Jasmine 10/11/2021
O mundo desdobrável
O mundo desdobrável: ensaios para depois do fim é o livro mais recente de Carola Saavedra, escritora brasileira contemporânea, nascida no Chile, doutora em Literatura Comparada e, atualmente, pesquisadora de arte e literatura indígena, na Alemanha. Na terceira imagem, apresento o prólogo, que adianta sua apresentação, e, a partir daqui, comento minhas impressões mais gerais:
As primeiras palavras que me escapam após a leitura são ?belo?, ?intenso?, ?envolvente? e ?instigante?.
Os temas que despertam sua atenção, os caminhos escolhidos para anunciá-los, sua presença na obra para além da figura do ?eu?, que não existe, mas aparece na perspectiva ancestral ou naquilo que o controla (o inconsciente) e suas referências, entre ficção e autobiografia, aparecem de modo muito bem articulado e encantam. Tenho particular admiração pela ideia de polifonia na escrita, da voz/palavra que carrega influências e transita entra elas com muita liberdade, sem presunção de verdade, como um livro que é ?hiperobjeto?, como denomina Carola, por não pertencer de todo ao autor, mas a todos que vieram antes dele e à sua cultura.
A leitura me prendeu por muitas razões: a relação entre arte, literatura e psicanálise; as curiosidades étnicas, culturais e linguísticas postas casualmente com reflexões breves e profundas; a escrita como recriação do mundo e encontro de si próprio; além da liberdade da técnica, a fluidez e a beleza de sua escrita, tão envolvente.
Quando Carola pensa sobre o que pode a literatura, em mim, ainda ressoam estas palavras: ?uma literatura na qual os opostos, os diversos grupos, etnias e visões de mundo coabitam a palavra?, uma literatura expandida, a superação da narrativa vigente do cânone para outras formas de se relacionar, ?é necessário incluir um saber do outro, da arte, do oráculo, que são ao mesmo tempo subjetivos e comunitários?. Suas reflexões, à parte as ideias informativas, não constituem certezas e afirmações absolutas, mas pensamentos em trânsito, o que nos convida à conversa.
Pode não ter sido sua intenção, mas, a mim, pelo menos, este livro oferece um curso de escrita, apesar de, em determinado momento, Carola refletir sobre essa importância da técnica, como não tão determinante sobre o que o processo de escrita traz, inconscientemente. Ela comenta que, quando há domínio da técnica na literatura, não há problema em pô-la em segundo plano, como nas artes visuais, por exemplo.
Foi o primeiro livro de Carola que li, e cheguei a ele após o contato com sua coluna intitulada ?conversas flutuantes?, no Jornal Rascunho, a qual gosto muito de acompanhar. Chateio-me comigo mesma por ter demorado tanto tempo para aproximar-me mais dessa grande escritora brasileira. Não demorarei a buscar seus outros livros.
À Carola, agradeço pela força de sua sensibilidade e potência criativa, pelo seu extravasamento de palavras que me afetam e indentificam imensamente.