spoiler visualizarDiana 14/07/2021
Aqueles que se você gostou é pq vc não entendeu
Existem livros que te tiram do eixo.
Sabe aqueles livros que você faz uma leitura ávida e sente que um pedaço da sua existência foi deixada nele quando acaba?
É uma experiência única, mas de mão dupla. Sim, se você achou que eu vim aqui dizer que Driven to you é esse livro, bom, sinto parafrasear diretamente a frase "achou errado, otario" (DO INGÁ). Driven to you é a mão dupla, ou simplesmente sei lá, o corte brutal do braço, quer dizer, eu simplesmente senti um pouco da minha vida sugada a cada página avançada como uma espécie de dementador experience.
Talvez com esse tanto de metáfora não tenha ficado claro, mas sim é muito ruim.
Ele me tirou do eixo sim, mas para criar uma conta nessas redes de resenha porque eu simplesmente não me conformo do tanto de gente aclamando isso na Amazon. Sério. Se você tem mais de 15 anos e achou esse livro bom, você precisa aprimorar o senso crítico porque a premissa de "cada um tem seu gosto" cai sob terra com a qualidade disso. É horrível, é de abissal de tão mal escrito, mal roteirizado, mal pesquisado e mais importante, de mal gosto mesmo.
Agora que já expressei o quanto achei ruim, posso morrer em paz. Uma parte de mim já morreu mesmo enquanto eu lia situações de violência sem gatilho semanas depois de ter sido assediada, então meu fantasma vai provar o porquê de ser tão ruim.
O livro começa com Maria Antônia jovem do interiorrr (favor ler isso com sotaque fajuto e estereotipado) que nunca havia saído da sua cidadezinha, mesmo que a graduação que ela tenha feito exigisse ao menos morar em uma região metropolitana do Brasil, a ponto de não saber que a bagagem de mão precisa ficar em um compartimento específico do avião. Porque claro, ninguém no interior tem acesso a televisão com novela que tenha alguma cena em avião. Claro, aqui a protagonista também gosta de encher o bucho hahaha olha como ela é caipira pirapora corre aqui nossa senhora de aparecida.
Aliás, como um milagre de Nossa Senhora de Aparecida, ao se ver perdida na estação de Waterloo (pra quem nunca foi, É GRANDE, ENORME) encontra Ocean, personagem não-binarie que acrescenta isso como se fosse uma trivia, um like, um fato sobre mim, simplesmente porque a coitada é tão caipira que fica divagando em português. Divagando em português em plena hora do hush para ser ouvida por ume milionárie!
Sim Ocean é bem abastade financeiramente e arrasta a nossa caipira pirapora para um hotel de luxo com menos de cinco minutos de amizade. Amaram? Porque eu sairia correndo.
Até aqui, já deve ter ficado claro que o tom narrativo é bem aquelas fanfics populares em 2013 em que você esbarrava em um cara da One Direction e ele te levava para a turnê deles e você conheceria a Europa 0800. Nada contra as fanfics, especialmente porque elas não me fizeram gastar quase dez reais.
A função de Ocean é duas coisas: a primeira, explicar didaticamente em 90% das falas sua expressão de gênero, que para a surpresa de ninguém, a autora trata como escolha ao ter escrito literalmente coisas tipo "reconhecimento de sua escolha de gênero, ou no seu caso, a falta dela" e em tom de grande elogio, "forçasse toda a entoação masculina que um dia existiu no seu corpo" porque né, é super de bom tom dizer assumir uma pessoa trans ou ume não binarie foi mesmo de um gênero que nunca se identificou, sempre foi uma prisão.
Como desgraça em forma de escrita é bobagem para esse livro, exaustivamente Maria Antônia fica pensando o quanto a Ocean é linda, incrível e ela quer ajudá-la e entender mais sobre o seu gênero e nos presenteia com cenas que saíram diretamente do quebrando o tabu. Sabe como Ocean ganha segurança para viver um relacionamento com Michael, ao menos por um tempo? Depois de ser validada pela mulher hetero para qual explicou sua expressão de gênero a exaustão.
Logo após o mês do orgulho, é incrível o quanto héteros e/ou cisgêneros ainda acham aceitável escrever livros em que eles são os bons samaritanos que ajudam gays a serem mais seguros e aceitos. Que lacre, mona! Vem pegar a sua carteirinha porque agora você pertence ao Vale!
E como uma boa lacradora, quando a outra função de Ocean é ser uma espécie de caixa para uma garota que ela mal conhece sofre algum empecilho por conveniência narrativa, sim, a autora tentou demonstrar, em vão, que sabia conduzir uma história. Maria Antônia vende fotos sensuais para se sustentar, fotos que vendeu para rachar a viagem com os irmãos.
Problematização sobre o mercado de trabalho está saturado para jovens e a obrigar a se pôr em uma situação onde ela precisa dispor do próprio corpo para desconhecidos, sem saber o que eles podem fazer com aqueles registros? Não temos.
Parágrafos e parágrafos de exaltação a independência da mulher que tem o controle do corpo, é bonita e por isso pode se sustentar assim, como a autora fez questão de dizer nas redes sociais ontem? Temos e até demais.
