Léia Viana 02/03/2022
Historicamente rico. #12livrospara2022
"Aquela máquina de escrever não detonou o meu destino"
Toda continuação dá ao leitor dois tipos de expectativas: amar a continuação a ponto de considerar a obra inteira impecável, ou, encontrar tantos defeitos a ponto de concluir que era melhor permanecer apenas com o primeiro livro.
Quando soube da continuação de "O Tempo Entre Costuras", fiquei ansiosa para saber qual reviravolta aconteceria na vida de Sira, como seria sua vida pós segunda guerra mundial - outra curiosidade, leio tanto a respeito da guerra que sei muito pouco sobre o seu pós - e este livro foi um presente duplo, tanto tê-lo ganho quanto sido presenteada com uma continuação primorosa.
Enquanto no "O tempo Entre Costuras" tinha como pano de fundo a Guerra Espanhola e a segunda Guerra Mundial, em "Sira" temos o pós segunda guerra, a reconstrução, a fome, escassez de recursos, mulheres tomando a frente de papéis dentro da sociedade que eram considerados masculinos, afinal, boa parte dos homens jovens morreram na guerra e os países precisam recomeçar.
Acompanhamos o início da narrativa com Sira em Jerusalém, mais precisamente na Palestina, e, é exatamente nesse início que reforço que não tem como ler esse livro sem ter lido o primeiro, porque é através da leitura do primeiro que você entenderá o que ela faz em Jerusalém.
É final de 1945, pós guerra, Jerusalém está um caos completo, com a Inglaterra tentando controlar, o judeu sem pátria tentando recomeçar ali e o povo árabe com medo de perder sua terra e o controle sobre ela, temos bombardeios e ataques de um lado e o povo tentando retomar suas vidas do outro.
Essa é uma das partes do livro mais emocionante, mas não somente por essa parte, mas também pelo que a personagem passa até a sua chegada em Londres, depois Madrid e finalmente a cidade do Marrocos: Tânger, são por esses lugares que a protagonista nos conta a sua história, os dramas são rápidos, assim como a tristeza, que não é fugaz, mas é contida porque é necessário seguir em frente.
Ataques políticos, toque de recolher e Eva Perón. Quando cheguei nessa parte do livro sobre Evita parei e comecei a pesquisar a respeito dela; um conflito armou-se dentro de mim. Enquanto as pesquisas que fiz retratava uma primeira dama atuante, segura e muito engajada politicamente, em "Sira" a descrição não correspondia tanto com a imagem que a narrativa dessa obra me passava. Mas foi só avançar na leitura que percebi que após algumas páginas Eva Perón ganhava mais força e se tornava exatamente o que tinha pesquisado.
Mas esse livro maravilhoso não aborda só tudo isso, tem mais: temos o surgimento do rádio, como um grande veículo de comunicação do mundo, assim como questões sobre maternidade, perdas, recomeços e romance. É este o diferencial dos dois livros, o romance existe e está lá, mas a narrativa em si não ganha força com ele e independe dele para ser uma excelente obra.
Eu amei essa continuação, apenas considero a parte do banheiro um exagero, mas o trabalho de pesquisa do mundo pós guerra foi muito bem feita e a narrativa muito envolvente.
Leitura recomendada!