Quatro peças

Quatro peças Anton Tchekhov




Resenhas - Quatro peças


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Marcia.Santos 17/12/2021

Quatro peças
Uma leitura que me perdi nos sentimentos... ao ler estas peças de um dos maiores nomes da literatura mundial.
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Pandora 11/09/2023

Isto aqui ficou uma bagunça, tudo menos uma resenha, mas vai assim mesmo. :D

Meu primeiro e único contato com Tchékhov havia sido há mais de 20 anos quando li As três irmãs para prestar provas no Sated. Por sorte, após tanto tempo eu não lembrava mais nada, então pude lê-lo como se fosse a primeira vez.

Anton Tchékhov viveu muito pouco - 44 anos -, morreu em decorrência da tuberculose, mas além de escritor e dramaturgo era médico; aliás, ele dizia que “a medicina é minha legítima esposa; a literatura é apenas minha amante”. [1] Escreveu peças, ensaios, novelas e contos e as quatro peças contidas neste livro são as mais famosas, encenadas por várias companhias no mundo todo, inclusive no Brasil.

Não vou escrever a sinopse de cada peça, só dizer que todas se passam em propriedades rurais no final do século XIX na Rússia (exceto As três irmãs que se passa numa vila militar do interior), época do último czar, Nicolau II e de modificações que resultaram na Revolução Russa em 1917. Até a modernização no Império efetuada a partir do governo de Alexandre II (1855-1881), o país era essencialmente agrário; os nobres, donos de terras, em sua maioria, não tinham o mínimo interesse por elas a não ser pelos ganhos que delas poderiam obter. Muitos deles viviam nas grandes cidades, Moscou ou São Petersburgo, ou até mesmo no exterior; alguns nunca tinham nem pisado nessas propriedades. Elas eram tocadas por um administrador contratado, o que podia resultar em roubo, má administração, ou até poderiam prosperar, mas enfim, como diz o ditado, “o olho do dono engorda o gado”. Os servos viviam em situação deplorável, eram iletrados, passavam fome, eram humilhados e maltratados.

Com o fim da servidão, em 1961 (ainda no governo de Alexandre II), houve um certo movimento em direção às cidades, mas lá a situação de desigualdade também era muito grande. Aliás, tanto Alexandre III, pai de Nicolau II, quanto o próprio Nicolau eram mais conservadores que seu antecessor Alexandre II; várias das reformas liberais realizadas por ele foram revertidas após sua morte. E não ajudou em nada o massacre que veio a acontecer em 1905 em São Petersburgo, quando uma marcha pacífica ao palácio real foi recebida com tiros pela Guarda Imperial. Bem, mas Tchékhov tinha morrido no ano anterior, vamos voltar.

Nestas quatro peças, escritas entre 1895 e 1904, elementos da vida do autor podem ser vistas em todas elas. Por exemplo, em quase todas há um médico, que em A gaivota é a figura de mediação, em Tio Vânia um ambientalista já preocupado com o futuro do planeta, em As três irmãs um inquilino alcoólatra e solitário. Em O Jardim das Cerejeiras há a figura de um comerciante rico e bem sucedido, filho e neto de servos, que em situação superior aos nobres falidos, tem condições de comprar-lhes a propriedade. O avô de Tchékhov foi um servo, seu pai era um pequeno comerciante que faliu, mas Tchékhov conseguiu estudar com bolsa e posteriormente, pagando os próprios estudos com os mais variados trabalhos, tornou-se bem sucedido tanto quanto médico quanto como escritor. Ele chegou a ser o responsável econômico por toda a sua família.

Trabalhando como médico, Tchékhov pôde transitar entre nobres e camponeses, estes últimos aos quais atendia de graça, assim como na escrita e na dramaturgia, esteve próximo de artistas e da chamada intelligentsia, trazendo estas pessoas com propriedade como personagens em seus escritos. Era um grande conhecedor da natureza humana. Numa época de grandes (em ambos os sentidos) romances russos, Anton inovou ao escrever contos curtos, em linguagem mais enxuta e peças que tratavam do cotidiano onde a pausa, o silêncio e o subtexto eram essenciais; onde os grandes acontecimentos ocorriam fora de cena.

