Aline T.K.M. | @aline_tkm 04/09/2021Me tocou como poucosSe tem uma coisa que me fascinou nesta graphic novel são os silêncios. Eles estão por toda parte e parecem ser não apenas um eco do interior do narrador, mas também um convite à contemplação.
Em Ondas é a estreia do ilustrador e surfista AJ Dungo nos quadrinhos. Premiada, a HQ intercala duas narrativas a princípio improváveis: em uma delas, o autor relembra sua falecida companheira, Kristen, que lutou contra o câncer, e a paixão de ambos pelo surfe; na outra, traz um pouco da história do surfe, as figuras lendárias do esporte e sua importância para os povos da Polinésia e do Havaí.
Visualmente, essas duas linhas narrativas se diferenciam pelas cores — sua história com Kristen é contada em tons de azul, enquanto o surfe nos chega em tonalidades amarronzadas. Não pude evitar pensar em terra e mar, na complementaridade, no equilíbrio e no curso (nem sempre justo) da vida, presentes na trajetória do casal e também na mescla incrível de elementos aqui nesta obra. O que antes era improvável se transforma em completude. Tudo aqui faz sentido de um jeito lindo, e as palavras muitas vezes se revelam desnecessárias. Os silêncios... ah, eles dizem tanto!
Em Ondas me tocou como poucos livros fizeram. Aliás, curiosamente, duas das três obras que mais me emocionaram na vida são quadrinhos. Alguma coisa no aspecto visual aliada a um texto mais enxuto e certeiro faz com que as graphic novels encontrem uma rota direta aqui dentro. Comigo isso acontece muito, com vocês também?
Muito mais do que contar uma ou várias histórias, e de nos fazer mergulhar no universo do surfe, AJ Dungo é franco ao falar sobre o luto e faz uma bonita homenagem a Kristen, uma jovem mulher cheia de garra e serenidade, que fica eternizada nos traços de seu companheiro.
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