Eduardo 12/10/2020
Pandemia, solidariedade e solidão
É um livro no estilo de Reinvenção da Intimidade, do mesmo autor: um compilado de textos publicados anteriormente (mas revistos para essa edição) em sites, blogs e revistas. Para quem já acompanha os escritos do autor com frequência e o seu canal no "Youtchube" talvez não encontre grandes novidades nesse livro. Não que isso seja algo ruim, Christian Dunker é considerado por muitos um dos mais importantes intelectuais públicos ativos no país. Por outro lado, acredito que cada texto isolado ganha em substância quando pareado assim em livro a outros textos, fazendo com que eles se conectem em uma visão mais ampla.
São textos curtos, tamanho que ajuda bastante para tempos de dificuldade de concentração. Alguns pontos altos do livro, para mim, são "Oniropolítica contra necropolítica", falando da necessidade de retomarmos a capacidade de sonhar novos mundos para a ação política, e "Diário do ano da peste", um capítulo de gosto amargo, em que o autor percebe, a despeito de inúmeras diferenças, uma infeliz coincidência entre certas práticas do bolsonarismo e da esquerda: certa lógica de purificação das identidades e de crítica das elites. Além disso, destaco também os diversos momentos em que o autor consegue comunicar conceitos e reflexões da psicanálise de um modo que eles parecem bastante colados à vida e à experiência, não soam como meros modelos ou formalizações redutoras.
É um bom livro de intervenção porque não apenas se debruça sobre um tema imediato da realidade, mas também porque consegue conectar esse momento a discussões que já vinham sendo elaboradas há algum tempo e que parecem ganhar nova força com a pandemia.