Uma coisa interessante é observar que as peças estão no livro em ordem cronológica e isto é importante para se acompanhar as mudanças no cenário da Rússia daquele tempo. Em A Gaivota (1896), Arkádina, a proprietária, que também é uma grande atriz, tem dinheiro, mas seu irmão, aposentado, e seu filho, que vivem na fazenda, não. No entanto, o administrador tem uma vida muito confortável e é quem manda e desmanda; já em Tio Vânia (1897), Serebriakóv, o proprietário, sai de Moscou e volta para o campo após a aposentadoria, porque os ganhos atuais são menores, bem como o seu prestígio. Até então, sua filha e seu cunhado é que administram a propriedade; no entanto, eles ficam só com um pequeno salário, mandando os lucros para Serebriakóv. Já em O Jardim das Cerejeiras (1904), a propriedade é dos irmãos Liubov e Gáiev; ela passa cinco anos na França e o irmão não está aí com nada; a filha mais velha é quem administra as terras, mas já não há produção, os poucos empregados que restaram passam fome, os donos estão prestes a perder tudo num iminente leilão. Neste último conto existe a figura de um professor que já discute ideias socialistas.

As três irmãs (1901) é uma peça um pouco diferente das demais, pois se passa numa cidadezinha para onde o pai das protagonistas, agora falecido, que era militar, fora transferido. É a peça onde o passar do tempo é mais marcante. Olga, Macha e Irina, além de seu irmão Andrei, foram criados em Moscou e as moças sonham em voltar a viver lá. A história começa com a animação das irmãs ante a iminência de voltarem a viver na capital, mas ao longo da história, há uma série de impedimentos e frustrações. É um texto complexo, que discute não só anseios pessoais como o futuro da humanidade. É importante também saber que os militares vinham de famílias abastadas e que naquele momento, a Rússia passava por grandes transformações sociais e econômicas, em que os aristocratas, sempre privilegiados, encontravam-se frustrados e sem saber como agir diante das mudanças.

Enfim… todas as quatro peças são muito boas e levam à reflexão. São o tipo de texto que pode ser lido e relido que sempre trará um detalhe a mais, uma nova discussão. Por ora, minha preferida é O Jardim das cerejeiras; nela um ciclo se fecha. No ano de sua estreia Tchékhov falece.

Até hoje há inúmeras montagens teatrais das peças de Tchékhov. Vou me ater a algumas produções em vídeo:

A GAIVOTA
The Sea Gull, filme de Sidney Lumet - 1968
The Seagull, filme de Michael Mayer - 2018

TIO VÂNIA
Uncle Vanya, filme de Franchot Tone e John Goetz - 1957
Uncle Vanya, filme de Stuart Burge e Laurence Olivier - 1963
Ujka Vanja, filme para a TV de Jerzy Antczak - 1970
Uncle Vanya, filme para a TV de Gregory Mosher para a BBC - 1991
Drive my Car, filme de 2021, dirigido por Ryusuke Hamaguchi, é baseado num conto de Murakami, mas tem grande relação com a peça, encenada dentro do filme.

AS TRÊS IRMÃS
Não encontrei nenhuma adaptação direta, mas há um filme turco de 2019, O conto das três irmãs (Kiz Kardesler), de Emin Alper, que segundo crítica de Kel Gomes no Cinematório, “não é uma adaptação direta da peça. Ainda assim, remete a ela e traz alguns diálogos com a própria arte teatral se observarmos o modo como o filme se dedica aos diálogos e como faz a composição de corpos em cena na interação em pequenos espaços”. É descrito como ‘uma obra única que combina Tchékhov e os Irmãos Grimm’, pelo Hollywood Repórter.

O JARDIM DAS CEREJEIRAS
The Cherry Orchard, filme para a TV de David Zwec - 1973
The Cherry Orchard, filme de Richard Eyre - 1981
Il giardino dei ciliegi - filme de Antonella Aglioti - 1992
The Cherry Orchard, filme de Mikhales Kakoyannes - 1999

Obs.: As datas das peças levam em consideração a primeira vez que vieram a público.

[1] Fonte: Wikipédia.
Marcia 11/09/2023minha estante
Quero ler logo!


Pandora 11/09/2023minha estante
É muito bom, Marcinha!




