PIGMALIÃO

PIGMALIÃO George Bernard Shaw




Resenhas - PIGMALIÃO


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Filipe 17/03/2024

Boa dicção não significa boa educação
Essa é a segunda obra de Shaw com que tenho contato, embora seja a primeira que leio, e posso dizer que ele tem a habilidade de tecer críticas pontuais através do diálogo e da comédia como poucos têm.

"O senhor já encontrou alguma vez um único homem que seguisse os princípios de moralidade em suas relações com as mulheres?"

A história acompanha um professor de fonologia empenhado em ensinar uma florista ambulante a ter boa dicção e comportamentos requintados para poder se passar por uma aristocrata. Isso tem início quando essa vendedora de rua toma conhecimento das habilidades do professor e tenta contratar seus serviços para torna-la apta a empregos em lojas da burguesia.

Aos poucos a vendedora se adequa aos padrões da casta que está tentando se inserir, mas nota que perde algo de si conforme se torna mais parecida com eles, o que a leva ao desespero. É com base nisso que ela elabora que jamais deixará de ser uma mera florista aos olhos deles porque o que diferencia as pessoas não é como se portam, mas como são tratadas - e os "granfos" não são mais inteligentes ou hábeis que pessoas da periferia, apenas falam melhor e com isso disfarçam sua inabilidade.

Nesse quesito, podemos antever a obra de Guy Debord, "A Sociedade do Espetáculo", no texto de Shaw, mostrando o quanto uma imagem meramente representativa não se sustenta seriamente, mas está fadada ao ridículo. Contudo, é preciso apresentar algo, então fingem ser aquilo que não são - desde Eliza até Clara, que acabam por inverter papéis em seus respectivos epílogos e se tornando aquilo que deveriam ter sido desde o início.

A obra ataca principalmente essa falsa noção de superioridade relacionada ao status social, mas não se limita a isso, tecendo críticas também ao sexismo e à astúcia fingida das classes mais altas - impossível não se divertir com a filosofia barata de Doolittle vendendo discursos quaisquer para ricaços a troco de uma fortuna. Ele certamente foi um pioneiro do coaching, assim como Higgins foi uma representação fidedigna do cinismo reacionário.

"Botequim é crube de pobre, seu moço."

Embora seja um texto relativamente curto, ele é divertidíssimo e compensa totalmente sua leitura, havendo de trazer a qualquer um boas risadas e, principalmente, reflexões.
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