Aione 02/09/2021Sira é a continuação de O Tempo Entre Costuras, de María Duenãs, publicados no Brasil pela editora Planeta. A obra acompanha a jornada da protagonista Sira após o término da Segunda Guerra Mundial, retratada no primeiro livro — que foi, inclusive, adaptado como série.
Após concluir suas tarefas como colaboradora do Serviço Secreto Britânico, Sira só pensa em levar sua vida com tranquilidade. Porém, uma reviravolta em sua vida a colocará em situações bem diferentes do imaginado, arrastando-a mais uma vez para um meio ao qual ela julgava não mais precisar retornar.
Começo a resenha adiantando que esse foi meu primeiro contato com a escrita de María Duenãs, de maneira que não li O Tempo Entre Costuras. É possível ler Sira de forma independente, já que todas as informações prévias necessárias para a compreensão da história são dadas. Contudo, a leitura certamente terá mais impacto se precedida do primeiro volume, uma vez que nele são criados os vínculos com os personagens e, quando eles reaparecem na continuação, trazem consigo uma carga emocional que, no meu caso, estava em construção.
De qualquer maneira, ainda assim pude apreciar a leitura e me encantar pelo trabalho de María Dueñas. Sira é dividido em quatro partes, cada uma centrada em uma diferente região: Palestina, Grã-Bretanha, Espanha e Marrocos. Se não bastassem as descrições culturais e de cenários, que possibilitam uma total imersão nesses lugares, a obra é muito bem contextualizada historicamente. Assim, mesmo sendo um livro de ficção, vemos fatos reais misturados à trajetória da protagonista, o que torna tudo ainda mais envolvente. A questão política é central na trama, o que proporciona uma boa compreensão do panorama mundial naquele momento — e que, em grande parte, impacta os dias atuais, já que estamos falando de relações imperialistas e de dinâmicas de poder com consequências que ainda afetam inúmeros países.
Em termos narrativos, María Dueñas é daquelas capazes de criar momentos intensos e emocionantes sem recorrer a uma escrita sentimental — a cena final da primeira parte de Sira foi uma das mais impactantes que li nos últimos tempos. Ainda, as reviravoltas na história ajudam a manter o interesse no enredo, além do clima de tensão. Sobre as personagens, mesmo que a principal construção de maior parte delas aconteça em O Tempo Entre Costuras, pude me afeiçoar às que estão ali para nos cativar e antipatizar com as que estão nesse espectro. Sira é uma mulher fascinante, seja por seu magnetismo e perspicácia, seja por sua força e determinação. O fato da narrativa se dar em primeira pessoa, por sua perspectiva, nos torna ainda mais próximos dela.
Em linhas gerais, adorei conhecer o trabalho de María Duenãs através de Sira. Foi uma leitura rica em informações e em sua contextualização, seja histórica ou de cenários, e que cativa, também, por sua mescla de gêneros: romance, drama, suspense, ação. Fiquei curiosa pela leitura de O Tempo Entre Costuras e imaginando o quão extraordinária deve ser a experiência de imergir nas duas obras, uma seguida da outra.
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