Peter.Molina 11/03/2024

Fiz o que pude, façam melhor os que puderem
Esse livro contém 4 grandes peças do teatro de Tchekhov: A gaivota, que fala sobre um simbolismo mortal; Tio Vânia e a desesperança de uma vida sem sentido; Três irmãs,poética e truncada, e a magnífica Jardim das Cerejeiras, explorando o tema da decadência. Tive dificuldade em me adaptar ao ritmo do autor, com o texto repleto de pausas e muito cadenciado, e Tb em relação aos nomes dos personagens, que são nomeados no texto todos em russo, e não pela função deles, tendo que recorrer à listagem geral por várias vezes. Não é um texto fluido, porém, depois que nos afinamos com o autor, é impossível não sentir o desespero ,a angústia e a emoção sombria em vários personagens e situações. A ultima peça nos leva a uma emoção muito intensa. Um livro que merece ser degustado aos poucos, e é bom ter algum breve conhecimento do período histórico russo daquela época para entender o contexto entre nobres e mujiques.
Fabio 13/03/2024minha estante
Adorei a resenha, Peter!
Com certa vergonha, confesso que não conhecia essa obra do Tchekhov, mesmo sendo uma apaixonado pela literatura russa. Mas vou reparar, e coloca-lo imediatamente na minha lista de leitura desse ano!


Peter.Molina 13/03/2024minha estante
Obrigado Fabio! Pensei que vc conhecia,vi que vc gosta do autor porque no seu perfil destacou uma frase dele. Este livro é muito bom, tem suas particularidades, mas merece a leitura com certeza.


Fabio 13/03/2024minha estante
Eu conhecia as peças, Peter. Três delas pelo menos, mas eu não sabiam que haviam sido condensadas em um volume único.
Sobre o Tchekhov, não só gosto, como já estudei algumas de suas obras, e que para mim está somente um degrau abaixo dos conterrâneos Tolstoi e Dostoieviski.




Leila 20/08/2023

Quatro Peças é uma coleção de peças teatrais escritas pelo russo Anton Tchekhov. Essas peças, caracterizadas por sua profundidade psicológica e observação aguçada da sociedade, proporcionam uma visão cativante da vida russa no final do século XIX. A coletânea inclui obras icônicas como "A Gaivota", "Tio Vânia", "As Três Irmãs" e "O Jardim das Cerejeiras", cada uma oferecendo um olhar único sobre os dilemas humanos e as mudanças sociais da época.

Em relação à experiência da leitura, é interessante observar como a perspectiva do leitor pode evoluir ao longo do tempo. No caso da primeira peça, "A Gaivota", foi uma releitura para mim e é compreensível que a primeira experiência de leitura tenha sido mais impactante, como é frequentemente o caso com as primeiras incursões em uma obra literária. O encanto inicial pode ter sido impulsionado pelo frescor das ideias e até mesmo do gênero, visto que na época em que a li (2016) não havia lido ainda muitas peças. Lembro que fiquei simplesmente encantada com a obra lá atrás e agora na releitura, simplesmente gostei e não amei como tinha na memória.

Das quatro peças lidas agora, minha preferida foi "O Jardim das Cerejeiras". Esta peça é um exemplo notável do talento de Tchekhov para explorar os desafios enfrentados pela aristocracia russa em um período de mudança social. A decadência da aristocracia e a luta para manter um modo de vida obsoleto são temas centrais da obra, e essas preocupações também são compartilhadas por obras como "Oblomóv" de Ivan Goncharov e "Almas Mortas" de Nikolai Gogol. Essa preferência é bem fundamentada, uma vez que essas obras abordam o mesmo contexto histórico e fornecem uma visão abrangente das tensões da sociedade russa em transição.

Enfim, Quatro Peças de Anton Tchekhov é uma coleção atemporal, peças que continuam a ressoar com os leitores de hoje, bastando trazer os temas para os nosso tempos. Gostei e indico fortemente.
Karine Saul 20/08/2023minha estante
Gostei da indicação, vou ler!!!


