LETRAS e VEREDAS 23/12/2021A VOZ QUE ENCARNA O EXÍLIO PALESTINOMahmud Darwich é o grande poeta da Palestina e da literatura de língua árabe. A sua poesia ecoa a voz do povo palestino em suas lutas pela existência. Sua escrita evoca as fraturas e amarguras do exílio. Mahmud Darwich é um poeta que consegue persuadir a esperança florescer dos escombros.
Para se ter dimensão da grandeza desse fascinante poeta, Mahmud Darwich é o autor da Declaração de Independência Palestina, escrita em 1988 e lida por Iasser Arafat, durante a criação do Estado da Palestina.
Memória para o esquecimento retrata um dia de agosto de 1982 durante a invasão israelense ao Líbano. Num céu assolado por aviões que despejam bombas na cidade de Beirute, Mahmud Darwich reflete sobre a realidade dos palestinos exilados no Líbano, os amores que cruzaram a sua vida, o papel da poesia em tempos de guerra, os dilemas dos combatentes da Organização para a Libertação da Palestina.
A escrita de Mahmud Darwich é fascinante porque despreza as fronteiras entre a prosa e a poesia. Seu texto inclassificável demole as fronteiras temporais e espaciais. O mundo de Mahmud Darwich é um tumultuado diálogo entre o universo do vivido e o universo do onírico e das reminiscências.
Mahmud Darwich nos ensina a compreender que uma época escrita pelas ruínas da guerra nunca "é tempo de amor. É tempo de um desejo fugaz, quando dois corpos efêmeros cooperam para afastar uma morte passageira com outra morte: a morte adocicada".
Memória para o esquecimento é um livro esplêndido, dotado de uma sensibilidade poética que nos restitui a noção de que todo desterro é uma Palestina que sangra dentro de nós.