Christiane 06/06/2022
Que livro magistral e dolorido, dói ver o que se passa na Amazônia brasileira e Brum não se furta a denunciar, e penso que com isto ela mesma corre risco de vida. Foi neste livro que pude compreender melhor o que aconteceu com a construção da Usina de Belo Monte e os efeitos sobre a população ribeirinha, é terrível, é uma tragédia. Pessoas que viviam suas vidas, plantavam, pescavam, tinham uma casa perderam tudo e se transformaram e pobres, miseráveis, vivendo num lugar sem uma única árvore, ou seja, perderam completamente suas identidades, seu chão. Há depoimentos dilacerantes no livro. Crianças e adolescentes que se suicidam por ter perdido o sentido de ter um futuro, entre viver e ser morto ou se matar, optam por se matar. Doenças mentais, depressão, suicídios.
Mas há muita luta e resistência também, muitas mortes matadas, a cidade de Altamira considerada a mais violenta do país, e a diferença gritante entre os donos do poder e suas mulheres e os moradores.
Brum relata um pouco de sua vida, desde a infância no Rio Grande do Sul, e de como acabou passando pelo banzeiro, se aflorestou. É muito bonito de ver o processo. Há um capítulo sobre as tartarugas que é belíssimo, mas gera apreensão, medo de que elas não consigam fazer seu trajeto, a gente fica torcendo junto.
É um Brasil distante das grandes capitais, distante dos centros econômicos, é um Brasil profundo brasileiro invadido pelo agronegócio, por madeireiros, mineradores e hidrelétricas. A economia capitalista que destrói tudo que há de belo, tudo que é simples, que é natureza.