andré 09/10/2021
A época da inocência
Nos dois últimos capítulos desse mangá chorei como apenas os animes tinham conseguido me fazer chorar. Acima de tudo, chorei porque não queria que a história terminasse nunca, os personagens te cativam como apenas amigos poderiam fazer; depois, chorei porque queria que cada final fosse o mais feliz imaginável e nenhuma menção a tristezas, desilusões ou mortes houvesse. Por fim, chorei porque é uma história de aquecer o coração, de te fazer emergir em outro tempo e outros lugares e até ter esperança. Essa é a história sobre o crescimento e amadurecimento de uma menina, de um país e todo o planeta. É a história de uma garota que encontra o amor próprio, o amor, o conhecimento, e o mundo pela primeira vez - em um mundo repleto de sonhos, esperança e otimismo, sentimentos que seriam esmagados no século seguinte, como a passagem da infância para vida a adulta, da utopia para a distopia, do sonho para a realidade. Não atoa, a protagonista volta a história para o início daquela que ela chama de "a época mais bonita do mundo", enquanto a narrativa termina no período que até compreendemos como o mais terrível da história humana. Mas felizmente é o final desse período terrível, porque até o desolador real é retratado aqui com notas de esperança e otimismo e uma mensagem de resiliência como única direção para um futuro "feliz". A protagonista da obra, Miyo, é a encarnação perfeita do título da obra, pois sua presença, tímida e hesitante, cresce e transborda, tanto nas páginas da narrativa, como na vida das demais personagens. A decisão de contar a história através da visão dela foi perfeita, tanto que quando a narrativa se distância da protagonista e segue dois núcleos, eu achei todo dramalhão de Paris bastante desinteressante, tanto que o segundo volume foi o que mais deu trabalho, fazendo a história só ganhar vida quando traz sua protagonista de volta, não para menos, é quando essa mesma protagonista chega nesse mesmo núcleo afrancesado que o dramalhão meio chato ganha mais vida, fica mais leve e se torna muito divertido, terminando em um dos pontos altos da trama. Colocar uma jovem totalmente inexperiente para ser o link com um país que começava a se abrir para o mundo e ver pela primeira vez o mesmo, foi uma metáfora certeira (quase fácil), é na paixão dessa perspectiva, na qual tudo é novidade, que somos levados pelo assombro, excitação, paixão e diversão da protagonista, assim como para ela, esse mundo é novo para nós. A única coisa que não gostei foram alguns quadros, cujo fundo a autora usou alguma técnica digital, com um efeito embaçado, que acabou dando um aspecto de fundo verde para o quadro. Mas fora isso, toda arte é lindinha demais. A edição do Pipoca está linda, para é o primeiro verdadeiro Petardo nos mangás da editora desde O Preço da Desonra (pensando bem, tem o Hokusai aí no meio). Vou sentir saudades, mas não espero ler de novo até ter esquecido (se possível for) um pouco desses personagens, pois quero repetir a intensidade dessa experiência.