Natureza e Imanência

Natureza e Imanência Fábio Rodrigues de Ávila




Resenhas - Natureza e Imanência


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Bruno Oliveira 06/12/2021

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O iluminismo francês talvez tenha sido o primeiro grande movimento filosófico em que o ateísmo teve um bom número de expoentes: Helvétius, Meslier, Diderot e vários outros. Foi algo inédito na história da filosofia, pois os ateus costumam evitar exposição até por meio de livros.

Mesmo durante o iluminismo, no entanto, o número de filósofos ateus sempre foi muito inferior ao número de teístas ─ os descrentes sempre foram a negação do regular, os estranhos ou, até mesmo, os “monstros” (Voltaire, blasfemador que era, dizia isso deles).

Talvez vivamos hoje o primeiro período em que, ao menos dentro da filosofia, o número de ateus é maior do que o número de teístas. Contudo, isso não parece ter ocorrido porque os ateus teriam vencido a discussão sobre a existência de deus, mas simplesmente porque, atualmente, a discussão soa filosoficamente morta. Ninguém a olha com empolgação e vislumbra algo novo surgindo daí. Assim, meio que entre a preguiça e a descrença, o ateísmo ganha espaço entre os filósofos.

Nesse sentido, o livro do Fábio de Ávila é sobre uma outra época e mentalidade, estranha até mesmo para um mundo filosoficamente incrédulo como o nosso. Nela, as pessoas defendiam que questões universais poderiam ser resolvidas por meio de raciocínios geniosos, e que, com um conhecimento suficiente das causas e de certos princípios racionais, assuntos como a existência de deus e a sobrevivência da alma poderiam ser decididos intelectualmente. Herança cartesiana? Com certeza, mas uma herança gerida numa direção bem distinta daquela sonhada por Descartes.

O fato é que “Natureza e imanência”, dissertação sobre o misterioso Barão de Holbach, ateu e materialista de carteirinha, apresenta o embate entre a crença e a descrença de forma muito mais interessante do que ele é em nosso tempo. Há na obra dos iluministas uma mistura entre de história, ciência, ética e metafísica que dificilmente há de se repetir, inclusive pelo tipo de educação, esforço e pretensão que ela demanda. Trata-se de uma época em que não só os debatedores acreditavam profundamente em suas palavras, como também corriam riscos só por escrevê-las ─ as fogueiras da inquisição estavam logo ali.

Nós que aceitamos displicentemente a multiplicidade de opiniões, que não matamos nem morremos por nenhuma verdade, que sequer sabemos bem de coisa alguma, estamos apartados demais desse contexto para entender a paixão contida nele, algo que torna ainda mais interessante acompanhá-lo. Mas não porque queiramos crer ou descrer, mas simplesmente para lembrar que já existiram pessoas apaixonadas e lúcidas neste planetinha. Que elas estejam mortas e não nós, eis uma ironia dos planos divinos, ou mero detalhe do acaso. Nesse caso, a escolha é de vocês.

site: www.aletraquefalta.com.br
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