Rodrigo de Lorenzi 17/02/2022
Bom demais
Uma passagem deste livro me chamou muita atenção e, para mim, explica a força desta história. A mãe dos personagens principais, casada com um homem bastante machista, costumava guardar todo o seu pouco dinheirinho em uma lata. Queria comprar um casaco e por isso economizava de pouquinho em pouquinho, por meses, até conseguir juntar o suficiente para a roupa. Um dia, o marido abre a lata, retira todo o dinheiro, e compra uma espingarda. A mulher chora na cama, segurando a lata na colo. O filho, ainda criança, assiste tudo, não entende nada, e também não pergunta. A mãe levanta e vai preparar o jantar.
Karmele Jaio discute gênero e as consequências do machismo e da masculinidade tóxica por meio de três personagens que foram afetados por esses padrões. Temos o filho (Ismael), que busca a vida inteira o que é ser um homem e o que é ser um homem que possa ser amado pelo pai. Temos a esposa (Jasone), que aos poucos vai se anulando para se tornar apenas um apêndice do marido, e temos a irmã (Libe) que conseguiu quebrar alguns ciclos, mas volta a enfrentar essas questões mesmo não querendo.
Um livro curto e muito impressionante sobre como o machismo vai moldando nossa forma de pensar e, com isso, vamos nos tornando pessoas que não gostaríamos. É sobre como a dinãmica homem-mulher vai ilfiltrando e modificando nossas relações, por mais que nos julguemos mente aberta. Ao utilizar diferentes vozes narrativas (em segunda e em primeira pessoa), o leitor consegue não apenas se ver naqueles personagens, mas também analisar os próprios padrões.
site: https://www.tiktok.com/@rodrigodelorenzi