Será que a autora pensou por cinco minutos que quando você vende uma foto para alguém, você não tem como estar lá com aquela pessoa para saber o que ela vai fazer com aquilo? Sim, porque ela pode muito bem colocar em um quarto no centro da sala ou para os amigos no grupo de WhatsApp, mesmo que fira uma possível diretriz do site, quem vai denunciar aquilo? É ingênuo pensar no Brasil que prostituição, ou comercialização de conteúdo análogo a isso é escolha. É um desserviço imenso colocar uma pessoa de 21 anos, que é apoiada pelos irmãos que tem grana para dar em um mochilão pela Europa, embora a intenção não faça sentido. Quem diabos arruma clientes para um portfólio de marketing no meio de um mochilão? É intercâmbio o nome disso. Enfim, a abordagem é ruim, é preguiçosa, uma mulher precisaria vender inúmeras fotos sem saber a intenção do destinatário para pagar viagem e hotel caro. Ela tem suporte, mas muita mulher que é obrigada a fazer isso, não tem.
E sim, se a autora faz questão de dizer que de onde Maria Antônia vem a lei não funciona, tenta explicar o que aconteceria se uma mulher tentasse processar site e homem rico por divulgação porque eu sou capaz de apostar, ou melhor, era, porque eu sou meu fantasma escrevendo isso, que a autora não leu um a dos termos de uso desses sites ao escrever. Aposto que ela provavelmente pensa que as fotos valem 100 euros, quando valem menos que isso. Para gastar no Brasil, 12 euros é algo, agora para gastar na Europa é risível.
Chegamos ao final com a parte mais difícil de escrever, ao menos pra mim, a autora usa assédio para situações de conflito. Assédio como entretenimento, pois, ao contrário da crença geral, o entretenimento não é só aquele que te faz rir, entretenimento é aquilo que te distrai do mundo te fazendo sentir algo, alegria ou raiva.
Eu fui assediada recentemente, não vou descrever como foi, mas os toques na minha pele foram parecidos com os descritos. Tinha um cara me seguindo e considero isso descrição o suficiente. Ainda me sinto suja. Ainda esfrego minha pele até a vermelhidão quando banho.
O que a autora fez logo Maria Antônia passar por isso? Colocou a personagem para esbarrar a mão no pênis de Charles, se sentir excitada por isso e ainda "tirar vantagem" esfregando os seios nele, os levantando. "Toda pessoa é diferente" ela disse esquecendo que estamos falando de uma personagem, de uma situação que ela mesma escreveu. Ela escolheu tratar a minha situação e de tantas outras pessoas como um mero capítulo meia boca de drama. Ela escolheu fazer isso para nem meses fazer os personagens transarem como coelhos em cenas de péssima escrita de alguém que provavelmente tem 50 tons como livro de cabeceira.
Eu sei dos meus direitos, a ausência de gatilho e o gatilho que me foi oferecido eram o suficiente para eu oferecer um processo. Mas quem eu queria que processasse mesmo era Charles Leclerc, que dificilmente autorizou ser associado ao marketing disso, porém, caso um milagre tenha acontecido e essa mulher tenha pago milhões pelo uso de sua imagem, era melhor ter investido esse dinheiro em um ghost writer, eles saberiam escrever com responsabilidade.
Na verdade, sendo bem sincera, eles saberiam escrever. Literalmente.
Sim, autora é assim que se usa literalmente de forma adequada. Não, você não pode usar pleonasmo como advérbio.
O meu conselho? Apague e finja que não existiu. Daria parabéns pela coragem, mas escrever uma coisa assim não é coragem, é insensibilidade. Você quer lucrar com gatilhos dos outros, com o seu próprio fetiche e se chama escritora enquanto tem várias autoras independente as quais você é a sua panelinha ridícula deprecia por não colocarem "hot" nas narrativas, como vocês soubessem escrever algo além de "gostosa" e "nossa garota você é muito apertada" como se homens fossem aqueles bonecos que você aperta a barriga e ele fala uma frase para agradar meninas de 15 anos. Leclerc é um ótimo piloto que passou por muitas coisas na vida pessoal e profissional, ele merecia algo melhor do que isso. Qualquer pessoa merece.
Você usa pautas políticas para parecer profunda nesse livro só que é rasa. A tua escrita é de uma adolescente. O modo como esse livro é divulgado é de uma adolescente que passa o dia no wattpad procurando hot para ler.
Eu me sinto enojada, doente mesmo ao lembrar disso e faço questão de colocar minha indignação para fora. Não há nada como uma mulher furiosa.
Conclusão? Driven to you deveria dirigir para qualquer lugar que não seja publicado. O motorista? Perdeu o controle do carro. Bad Max? Virou obra prima. E eu? Sai engatilhada mas me sinto um pouco melhor de escrever isso, e me sentirei ainda mais se meu desabafo servir para menos pessoas lerem esse pedaço de qualquer coisa genérica que a autora decidiu chamar de livro e achou que ninguém iria notar.
XOXO