar na versão original.
se pelo menos esse fosse o único problema? acho que a autora se comprometeu com mais personagens do que poderia lidar, o livro desperdiça umas cem páginas apresentando personagens, e digo desperdiça, porque é literalmente apresentando, você conhece um, pum, fomos pra outro e quando isso termina temos outras incontáveis páginas de um encontrando o outro, enquanto nada realmente acontece.
e é frustrante porque por algum motivo (que eu tenho suspeitas de ser a jemisin fazendo exotismo com a cultura do povo indígena que ela colocou na história), só uma personagem sabe sobre o passado dessas pessoas que se tornam cidade e o que fazer com isso kk então passamos boa parte de um livro de 300 e poucas páginas simplesmente vendo uma pessoa encontrar a outra, fugindo de uma coisa aqui e outra ali, sem eles realmente entenderem coisa com coisa pra faltando umas cem páginas começar o infodumping besta.
até aqui, descrevi um livro ruim, xoxo e etc kk mas piora. Porque o que mais me incomodou no livro é como a Nk nitidamente tinha uma ideia, que poderia ser interessante, mas ela executou de forma tão porca que me deu raiva.
entãoaior parte dessas pessoas que são cidades, são parte de uma minoria, e em geral, tudo o que vemos no livro é traumaporn (acho que não é o melhor termo, mas não sei um mais adequado), porque toda hora ela mostra algum preconceito e etc
e tudo bem até aí, o mundo é uma merda, a maioria das pessoas é de fato preconceituosa, mas é de uma forma tão unidimensional, preto no branco, sem nunca pensar na escala cinza das coisas que me incomoda >muito<
parece que ela reuniu todas as minorias que conseguiu pensar e tacou essas pessoas em situação atrás de situação, e de forma nada natural ou bem construída, porque é demais, tudo é demais o tempo todo
a aislyn que é a única cidade não minoria, pôde-se dizer que é a mais ?cinza? daqui, e mesmo assim foi construída tal como uma porta, as situações do livro são pra além de forçadas.
o que é espantoso, porque tendo lido outras coisas dessa autora, tenho plena consciência de que ela não só pode fazer melhor, como já fez
parece que ela considera os leitores dessa história que talvez seja para um público mais jovem como burros e incapazes de entender que tem preconceito, se ela não disser literalmente: preconceito preconceito preconceito
temos diálogos ridículos como a pessoa tendo fala racista, aí é contestado e diz ?verdade, desculpa pela fala racista, ops, preconceituosa, afinal as balanças de poder entre nós são praticamente as mesmas? bicha pelo amor de deus sabe. PELO AMOR DE DEUS.
não sei nem descrever se o que tem entre manny e cado é uma tentativa de romance, porque se for bizarramente mal feita, se não for, ruim pra caramba do mesmo jeito.
é um livro, definitivamente. um bom livro? não mesmo?