Zé - #lerateondepuder 11/09/2022
Freud sem traumas
“Os desejos que comandam! Somos traídos por desejos secretos, fantasias, medos que não admitimos nem para nós mesmos. Podemos arruinar nossa vida por um ato completamente besta, que jamais teria acontecido se tivéssemos pensado ‘conscientemente’ na coisa”. “Sob a superfície de cada emoção, de cada escolha, de cada comportamento agressivo ou amoroso, e até das nossas piadas levemente ofensivas, há um oceano oculto chamado inconsciente. E agora vem a má notícia: não temos quase nenhum controle sobre ele”.
No parágrafo anterior, podem ser observadas duas transcrições, na íntegra, da obra “Freud sem traumas”, a qual agora será resenhada, na expectativa de destacar o livro em si e, não somente, a vida de Sigismund Schlomo Freud, uma personalidade chamada, em sua época, de charlatão e velho tarado, mas que deixou um dos mais profundos legados para toda a humanidade, a psicanálise.
O interessante nesse livro é a forma como são traduzidas teorias profundas e rebuscadas, em uma linguagem mais que agradável, que lança mão de metáforas, gírias e fatos corriqueiros, não descartando, nem mesmo, alguns bons palavrões para tudo ficar bem contextualizado ou, pelo menos, para ficar mais próximo do dia a dia do leitor comum, como eu e você.
O autor destaca que a razão de ser de seu livro é traduzir e descomplicar Freud, na busca da correção dos mitos que lhe foram associados, na intenção de apresentar suas complexas teorias, de forma direta, transparente e acessível, sem os jargões e, sobretudo, menosprezar sua inteligência.
O conteúdo é apresentado de forma a atender dois aspectos essenciais, as principais abordagens e a cronologia das publicações da obra freudiana. Desta forma, divide-se em uma boa introdução, seguida de cinco partes a saber: “As verdades secretas da mente”, onde o autor fala sobre o inconsciente, as neuroses, os significados dos sonhos e atos falhos.
Segue com a segunda parte denominada de “Sexo na cabeça”, abordando o incesto e a Tragédia Edipiana, as perversões, em geral, e a visão do Complexo de Édipo sob a ótica feminina. Dá andamento com a terceira parte (“É guerra”), descrevendo os clássicos Id, Ego e Superego, encontrando tempo para discutir as pulsões de vida e de morte.
A quarta parte, o autor denomina de “Freud no microscópio”, onde será feito um paralelo com as questões científicas, validando as teorias freudianas, por vezes, criticadas como não científicas, na medida em que não poderiam ser comprovadas. Discute, também, sobre a neuropsicanálise, um movimento dentro da neurociência e da psicanálise para combinar os conhecimentos de ambas as disciplinas, na expectativa de uma melhor compreensão da mente e do cérebro.
O autor nos brinda com um posfácio em que fala com muita propriedade sobre o mal-estar que não passa, onde irá debater sobre a depressão como mal do século XXI, ainda nos presenteando com um apêndice em que irá destacar e comentar alguns filmes relevantes para melhor reforçar o pensamento do pai da psicanálise.
Um bom destaque é como se esclarece o mecanismo de rolagem do feed da maioria das redes sociais, conhecido como “programação variável de recompensas”. Aquela compulsão por descobrir qual será o próximo post, a próxima foto, a próxima chamada de um portal de internet vem das experiências com ratos de laboratórios do psicólogo behaviorista Burrhus Frederic Skinner. É notável esse realce de que, quanto maior a incerteza da gratificação, maior será nossa compulsão e, desta forma, vem a reflexão de que o livre-arbítrio pode ser apenas uma ilusão.
Então, vida, obra, aspectos particulares e contextos de épocas são muito bem abordados por quem se dedicou a ler boa parte da obra freudiana, sob a ótica de um jornalista. Alexandre Carvalho, editor da revista Superinteressante, autor de matérias de assuntos históricos e contemporâneos dos mais variados campos. Sem ser reducionista, se dedica a explicar, como neste livro, assuntos profundos e relevantes, de forma inusitada e sempre agradável a quem lê o conteúdo a ser descrito.
Um livro de 258 páginas publicado pela editora Leya em 2021 e lido em sua versão e-book, é uma leitura para lá de cativante, indicada não somente a quem deseja se aprofundar no campo da psicanálise e suas teorias, mas a todo aquele que pretende absorver um bom legado de sabedoria, como o de Freud. Vale toda a pena!
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