Carous 29/03/2022Um excelente livro que merecia mais reconhecimento e aclamação, poética e maravilhosamente escrito. É como se cada palavra nas página fosse muito bem selecionada pela autora. Como leitora, essa sensação me deixou agradecida pela dedicação de Alix E. Harrow ao livro.
Tirei uma estrela da avaliação porque alguns pontos me incomodaram e como sei que foi um incômodo inteiramente pessoal, admito que é uma história merecedora de 5 estrelas e favoritada.
Apesar de toda a beleza do texto e da história, eu não teria concluído este livro de modo algum se não tivesse buscado ajuda no audiolivro, maravilhosamente narrado e com uma sonoplastia soberba que combinou demais com o tema e a atmosfera do livro.
O livro em si possui um ritmo lento, é bem poético. Utiliza muito do vocabulário de botânica e bruxaria que eu desconhecia e, em alguns casos, eu só conhecia a palavra em português. Não ser nativa do inglês foi um empecilho também, mas pequeno. E ter optado pela edição física, embora não me arrependa, ao invés de recorrer ao ebook onde consulta de vocabulário levaria bem menos tempo foram outros motivos que retardaram o avanço da minha leitura.
Beatriz Belladona, Agnes Amaranth e James Juniper são as protagonistas desta história e é de se pensar que eu teria muita coisa a dizer sobre elas, mas na verdade, não tenho. Simpatizei logo de cara pela Beatriz - e não tem nada a ver com o fato dela ser bibliotecária e aficionada por livros. - Ela é apenas a personagem mais fácil de amar e com defeitos que não me incomodaram. Oscilei bastante na minha opinião com Agnes e June. Sinto que Agnes ia muito bem, mas a maternidade ofuscou o potencial da personagem. June achei simplesmente imprudente e inconsequente e isso me irritou. Às vezes tinha que pausar a leitura e respirar fundo. Mas felizmente a autora tinha ciência de como escreveu sua personagem e esses dois traços dela foram trabalhados ao longo da história. No fim das contas, tinha um espaço no meu coração para essa menina rebelde que evoluiu bastante e amadureceu muito.
Li resenhas em que diziam que as três irmãs eram meramente cópias apagadas da Maiden, da Mother e Crone. Sim, provavelmente é verdade que elas representam essas três criaturas, mas não diria que são apagadas.
O laço fraternal e a união feminina é o destaque neste livro.
Honestamente, achei que trataria de bruxaria de uma maneira fantástica, mas tem um fundo histórico na história. Confesso que tenho receio de histórias que abordam as questões sufragistas e feministas porque se tornam ficcionais demais pro meu gosto e acabam num tom de "tudo dará com a força feminina". Não sei se consegui explicar direito minha ressalva.
Mas a autora conduziu bem e fui pega de surpresa; ela conseguiu misturar realismo fantástico com realidade e as questões que permeavam as mulheres, os pobres e os pecadores em 1893.
Um salva pela autora não ter deixado de lado questões como racismo e a situação das mulheres negras - ou das pessoas negras em geral numa sociedade tão racista. Ela não ignora sequer que existem mulheres trans.
Eu não sei se para todo mundo importa que esse recorte esteja no livro, mas como mulher negra, isso importa muito para mim. Principalmente porque Alix E. Harrow é branca.
No fim das contas, gostei que a história não se trata apenas de uma fantasia, o vilão não é caricato. Há muitas nuances e complexidades abordadas aqui e finalmente entendi a necessidade de 500 e sei lá quantas páginas para a autora desenvolver tudo o que desejava.
Bom, isso tudo aqui seria só um rascunho dos pontos que eu pretendia abordar quando escrevesse a resenha final, mas se tornou a resenha em si. Eu escrevi bastante, mas sinto que não cheguei nem perto de traduzir o que este livro é, do que fala ou o motivo d'eu ter gostado tanto dele.
Mas ele é bom. Gostei de ter apostado nele ano passado o suficiente para adquirir uma cópia física e não ter me decepcionado.