Douglas 19/11/2023
Os Cem Anos de Lenni e Margot
(Resenha também disponível no meu Instagram literário: @doug_reads)
"Viver e morrer são mistérios e não dá para saber sobre eles até passar pelos dois."
Lenni, paciente em estado terminal, gostaria de poder dar um significado a sua curta vida de dezessete anos e deixar uma marca no mundo. Assim, ela e Margot, uma senhora de 83 anos que rapidamente se torna sua amiga, decidem pintar quadros para seus cem anos de vida nas aulas de artes que frequentam numa ala do hospital. Dessa forma, elas podem contar ao mundo os momentos marcantes de seu século de vida e imortalizá-los por meio das pinturas. E, quem sabe, fazer uma exposição com as obras, não é mesmo?
O livro tem uma sensação intrínseca de urgência, dada a situação terminal de Lenni e a avançada idade de Margot - que precisa de uma cirurgia cardíaca para poder viver um pouco mais -. Apesar disso, Lenni e Margot encontram nos meses em que a história se passa, tempo suficiente para curarem algumas de suas feridas e de buscarem conforto na amizade que constroem. E a maior prova de que nunca é tarde para algo mais - uma das mensagens do livro - é justamente a amizade de Lenni e Margot.
É muito comovente ver as protagonistas descobrirem, naqueles que as rodeiam no hospital, pessoas que rapidamente ganham nosso afeto, a ponto de serem consideradas como família. Lenni encontrou em Margot uma mãe de verdade que não teve e no Padre Arthur, uma figura paterna; Margot, uma mãe que perdeu o filho recém-nascido, encontrou em Lenni uma filha que gostaria de ter visto crescer. E a conexão entre elas é tão profunda, bonita e natural que este sentimento de família soa verdadeiro e certo para o leitor.
Existe uma outra discussão no livro que é o eterno debate entre os acontecimentos na nossa vida, bem como as pessoas que vemos surgirem, serem frutos do acaso ou simplesmente do destino. Margot teria conhecido Lenni se não fosse a coincidência ocorrida no episódio da carta? Ou então Lenni estava destinada a conhecer Margot, e o episódio da carta foi apenas uma forma de isso acontecer? Fica a reflexão - e tudo bem se não encontrar uma resposta definitiva, pois a beleza dessa discussão mora justamente ai.
Marianne Cronin deixa claro desde a sinopse a inevitabilidade que permeia a história, e em momento algum alimentou esperanças de uma reviravolta milagrosa. O livro é triste e pesado em alguns momentos, mas também possui amor, amizade, afeto, risadas - pois mesmo num hospital ainda há vida. Espere, portanto, um livro coerente e “pés no chão” em relação a seus objetivos. Quanto ao leitor, embora ele acredite estar preparado, ainda sim será atingido em cheio quando a hora chegar - digo isso por experiência própria, pois chorei muito com a reta final da história.