Marcia 20/08/2023minha estante
Me interessou, quero ler


Leila 20/08/2023minha estante
leitura fluida e bem gostosa. Vale a pena




Stella F.. 11/08/2023

Decadência e Migração para o Campo
Quatro peças
Anton Tchékhov - 2021 / 368 páginas - Penguin Companhia

Esse livro é composto por quatro peças escritas por Tchékhov (A Gaivota, Tio Vânia, Três Irmãs e O Jardim das Cerejeiras) quando estava vivendo no campo por tratamento de saúde. A temática do campo em contraponto à cidade estará presente em todas as peças, que tem tradução, apresentação e notas de Rubens Figueiredo. A cada peça desse livro, há uma explicação inicial de quando foi escrita, como foi sua apresentação e onde, se fez sucesso, quais os argumentos do autor, suas revisões, suas insatisfações e explica um pouco do enredo e dos personagens e da primeira montagem. Muito interessante!
Aqui abaixo vou fazer um pequeno destaque no que achei interessante em cada uma delas, principalmente o que diferencia uma da outra.

A Gaivota (1895) (histórico no Instagram @stella.livros.coloridos e no Skoob)
Assim como em "Pais e Filhos" de Turguêniev, Tchékhov vai falar que o "sistema de propriedade rural na Rússia passava por uma transformação profunda. Os herdeiros dos antigos senhores de terra, remanescentes da nobreza agrária tradicional, pouco zelavam por suas fazendas. Em apuros financeiros, acabavam cedendo lugar a proprietários capitalistas e à implantação de um novo regime fundiário." (pg. 19)
O diferencial para mim nessa peça é a montagem de uma peça dentro da outra como em Hamlet. Escrita deliciosa, com várias citações de Turgueniêv e outros russos, além de citações de músicas.
Um verdadeiro estudo sobre as relações humanas, sobre seus desencontros, amores, insatisfações, e a cultura de uma época. Muito interessante são as análises sobre o teatro, o que é um bom teatro, uma boa escrita, o que é aceito, e como o novo é sempre difícil de se instalar.
“No entanto, entre diálogos triviais, aspirações e desavenças corriqueiras, apenas rompidas por reflexões nada idealizadas sobre a atividade do artista, uma crise obscura se avoluma pouco a pouco. Um desajuste sutil impede que os personagens entendam uns aos outros e subtrai de cada um a compreensão do que eles mesmos desejam e pensam. Esse desajuste e essa crise muda fazem as vezes de uma estrutura para a peça, soldam as partes que parecem à deriva. Ao mesmo tempo, permitem pressentir o que corre por baixo das camadas de banalidade e de frustração.” (pg. 18)

Tio Vânia (1896) (histórico no Instagram @stella.livros.coloridos e no Skoob)
Assim como na anterior, vemos os personagens se deslocando para o campo, por falta de dinheiro, e por isso, caem socialmente e são esquecidos. Aqui o personagem Serebriakóv, um professor aposentado, está sempre dormindo tarde, escrevendo, passeando, e passou a viver no campo, porque não é mais famoso, todos o esqueceram e se ressente disso. Elena, esposa do professor, tem apenas 27 anos, sendo sua segunda esposa. O personagem Vânia já vive na propriedade cuidando dela, e é uma pessoa ácida, irônica e sarcástica. E o médico, Ástrov, que é defensor da floresta e do meio ambiente.
Como em todas as peças vamos saber de insatisfações, desencontros amorosos, desejos insatisfeitos de ser outra coisa do que conseguiu ser e sempre o anseio de viver novamente na metrópole.
A peça Tio Vânia trouxe como diferencial para mim a questão do meio ambiente e da relação dos homens com a natureza. Muito interessante as colocações sobre meio ambiente que Tchékhov já faz aqui, sobre preservar a natureza, sobre a influência do homem.
"O homem foi dotado de razão e de força criadora para multiplicar aquilo que lhe foi dado, mas até hoje ele não criou, apenas destruiu. As florestas ficam cada vez menores, os rios secam, os animais selvagens desaparecem, o clima se deteriora e, a cada dia, a terra fica mais pobre e mais feia." (pg. 121)
Em termos de relações pessoais, vemos um desejo de infidelidade, que não se configurou, e fala-se muito também da vida acadêmica, da teoria, e esquece-se de viver a vida ali, todo dia, na relação direta com as pessoas.
"A senhora parece uma pessoa boa, sincera, mas também parece haver alguma coisa estranha em toda sua maneira de ser. Veja, a senhora e seu marido chegaram aqui e todos que viviam atarefados, trabalhando, construindo alguma coisa, tiveram de abandonar seus afazeres e, durante o verão inteiro, foram obrigados a se ocupar apenas com a gota do seu marido e com a senhora. Vocês dois, seu marido e a senhora, contaminaram a todos nós com sua ociosidade."

