Ana Luiza 18/10/2021Recomendo duplamente a leitura, mas sugiro escolher pelas horas que ainda há sol!Do mesmo autor de Vozes do Joelma, Tiago Toy entrega neste livro tudo que um amante de terror psicológico pode gostar. Com enredo fluído e poético, Fantasmas consegue te puxar pelos pés e arrastar para o fundo de Monte do Calvário.
Sabe quando você lê algo e a descrição consegue te colocar dentro da cena? Em vários momentos minha imersão na história foi tão profunda que eu terminei os capítulos impregnada com os sentimentos dos personagens. Fui de um medo instintivo do desconhecido para a ansiedade em querer saber o que iria acontecer, porque tudo encaminha-se para algo beeem ruim.
Um ponto forte do livro são os personagens. Longe de ter personalidades rasas, o autor entrega pessoas que não são nem completamente boas e nem completamente ruins, com desejos e traumas reais, fáceis de entender, sem precisar de diálogos expositivos. Mostrar em vez de falar ou fazer o narrador ficar puxando explicações longas no meio de uma cena contribui muito para a sensação de terror que permeia todo livro e a nossa suspensão da descrença. Você sente que nem tudo está sendo mostrado para você e pelos cantos dos olhos, você vê algum vulto logo adiante.
A história já começa com uma cena estranha que faz muito jus ao título do livro. Desde o primeiro capítulo, somos jogados no meio de uma trilha. Pode parecer um pouco confuso este início, mas essa sensação colabora com o clima da trama. Uma surpresa boa que descobri foi que, como a história ocorre principalmente por volta de 1990, há muitas referências pop da época. Saí do livro querendo ouvir Cazuza.
Muito além do terror psicológico, a narrativa traz camadas que não estão na premissa. Desde o uso de Victoria para falar sobre sonhos de uma pessoa que quer sair de uma cidade pequena para ganhar a vida na capital e de Barão, homem que se dedicou a vida toda para o “patrão” aceitá-lo, até sobre crimes socioambientais causados pela exploração, as mensagens nas entrelinhas do autor são claras e objetivas. O que torna muito pertinente para nosso momento atual e futuro.
Aviso importante sobre a edição: Fazia tempos que eu não lia um livro tão bem feito e caprichado com capa de brochura. Na contra mão do pessoal que só gosta de livros de luxo, acho que a edição da Farol Editorial, junto com todos os profissionais envolvidos, entregam nesse livro quase um cenário para a aventura da história. Desde a capa até o papel, tudo nele é primoroso.