Romances tolos de romancistas tolas

Romances tolos de romancistas tolas George Eliot




Resenhas - Romances tolos de romancistas tolas


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Luccubus 19/08/2023

Indevidamente cruel
Mesmo que eu também liste todos os motivos pelos quais não me atraio por certa literatura feminina, os romances pomposos e totalmente improváveis, que tentam imitar uma Jane Austen, se ambientando em épocas que nos parecem mais cavalheirescas e românticas, ou se colocam entre bilionários e vampiros mal feitos (alô, Stephanie Meyer) interessadíssimos em cultivar um romance com as mais insípidas mulheres, eu não vejo como em certa dose e vendo para o que eles se destinam eles não possam ser tomados de bom grado. Seja com vários passos atrás quanto à veracidade e verossimilhança, eles podem ser divertidos, envolventes, poéticos, e muitas vezes ditam bem uma mudança de paradigmas na cultura, ou pelo menos novos gostos cosméticos (tipo o gosto por criaturas sobrenaturais que veio acompanhado de crepúsculo por exemplo) e o quanto podem ser incisivos sobre a cultura ao redor do universo feminino, descrevendo perfeitamente como vivemos e quais são as motivações mais comuns entre mulheres (o que todo grande romance também faz, mas no caso de homens como Shakespeare, que escrevia exatamente assim, foi construído o mito do gênio ao redor de si, e sua perspicácia para os assuntos mundanos é dada como sobrenatural e uma mulher que faz o mesmo é uma tola).

O que é interessante desse livro é que justamente, apesar do incansavelmente manifesto desgosto pela dada literatura, há uma necessidade de dissecá-los pelo que são, sem a fantasia, sem pretensões do que seriam, ou o que os homens veem neles com velada condescendência, o bruto estado de sua matéria em ideias e conceitos, muitas vezes mal formulados ou excessiva e exaustivamente formulados sem chegar a nada de original, pela prolixidade.

O que George Eliot falha em perceber, ainda não sendo publicada por seus romances literários e só em críticas e traduções anônimas ou com homens tomando o crédito por ela, é o que Virginia Woolf abrange em "Um teto todo seu". A mulher escritora não é inferior por seu sexo, seu intelecto não é incapaz e a massa de mediocridade dada por seus feitos literários como gênero não existe por conta meramente das capacidades de cada mulher. Essa mulher é restrita em seu talento justamente por ser restrita à condição de mulher, como dona de casa, como mãe, como governanta, não tendo o devido acesso à educação formal, ou se tinha, não havia o incentivo para o desenvolvimento de sua capacidade criativa. Porque entre escritas ela é interrompida por maridos com "deveres maiores", pelo choro das crianças, pela comida que precisa ser posta e tirada da mesa, pela sujeira da casa, pelo trabalho que dá "dinheiro de verdade" e não há como ignorar ou adiar as outras tarefas. Fica pra depois o que é "supérfluo" que é sua vontade insistente e sem as ferramentas devidas de escrever.

Apesar de tudo gosto da lucidez e coesão da autora. Além de que ela tem ideias muito além de seu tempo, criticando as religiões e até mencionando o ato do sexo antes do casamento como algo normal, mesmo que não seja assim visto pelos livros que discute.

Mas bem claramente ela continua bebendo da fonte misógina que alimenta a crítica até hoje, que para uma minoria demonstrar a sua aptidão e humanidade sempre se deve fazer tudo perfeitamente, que não se pode escrever no ócio, por prazer, porque o delírio de vontade seria uma vaidade, um delito. Me cansa. Porque não superamos o machismo ou a estrutural patriarcal se não pudermos experimentar, errar, aprender e brincar do ócio.

Entendo o quanto ela queria ser levada a sério como escritora, vide seu pseudônimo nas maiores obras da autora, e nem ser considerada como uma das melhores entre as piores (ou seja entre mulheres), queria estar entre os grandes autores e grandes títulos, mas ela não viveu pra ver o quanto fomos engolidos no capitalismo heterotópico (em que existem muitos locais diferentes, mas todos são consumíveis, ou seja neutralizados em sua diferença) em nichos de mercado e nichos de estudo e sua relevância sempre será "nichada". Apesar de seu medo de não ser relevante, acho que ela conseguiu o que queria já que esse livro crítico misógino chegou a uma tradução em português e está sendo lido até hoje.
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Carol 04/07/2023

Impressões da Carol
Livro: Romances tolos de romancistas tolas {1856}
Autora: George Eliot {Inglaterra, 1819-1880}
Tradução: Thalita Uba
Editora: Arte e Letra
56p.

No mês passado, a bolha literária pôde regalar-se com o que mais movimenta nossos corações peludos: TRETA! A da vez foi entre um escritor da Todavia e uma crítica literária da UFMG (joguem aí na busca, que não vou dar a fofoca completa, por motivos de dpto. jurídico).

Qual o estado da crítica literária? O que ela pode ou deve fazer, além das resenhas, no geral, genéricas e de elogios cruzados, publicadas em espaços curtos nos jornalões e revistas literárias?

Eu, como leitora, gosto de acompanhar tanto a crítica acadêmica (viva a universidade pública!), quanto conteúdos menos engessados, mais opinativos. Penso que a honestidade do texto é o que me prende. É o que tento fazer aqui nesse meu espacinho, onde registro minhas leituras e abro o diálogo com vocês.

Todo esse preâmbulo para apresentar este livrinho precioso, de uma das maiores escritoras e ensaístas da literatura, George Eliot: "Romances tolos de romancistas tolas".

Um ensaio no qual Eliot esculhamba um tipo de romance extremamente popular à época: "um gênero com muitas espécies, definido pela característica peculiar da imbecilidade que nelas predomina - o frívolo, o prosaico, o pudico, ou o pedante. Mas é a mistura disso tudo - uma ordem compósita de parvoíce feminina - que constitui a maior classe dos ditos romances, que distinguiremos como a espécie ababadada". p. 17

É bem divertido e excelente para se pensar a crítica literária. George Eliot refletia o rumo do romance, gênero que ainda tateava ali pelo início do XIX, preocupava-se com uma sociedade que negava às meninas acesso à educação e recepcionava as obras escritas por mulheres, com desconfiança. Se seu ensaio pode ser lido como debochado e ferino, não é injusto.

Foi muito legal ler este ensaio agora, tenho ruminado estas questões, conversado com amigos e amigas que pensam a crítica e o estar nas redes sociais. A apresentação desta edição é da @blocodenotasaleatorias. Um primor! Quem dera todo livro tivesse uma apresentação assim.
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Jéssika 09/10/2022

Achei bem chato e preconceituoso. Achei o texto bastante arrogante, afinal a autora fala mal de mulheres. Sim, entendi que a intenção dela é criticar os romances escritos apenas para suprir o ócio feminino, mas ela foi muito grossa e usou palavras bastante injuriosas.
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