Bel-Ami

Bel-Ami Guy de Maupassant




Resenhas -


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Yeda 06/09/2022

Uma crítica que esqueceu de criticar
Bel-Ami não é uma crítica à sociedade, por mais que o autor possa ter tentado. No lugar disso, temos apenas um homem(que representa vários homens da sociedade) invejo, indisplicente, autocentrado e egoísta. Apesar de ser mencionado que há uma análise sobre a burguesia durante a Terceira República, o leitor vê muito pouco disso. Há um nível desconcertante de "self-insert", uma necessidade de reiterar o valor do protagonista que torna o romance monótono, já que o próprio não tem quase dimensão nenhuma.

De acordo com a sinopse, Georges Duroy tenta subir a escada da sociedade através das mulheres, mas pela leitura, parece mais que ele tem diversos affairs como ato de vingança contra a sociedade que ele não faz parte e uma forma de acariciar seu próprio ego. As vantagens que ele recebe das mulheres que conquista são consequências, já que Georges não toma boas escolhas. Ele não é inteligente, perspicaz ou centrado, mas sim, indulgente, preguiçoso e obcecado com os prazeres da carne e do dinheiro; seu último ato é o único que pode ser considerado uma artimanha, e bem sucedida.

Inicialmente, o livro é interessante e prende o leitor; da metade para o fim da leitura tudo se torna repetitivo e do começo ao fim há um tom monótono. Tudo é sobre Georges, e como ele é uma personagem egoísta, faz sentido que toda a história seja focada em sua necessidade de se autoafirmar; mesmo assim, é cansativo de ler em diversos momentos. Poderia haver certa criatividade ou até mesmo dificuldade nas tentativas românticas de Duroy, no entanto, não houve. Suas ações são iguais com todas as mulheres. De novo, essa era a intenção e o fato de que ele tinha sucesso em todas as vezes demonstra a futilidade e o tédio das mulheres da sociedade; ainda assim, seria muito mais interessante se mostrasse a perspectiva das mulheres, pelo menos um pouco.

Um "ponto" que acho que valha a pena ser discutido e não pode passar batido é o quanto o livro é explícito. Apesar de não detalhar as cenas de sexo, a luxúria e o desejo são explícitos e expressos constantemente. DIferente dos livros da época, onde tudo era escrito de forma subliminar, tudo percebido "entrelinhas", em Bel-Ami, quase nada fica para imaginação. Não é como se houvesse algum tipo de progressismo nesse livro, mas ele é um dos artifícios para mostrar o quanto Duroy era "desprezível" e a própria burguesia, que se orgulhava de sua moral era hipócrita. Esses trechos tinham muito mais a dizer do que todo o romance. Especialmente por causa disso e das personagens que são seduzidas por Duroy é que o romance não é de se jogar fora(por inteiro) e tem mérito. Também por causa disso a história não é desprovida de valor e é interessante até certo ponto.


Faltou a perspicácia e a acidez de Balzac, a sensibilidade de Flaubert e a desenvoltura do próprio autor(vista em seus famosos contos). Acredito que não é um romance sobre a burguesia e seus costumes, pois isso acaba se tornando a paisagem de uma trama que gira em torno da única característica que muitos homens que queriam ser grandes compartilhavam. Mesmo sua raiva e sua inveja direcionadas à sociedade não são exploradas de forma a contentar quem lê, tudo fica em segundo plano ou é relacionado ao seu próprio ego de alguma forma, mesmo a colonização da África.

Não odiei o livro, achei que teve seus méritos(como disse antes)especialmente em dissecar "esse tipo" de pessoa. No entanto, inúmeras páginas apenas sobre isso tornaram o livro um pouco entediante; havia diversas personagens incríveis que trouxeram um brilho necessário à narrativa, mas elas eram constantemente deixadas de lado. Uma dessas personagens era Mme. Forestier, uma mulher de fibra, muito interessante e diferente das mulheres escritas por autores do século XIX. Forte, inteligente e determinada, não era submissa aos seus maridos, tendo um plano de vida e sendo extremamente esperta. E claro que a narrativa não favoreceu uma das personagens mais interessantes que eu já li em romances franceses escritos por homem. Não posso deixar de mencionar o incrível monólogo do poeta Norbert de Varienne sobre velhice e morte; esse capítulo foi de longe o mais brilhante, delicado e sublime.


Por fim, o final deixou a desejar, claro. Se fosse coerente, se o autor não fosse tão "apegado" a Georges, poderia ter sido um final muito, muito bom. Mas, creio que o ego venceu.
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