Ismael.Chaves 17/10/2023
Folk horror pós-apocalíptico?
Muito já se escreveu sobre o fim do mundo e pós-apocalipse, em cenários futuristas reduzidos a ruínas e poeira radioativa. Mas, e se o mundo tivesse acabado muito antes? Digamos, no período pós-descobrimento do Brasil?
Sem armas tecnológicas e sem a noção do mundo moderno que conhecemos hoje?
Nada restou, além de um buraco embaixo da terra onde vive um grupo de mulheres lideradas pela Madrinha, em um culto à uma misteriosa entidade que lhes fornece vegetais e animais frescos. Os poucos homens sobreviventes (soldados portugueses, e espanhóis, escravos negros e indígenas) são mantidos reféns num calabouço e sua única função nesse Novo Mundo é servir aos estranhos propósitos da Madrinha em repovoar a Terra. E é aí que coisas sinistras acontecem e o fim parece estar próximo...de novo.
Essa é a premissa de "O Dedo da Santa", de Jaime Azevedo.
Escrita antes da pandemia, a obra consegue abordar o isolamento social de forma muito interessante, demonstrando como a falta de recursos e o medo do desconhecido podem ser muito mais perigosos que o apocalipse em si. Afinal, basta haver seres humanos para que o egoísmo, a ganância e a violência causem um verdadeiro caos.
E se essa mistura de Distopia e Horror por si só já renderia uma obra aterrorizante que dialoga com o momento atual, Jaime produz cenas verdadeiramente antológicas, de revirar o estômago e perturbar os leitores mais sensíveis.
"O Dedo da Santa" é o terceiro volume da Coleção Dragão Negro. Editado por Raphael Fernandes e Cirilo S. Lemos, o projeto também conta com os livros "Carniça" de Paula Febbe, "Claroscuro" de Oscar Nestarez, "O Receptáculo" de Larissa Prado, "O Que se Esconde nas Estrelas" de Marcelo A. Galvão e "Estação das Moscas" de Cirilo S. Lemos.