Aisha Andris @AishandoBooks 01/07/2020
Adorei, mas preciso da continuação pra ontem!
“A Fragilidade das Águas” é um livro que me encantou assim que vi sua premissa. Temos diversas obras de fantasia inspiradas nas mitologias greco-romana, nórdica, egípcia, entre tantas outras; e são maravilhosas, de fato, no entanto nossos próprios mitos, embora riquíssimos, costumam ser negligenciados pelos autores nacionais. Nosso contato com eles geralmente fica restrito à infância, quando comemoramos o folclore, ou às reprises do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Por este motivo, me interessei de cara por esta história, baseada na mitologia indígena, sobre a qual aprendi bastante por meio do Catalendas, um programa da TV Cultura que eu amava quando criança.
Aqui nós acompanhamos Sumé, deus que personificava a justiça, que revoltou-se com os humanos quando eles se rebelaram contra os princípios e leis criados por ele. Todavia, sua companheira, Uiara, a deusa das águas, nunca deixou de amá-los e morreu tentando defendê-los. Quando isso aconteceu, Tupã, o deus criador e, também, seu pai, o condenou a permanecer na Terra, com a aparência eternamente jovem, aguardando até que sua amada voltasse e ele tivesse seus poderes de volta, o que fez com que Sumé se revoltasse contra Tupã também (aliás, ô serzinho estressado!). Desde então, ele passou a se chamar Raoni e entregou-se à devassidão, fingindo não se importar com mais nada, inclusive a perda da sua sereia.
Em seguida, somos apresentados a Lívia, uma jovem batalhadora que finalmente conseguiu realizar seu sonho de ir pra universidade. Só que as coisas não começam bem, pois logo em seu primeiro dia, ela literalmente desmaia nos braços de certo deus nervosinho que conhecemos bem (amo esses clichês!). Raoni imediatamente a reconhece como a sua Uiara, mas em vez de ficar alegre, ele se decepciona com o quão diferente ela está da bela deusa pela qual se apaixonou. Inclusive, isso causará diversas divergências entre os dois, pois, embora compartilhem a mesma essência, Lívia e Uiara são pessoas completamente diferentes, e Sumé deve aprender a amar a jovem da forma como é. Do contrário, certamente a perderá…
Raoni não fica nada satisfeito em descobrir a vida difícil que Lívia leva e se propõe a ajudá-la, mas ela não facilitará as coisas para ele, pois valoriza muito a sua independência e não quer saber da caridade de ninguém. Nem mesmo do delicioso deus indígena (se ela soubesse o quão perto está da verdade) de olhos verdes que mexe com ela tão intensamente. E isso pode custar caro, porque o mesmo inimigo que deu fim à vida de Uiara para ferir Sumé, não ficará nada feliz em saber que ela está de volta (e, cara, eu dei um berro quando descobri que inimigo era esse. Duvido que vocês também não caiam para trás).
Além do nosso casal principal, ainda conhecemos dois irmãos de Raoni, pelos quais me apaixonei completamente. Polo, o deus do vento, e Rudá, o deus do amor, são o oposto de Sumé, ambos bem humorados e divertidos. Adorei as brincadeiras e as brigas fraternais que acontecem entre eles, além da amizade que logo surge entre os dois e Lívia. Rudá, em especial, tem um laço muito forte com a jovem.
Eu adorei fazer esta leitura. Amei a representatividade, trazida tanto pelos deuses quanto por Lívia, uma mocinha negra maravilhosa, inteligente e dona de si. A escrita da autora é super fluida e gostosa, e a forma como ela nos apresenta a cultura indígena, fugindo da visão “branca colonizadora”, despertou meu interesse em saber mais sobre ela, além do bê-á-bá ensinado na escola. Minha única “reclamação” é porque fiquei esperando a guerra contra o grande vilão e, quando ia começar, o livro acabou. Preciso do próximo já!
P. S.: querida autora, o Polo e o Rudá merecem seus próprios livros.
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