As Três Irmãs (1900) (histórico no Instagram @stella.livros.coloridos e no Skoob)
As irmãs são Olga, Macha e Irina. Estão comemorando o aniversário onomástico (da santa do dia do nascimento) de Irina. Elas têm um irmão chamado Andrei Prózorov. Ele namora Natacha. Recebem vários oficiais militares em casa. O pai delas era militar. Aqui há um certo preconceito pelos civis na fala de alguns personagens.
Assim como nas outras peças há a discussão sobre o campo e a cidade, sempre tem um personagem que é chato, inconveniente, e amores não correspondidos ou em vias de começar. Ficamos sabendo ao longo da peça de dois casamentos falidos, onde as esposas recorrem a amantes, e os maridos sabem ou fingem não saber, e as desculpas. Acham que casamento é assim mesmo. "Minha linda Macha, minha boa Macha. Você é minha esposa e eu estou feliz, aconteça o que acontecer. Eu não me queixo, não faço nenhuma censura a você. Vamos recomeçar a viver como antigamente e não direi nenhuma palavra, não farei nenhum comentário." (pg. 277)
E é muito premente a insatisfação em suas profissões. Tem cargos importantes, mas queriam ser outra coisa, o seu desejo foi recalcado, mas sempre volta à superfície.
As irmãs têm um desejo enorme de voltar para Moscou. E o irmão Andrei, hipoteca a casa no jogo, em que é viciado. Vieram da cidade para o interior, e não sabendo o que fazer, acabam piorando a situação.
"Ah, onde está, para onde foi meu passado, aquele tempo em que eu era jovem, alegre, inteligente, quando eu sonhava e pensava com elegância, quando o meu presente e o meu futuro eram iluminados pela esperança. Por que nós, mal começamos a viver, logo nos tornamos maçantes, cinzentos, sem graça, preguiçosos, indiferentes, inúteis, infelizes." (pg. 272)
Há um duelo entre dois militares que gostam de uma das irmãs, Irina. As mulheres que só souberam do duelo a posteriori, ficam tristes, mas ao mesmo tempo quando ouvem uma música decidem que querem viver e ser felizes.
Divagam novamente, sobre o tema que acho central nessa peça: nossa importância no mundo, nosso legado. "O tempo vai passar e nós vamos partir para a eternidade, as pessoas vão esquecer de nós, vão esquecer nossos rostos, nossa voz, vão esquecer quantas éramos, mas nossos sofrimentos vão se transformar em alegria para aqueles que viverão depois de nós, a paz e a felicidade vão reinar na terra, e aí dirão palavras boas e cheias de gratidão àqueles que estão vivendo hoje." (pg. 281)"

O Jardim das Cerejeiras (1903) (histórico no Skoob)
"O título da peça já indica uma das maneiras como Tchékhov explorava problemas novos com formas novas. A natureza - o jardim das cerejeiras - vale como objeto de contemplação estética para os antigos proprietários, que incorporam a beleza da paisagem à imaginária grandeza da saga familiar. A propriedade em si é algo tão estabelecido na tradição que qualquer ameaça a esse direito parece irrisória. Por isso, para eles, o jardim das cerejeiras se configura como uma imagem mítica, fora da história, um espaço onde se veem fantasmas e se ouvem sons misteriosos. (pg. 287)"
Os proprietários têm dívidas e o jardim das cerejeiras é leiloado e comprado pelo comerciante amigo da família. Todos ficam tristes, e ele feliz de ter uma mansão em que seu avô e pai foram escravos. A mãe apesar de não ter dinheiro está sempre gastando o que tem. O eterno estudante, cheio de filosofia de que está acima do amor; o velho criado fica doente; o irmão vira funcionário de banco e sempre fala da sinuca, um tipo de cacoete; a governanta que faz mágicas; o senhor de terras que é desastrado, sempre acontece algo com ele; a filha mais nova gostou de ter uma nova vida; a adotada, que cuidava da casa, e esperava a declaração do pretendente continuou esperando.
O Jardim das cerejeiras seria um lugar de permanência nas raízes, na vida no campo, mas sem ele, ficam perdidos e tem que ir em busca de um novo estilo de vida. Era o que os prendia ao campo. A ideia do novo proprietário é construir casa para turistas. Para ele nada que não dá dinheiro serve. Ao final, antes de irem embora, ele já está destruindo o jardim.
Recomendo procurar essa indicação do próprio tradutor: Mariana da Silva Lima, No jardim das cerejeiras: Metamorfoses do drama na virada do século XIX. Disponível em: http://www.ciencialit.letras.ufrj.br/trabalhos/2006/marianadasilva_nojardim2006.pdf
Ainda podem assistir ao vídeo de considerações da Paloma Lima sobre o livro em https://www.youtube.com/watch?v=7x3C0B_hljQ&pp=ygUSNCBwZcOnYXMgdGNow6lraG92





