Ley 28/08/2021Um aprendizado sobre culturas e raízesBinti, da mesma autora de Bruxa Akata, é uma trilogia com livros curtos lançados no Brasil em uma única edição. Em uma olhada rápida, o livro tem um tamanho mediano, portanto o fato de conter três livros completos ali pode gerar uma certa dúvida. Mas a vantagem é que são leituras rápidas que podem ser feitas de uma vez, sem esperar pelo lançamento das demais.
Binti também é o nome da protagonista, uma personagem com uma iniciativa inicial de correr atrás de seus sonhos se mudando para a melhor universidade da galáxia. Os livros se passam em um futuro distante, com uma ficção científica relativamente fácil de entender.
É comum estranhar o universo de início devido a abrangência dele. Mesmo tendo um ponto de partida na Terra, os termos que conhecemos são diferentes, mas principalmente, temos um grande choque cultural graças à narrativa da protagonista.
Binti vem da tribo Himba, com costumes únicos, e contribuições para a comunicação na Terra, entre outras questões. Binti também leva o título de mestre harmonizadora, com o maior domínio em matemática, herdado pela mãe. A personagem tem um domínio incrível de fórmulas, pensamentos rápidos, visão ampla, e ideias de futuros melhores.
O destino de Binti sofre uma reviravolta logo quando tenta sair de seu planeta para viajar para a universidade de destino. Na nave, durante o trajeto, ela e os demais estudantes são atacados por medusas, criaturas que têm uma rivalidade com os humanos, levando o grupo a sofrer devido a isso. Por questões inicialmente desconhecidas, Binti é a única sobrevivente, selando seu destino permanentemente para com as medusas.
O ataque inicial molda completamente a protagonista, deixando marcas notadas até o último volume, dando um ponto de partida chocante na narrativa. A jornada da protagonista é dividida com Okwu, uma medusa por quem se conectou durante a tragédia, e que agora começam uma relação de amizade e companheirismo.
Apesar de medusas terem um passado de rivalidade com humanos, Binti não necessariamente entra nesse meio, por pertencer a uma tribo que se difere em vários termos dos demais humanos. O mundo futurístico é uma visão e tanto, que deixa o leitor vislumbrado pela tecnologia, entre outros motivos, mesmo tendo alguns trechos mais densos.
Há uma explosão cultural que podemos aprender, sendo uma grande lição apresentada por meio da jornada de Binti. O primeiro volume resume-se na primeira mudança da protagonista, sendo o menor dos livros. Já no segundo volume, é onde aprendemos sobre suas raízes com uma profundidade que até então Binti havia apenas mencionado. É importante falarmos de cultura, entendermos o que cada uma representa, mostrando suas heranças e muito mais. Binti tem um excelente crescimento como personagem, mas esse progresso é superior se tratando de resgatar suas raízes.
A leitura trata tanto sobre conhecer a fundo as heranças da protagonista, como o preconceito enraizado entre elas, exemplificando a diminuição de outros povos resumindo-se pela inferioridade de como uns consideram-se outros. Nesta passagem cheia de aprendizado, Binti sofre para lutar por uma paz entre povos, respeito e o seu próprio lugar no mundo.
Binti é uma personagem que tenta de tudo para que haja paz, mas sofre no percurso, tendo um processo de autoconhecimento enorme. Outros pontos são amplamente discutidos, especialmente como ela lidará com os traumas vividos ao longo da história.
As histórias têm uma linguagem mais juvenil, reservado tanto para o público jovem, mas pode ser apreciado pelos demais. Contudo, algumas partes das histórias possuem violência e descrições sensíveis que podem deixar o leitor desconfortável. A narrativa tem pontos mais suaves, como um breve romance.
No terceiro e último livro, sendo o maior deles, a autora reserva a tensão para o final, com a promessa de guerras iminentes. Um ponto curioso é que por mais que haja uma tensão entre as medusas e humanos, o livro enfatiza mais a evolução de Binti no meio de toda essa rivalidade do que a própria guerra em si.
O livro tem muita representatividade, com personagens não-brancos, lições que podem ser aplicadas em nossas vidas, e muita pauta sobre preconceito. As maiores lições estão reservadas sobre as culturas abordadas. Foi uma boa leitura, tensa em vários momentos, e meu primeiro contato sobre o africanoculturismo, um subgênero criado pela própria autora. Me senti perdida pelo universo mais expandido, mas essa sensação logo passou. O desfecho também deixa algumas pontas soltas com acontecimentos que podem deixar o leitor curioso, como o fato da autora dar importância a eles em certos momentos e depois não mencioná-los mais. Por fim, foram leituras rápidas e muito proveitosas.
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