spoiler visualizarmaria paula 13/09/2023
As provações de apolo, sweet caroline e o que é família
Eu nunca pensei que fosse fazer uma resenha de as provações de apolo. assim como eu nunca pensei que fosse ter um skoob, mas cá estamos. eu li o riordanverse no que as pessoas costumam considerar tarde. enquanto a maioria teve seu primeiro contato com percy jackson na adolescência e assim se apaixonou por mitologia, eu fui o contrário. meu amor por mitologia me aproximou da saga.
li a primeira saga. como alguém que estuda mitologia desde criança, eu sei bem como aquilo não passava de uma grande fanfic de mitologia grega. mas foi uma leitura divertida.
divertida o suficiente pra ler a próxima. os heróis do olimpo se aprofunda mais na história, enxerga os acontecimentos com olhos mais severos de um adolescente mais maduro e apresenta personagens mais interessantes, como o jason e a reyna.
assim eu chego em as provações de apolo.
eu tinha expectativas altas. seria divertido ler o ponto de vista de um deus tão carismático. seria como assistir uma sitcom.
foi muito além de apenas uma saga engraçada.
apolo vai literalmente dos assentos luxuosos do olimpo pra uma caçamba de lixo no antro dos estados unidos. lá ele conhece meg. meg mccaffrey.
eu sabia quem era ela. já havia visto a personagem nas redes sociais.
mas não sabia que aquela menininha sem muitos hábitos higiênicos e uma grande bagagem nas costas seria a chave pro meu entedimento tão profundo dessa saga. quando costumamos consumir mídias onde há a relação entre um adulto (principalmente um de mais de 1000 anos) e uma garotinha, temos tendência a pensar que ele tem muito a ensinar a ela.
aqui vemos o contrário.
"o quanto um deus grego de mais de 1000 anos de vida pode aprender com uma garotinha mortal?" é o que rick riordan nos grita nessa saga.
meg é bruta, violenta e sincera demais. apolo é delicado, covarde e sincero demais a sua maneira. os dois funcionam mal inicialmente, como o esperado.
e é a partir da relação dos dois que se percebe que apolo não é apenas um imortal arrogante.
apolo nunca cresceu.
apolo é uma criança mimada que biologicamente cresceu demais. é crítico, egocêntrico, pedante e fútil. a simples ideia de estar no corpo de um adolescente com espinhas e um nome não muito agradável o faz iniciar um drama de, no mínimo, três capítulos.
meg acha tudo isso uma palhaçada.
ela já viu problemas maiores.
há a aparição de percy, o que me deixou desanimada. não me levem a mal, não odeio o sujeito e a atmosfera da casa de sally jackson sendo descrita novamente me trouxe a boa e velha sensação de acolhimento, mas não queria o protagonismo de apolo sendo tirado dele por muito tempo. a cena, no geral, me agradou. gosto de percy se recusando a abrir a porta, da camisa do led zeppelin e de meg sendo acolhida e agindo como a criança que ela não pôde ser.
mas me senti aliviada quando o homem tilápia foi embora.
o primeiro livro, como um todo, me disse tudo que eu precisava saber para ter em mente que aquela seria a minha saga favorita. ali já vemos apolo aprendendo o que é ter uma família pela primeira vez em 4000 anos.
o segundo livro tem muitos pontos altos. gosto da aparição de emmie e jo, sua história com as caçadoras e sua relação com apolo. gosto principalmente da trama de georgie, dos horrores que uma criança tão pequena pode ter passado devido ao abandono pela parte de apolo, do fim distante que os dois tem e do gosto amargo que isso deixa na boca. gosto com todo o meu coração do ex-relacionamento entre apolo e cômodo, de suas raízes tóxicas de ambos os lados e de como os dois terminaram de maneira trágica. ao apresentar mais um vilão e suas motivações, eu percebo que o triunvirato já se torna a melhor organização de antagonistas do riordanverse pra mim. são vilões pé no chão, assustadores de uma maneira real e sem medo de serem violentos.
amo a aparição de grover no terceiro livro e, principalmente, amo a volta de jason. mas não se enganem, eu já tinha noção do que aconteceria.
e eu esperava que tivesse um desfecho bom.
e teve.
a morte de jason é violenta, brutal, sentimental e a última virada de chave na cabeça de apolo. a primeira de todas as culpas que ele começa a carregar nas costas.
as culpas de 4000 anos de existência.
calígula apenas fecha com chave de ouro o triunvirato e me faz ter zero dúvidas de que eles são os melhores vilões já escritos por rick riordan. são as primeiras ameaças reais do riordanverse.
