Letícia | @mamaeliteraria 19/01/2022Essa casa "escondida detrás de seus três limoeiros" que abriga gerações da mesma família foi o que me chamou para a leitura de Herança de Miguel Bonnefoy.
Não saber mais nada sobre a história de um livro tem acontecido muito nestes anos de pandemia. O que descobri foi uma mescla de O Tempo e o Vento, Cem Anos de Solidão e A Casa dos Espíritos.
Uma grata surpresa acompanhar a vida da família recém inventada Lonsonier. Tudo bem amarradinho e com toques do fantástico, a gente passa por personagens intensos e com suas vidas passando por períodos políticos, guerras e sempre a mesma questão moral sobre sobrevivência.
Com um pouco menos de 200 páginas, a narração me envolveu de tal forma que quase não escutava quando a família falava comigo. Este brilhante contador de histórias que é o Miguel Bonnefoy faz isso ao apresentar personagens tão bem construídos.
O franco-venezuelano começa seu romance partindo da França em direção ao Chile. O acaso coloca um dos chefes da família desembarcando no Chile. Encontrando lá outros imigrantes, começa a história dessa família de nome inventado numa prosa alinhada, bem inspirada.
Dos horrores das trincheiras aos porões da ditadura militar. Em tempos de um mundo dividido, de um Brasil sofrendo com crueldade de governantes, a gente percebe como a humanidade persiste nos mesmos erros.
O ano está só começando e temos aí um dos favoritos de 2022.