Thay 22/12/2022
O BECO DAS ILUSÕES PERDIDAS: UMA HISTÓRIA SOBRE AMBIÇÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS
Escrito por William Lindsay Gresham, o clássico da literatura norte-americana intitulado “O Beco das Ilusões Perdidas” foi publicado originalmente em 1946, adaptado ao cinema em 1947 e readaptado em 2021, por Guillermo del Toro. Eu gostaria de ter escrito essa impressão de leitura depois de ter assistido ao filme de del Toro, mas... De qualquer forma, o livro é uma excelente oportunidade de reflexão sobre nossas ambições e aspirações, ou melhor, sobre os caminhos que escolhemos para alcançar aquilo que almejamos do fundo do coração. Riqueza, felicidade, amor, bens são comumente apontados pelas pessoas como aquilo que mais se quer, não a toa o personagem principal Stanton Carlisle utiliza-se de artifícios e truques para “ler” o futuro e “adivinhar” o que seus clientes mais desejam a partir desses padrões comportamentais e, assim, ganhando dinheiro, chegando ao show bussiness! Inclusive, Stan acaba por criar novos espetáculos dizendo-se médium, junto de sua esposa e parceira Molly, como estratégia para estorquir dinheiro. Entretanto, o que era para ser um show, torna-se um enorme desastre após Stanton conhecer Lilith, uma suposta psiquiatra.
Publicada em 2021 pela editora Planeta, a edição do romance noir de Gresham é esteticamente linda! As cores vibranes de vermelho e a imagem de capa dão sinais sobre a história, sobretudo pelo destaque dado à carta “O enforcado” do tarot, que aponta para o final da narrativa. A sinopse é tão completa, que depois de ler o livro e reler este pequeno texto, pensei “ESTAVA TUDO ALI!”. Os capítulos são todos inicialmente ilustrados por cartas de tarot, organizadas de modo que o enforcado ficasse por último, isto é, as cartas indicam caminhos da narrativa. As folhas não são brancas e as letras estão num tamanho de fonte padrão, com espaçamento entre linhas igualmente bom. Meus olhos agradecem! A única coisa que me incomodou do designer foi a cor da fonte na sinopse, o fundo vermelho do livro com a cor da fonte em preto não favoreceu e eu, que não enxergo direito, tive que forçar muito minha visão para conseguir ler. Composto de 304 páginas, não achei o livro longo e a história tem um bom desenvolvimento, alguns momentos cansativos, mas bom. Li em poucos dias.
“O Beco das Ilusões Perdidas” não é um livro de fantasia, muito menos de mágica ou misticismo, ao contrário. Ele mostra um personagem vigarista que usa da boa fé das pessoas e de seus desejos e emoções para ganhar dinheiro. Retrata a crueldade através das tentativas infinitas de alcançar o que se quer, mesmo que às custas dos outros. O que gostei da escrita é que em nenhum momento há uma romantização do personagem ou de seus próximos. Molly, aparece como o extremo oposto de Stan, talvez por isso ela chega a ser insuportavel. Na verdade, ambos são insuportáveis, no entanto é justamente isso que os torna tão humanos. Zeena e os outros integrantes do circo intinerante são muito interessantes, infelizmente não foram muito explorados (o foco não era esse, óbvio). Sobre Lilith, a psiquiatra, não posso falar muito sem que eu dê tantos spoilers, mas é uma personagem de dar nojo, de tanto que ela é ruim.
As ambições são retratadas na história como emoção principal. Ela movimenta a trama. Stanton poderia ter se dado muito bem com seus truques “inocentes”, pois inteligente e habilidoso. O problema do personagem realmente foi querer mais e não saber exatamente onde e quando parar, colocando a si próprio e os outros em perigo, acabando sozinho, perseguido e tendo problemas com álcool. A história destaca que não há nada tão ruim que não possa piorar e que os caminhos que escolhemos e as coisas que fazemos muitas vezes se voltam contra nós e aquilo que julgávamos nos outros, vemos em nós mesmos. Até onde vamos por nossas ambições? Dessa forma, considero o encerramento perfeito. Não sei ao certo se é um final “justo”, porque se eu achasse, talvez eu seria tão cruel quanto a própria narrativa. Foi um final com uma “colheita”, consequências das ações do personagem principal.
Lendo comentários e resenhas sobre o livro, me deparei com várias críticas. Ou se ama ou se odeia “O Beco das Ilusões Perdidas”. Eu, pessoalmente, gostei da leitura. Não costumo colocar grandes expectativas nos livros que leio, o que faz que minha mente fique mais aberta para analisar, refletir e fazer considerações racionais diante do contexto. Ah, além disso, eu gosto de leituras desse tipo, tenho preferência por narrativas mais fantásticas, mas a história de Gresham me prendeu. Sendo assim, recomendo a leitura, mas para aqueles que não esperam coisas mágicas, brilhantes e fabulosas e que não ansiam por finais felizes, recomendo também para aqueles que têm interesse em refletir sobre o mal e a maldade, mas também na vida como ela é. Não estou dizendo que só existe o mal, viu? Só que todos temos bem e mal em nós. E as consequências de nossos atos e escolhas virão de qualquer forma.