a ameaça que estava por trás de todas as outras ameaças.
no geral, eu gosto de como o terceiro livro é trágico em tudo que se propõe. gosto de como mostra o término compreensivo dos jasper, de como mostra a confusão na mente de piper ao se descobrir lésbica e ver seu ex que tanto a apoiou morrer logo em seguida e da relevância dada a destruição da natureza e as queimadas que agora importam a apolo.
ele é um humano, afinal.
amo ainda mais o quarto livro. reyna é minha personagem favorita, isso não é novidade pra ninguém. gosto dela descobrindo a própria arromanticidade e da maneira hilária com que isso acontece. gosto de como o luto é tratado e como jason é lembrado como o que ele foi, um herói. gosto de ver a evolução de apolo se mostrando cada vez mais presente e da representatividade lésbica em lavínia. gosto da volta da hazel e em como ela se mostra uma semideusa ainda mais poderosa que percy e jason. a guerra é uma das minhas favoritas e a aparição de diana sempre me causa arrepios. a maneira com que essa cena enlaça todos os pensamentos, agora tão mudados, de apolo com relação ao que é família, me causou a mais pura satisfação enquanto eu lia. a cena de apolo com harpócrates e a sibila de cumas nunca vai sair da minha cabeça. observar o quanto ele mudou com apenas as missões ao lado de meg e demais semideuses desafortunados e como o que sibila de cumas tem a dizer tem um impacto que não causaria mais uma culpa em seus ombros anos antes, mas agora causa.
causa até demais.
o livro que fecha a saga é o que mais aperta meu coração. eu já imaginava que seguiria no mesmo ritmo mas não imaginava que mexeria tanto comigo.
eu amo o desenvolvimento dos solangelo, amo como a relação de meg e apolo está a essa altura e como ela visualmente cresceu. a sensação de "tudo pode acabar a qualquer momento" está no ar e é inevitável não se sentir ansioso junto com os personagens.
a guerra foi uma delícia de se ler e o desfecho dos personagens no geral é muito satisfatório. ver como apolo agora não apenas está com seus filhos como também os ama é extremamente gratificante.
sinceramente, eu nunca mais consegui ouvir sweet caroline da mesma forma.
o combate contra píton é, para mim, uma das melhores cenas da saga toda. a profecia da flecha de dodona, a coragem de apolo para enfrentá-la e, principalmente, a coragem de apolo para encarar a própria finitude. como alguém que compartilha desse medo e, ao contrário de apolo, nunca teve o privilégio de ser imortal, eu entendo essa cena como ninguém. é impossível não sentir o quão significante é um deus que um dia se sentiu tão superior por ser imortal, agora se entregar nos braços da morte para proteger a sua família.
a sua verdadeira família.
acima de tudo, eu gosto de como não é a primeira vez que apolo passa por provações, mas ele muda apenas nessa devido ao convívio com tantas pessoas dispostas a acolhê-lo, ou a jogar verdades na sua cara ou simplesmente meg mccaffrey. gosto de como acima de tudo ele entende e é passada a mensagem de que família não é sobre sangue, família é sobre laços. apolo não precisa perdoar zeus por ele ser seu pai. apolo precisa perdoar a si mesmo e seguir em frente. apolo precisa entender hera na minha cena favorita de toda a saga, que é quando ela o defende e o protege de zeus. gosto da simples existência dessa cena e de como ela destrói o efeito mandela de que hera é uma vilã e mostra a todos que ainda viviam nessa ilusão que ela é apenas uma deusa de personalidade rígida que tem compaixão por aqueles por quem ela olha, diferente dos outros deuses.
diferente do antigo apolo.
mas não do novo apolo. o novo apolo lembra como é ser humano.
tenho críticas a certos pontos de as provações mas, no geral, o humor impecável, a mensagem extremamente sensível e o olhar mais maduro da saga compensam tudo pra mim. por muito tempo eu me questionei o motivo para as pessoas odiarem tanto essa saga e hoje eu entendo.
nem todo mundo tem a devida sensibilidade pra entender o que uma garotinha pode ensinar a um deus.
e eu posso não ter o privilégio de ser imortal, mas eu tenho o privilégio de entender. e isso é mais do que suficiente pra mim.
minha playlist de as provações para aqueles que também ficam muito felizes por o sol sempre voltar: https://open.spotify.com/playlist/0inYXiEqpOOVfk18ZDxkdD?si=L2qA4mVpQUi53BcbuTQsVw&utm_source=copy-link