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arthur966 14/05/2022

tenho um vazio na cabeça, um frio na alma. talvez eu nem seja um ser humano, talvez eu apenas pareça ter braços e pernas... e cabeça; vai ver eu nem sequer exista, no fundo; talvez eu apenas imagine que ando, como, durmo. ah, quem dera eu não existisse mesmo.
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Mmads 28/12/2022

Instigante
Uma leitura que me perdi nos sentimentos, ao ler estas peças de um dos maiores nomes da literatura mundial é impossível ficar imune a sentimentos diversos.
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Kérolin 23/11/2022

Quero ler tudo que o Tchékhov escreveu
Esse foi meu primeiro contato com Tchékhov, logo que terminei a primeira peça dessa coletânea, chamada a gaivota, eu percebi que estava diante de algo extraordinário.
Todas peças aqui são excelentes, a escrita do Tchékhov é muito envolvente, enquanto lia as peças, me desliguei completamente do mundo real. Outro detalhe que amei nessas peças foi o clima de tensão entre os personagens, e consequentemente, em quem está lendo, a sensação de que alguma tragédia vai acontecer é frequente.
Terminei essas peças querendo ler mais Tchékhov, se tornou uma necessidade. Sempre ouvi autores que admiro elogiando-o, agora eu entendo completamente.
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giovanna 25/11/2023

"Estou de luto pela minha vida!"
O livro reúne quatro das mais conhecidas peças de Tchékhov, e nessa leitura, tive a oportunidade de reler "A Gaivota" e "As Três Irmãs", assim como ler pela primeira vez "Tio Vânia" e "Jardim das Cerejeiras". Gostei muito das introduções à cada peça e como explicam um pouco do contexto histórico da época em que a obra foi escrita e quais alguns dos assuntos que Tchékhov quis tratar com ela. As obras do autor são realmente muito boas, e até mesmo as que eu não gosto muito, eu sou obrigada a admitir que têm um formato e um conteúdo muito brilhantes.
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JanaAna90 25/04/2024

?Quatro peças? um sentimento
As quatro peças de Tchékhov me deixou com um sentimento de encantamento com a leitura, nos aquece o coração e nos deixa feliz. Gostei de todas, embora se tivesse que escolher uma escolheria ?O jardim das cerejeiras?; mas todas são escritas de forma belíssima e nos trás uma reflexão sobre a vida, sobre o amor, sobre a torpeza que foi a servidão na Rússia.
Optei por ler uma peça por fez de um ?fôlego só?, já que a quantidade de páginas me permitia fazer isso e a leitura foi fluida nas quatro leituras.
A cada peça tem uma apresentação de Rubens Figueiredo maravilhosa e bastante importante, que enriquece ainda mais a leitura, pois nos mostra a situação do país e do autor no período que a mesma foi escrita. Quando vamos ler a contextualização fica ainda melhor para nossa compreensão e aproveitamento da leitura.
Eu amo a literatura russa e não me canso de dizer para quem não conhece precisa conhecer urgentemente é muito bom!!!
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Giovanna1533 19/07/2023

Não há palavras para descrever as peças de Tchékhov, são profundas, complexas, onde você termina refletindo e sem conseguir tirar a história da cabeça
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Gabriel.Pinage 25/07/2023

Foi uma das minhas primeiras experiências lendo peças e eu gostei bastante. Sinto que ainda tenho que me acostumar o Tchékhov em alguns pontos, mas eu gostei muito. Foi ótimo para quebrar minha ressaca literária de 3 meses.
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