Utopia Possível

Utopia Possível Tarso Genro




Resenhas - Utopia Possível


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Diego 02/07/2022

Ideias pragmáticas para uma nova esquerda
Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro de Lula, coloca nesta obra uma coleção de textos seus a respeito da esquerda pós-muro de Berlim (e do colapso na URSS), ou simplesmente, aproveitando o título do livro, uma ideia de esquerda possível para um mundo definitivamente capitalista.

O livro é dividido em três partes. Em "socialismo como impotência", vemos ensaios sobre o fracasso da experiência soviética, além da provocação que de certa maneira norteia outros textos do livro: Ok, o socialismo real perdeu e o capitalismo ganhou. Mas o vencedor entregou um mundo melhor? Criticando visceralmente a ditadura soviética, Tarso nos oferece o seu conceito de um socialismo possível e justo, que é o de um Estado submetido ao controle democrático da sociedade (e não um modelo onde a sociedade se submeta ao Estado -- o que paradoxalmente é o modelo do Estado burguês, de certa forma piorado pela experiência bolchevique).

No capítulo "capitalismo como tragédia", o autor expõe de forma muito competente (e previdente até, sendo o livro de 2004) o atual estado de coisas no capitalismo mundial, onde há uma dissolução da figura marxista do proletariado "clássico" (com sua "missão metafísica de mudar o mundo"). A classe trabalhadora do século XXI está a anos-luz do trabalhador de chão de fábrica que Marx conheceu. Digo que Tarso foi previdente em alguns textos porque ele aponta, em linhas que na verdade foram escritas lá pelo final dos anos 1990, a uberização da economia e do trabalhador, coisa que se intensificou agora (nos tempos atuais). A financeirização crescente as classes dominantes e o crescimento assustador do desemprego estrutural também são temas abordados aqui.

No último capítulo estão mais detalhadas as propostas para um novo socialismo, em "socialismo como esperança". Ideias como uma "democracia radical" são explicadas, além da sua concepção de "controle social do mercado" (que é diferente da centralização desastrada soviética). Todos os seus caminhos não abrem mão da liberdade democrática -- o que significa pluripartidarismo. Tarso descarta as fórmulas já desacreditadas da ditadura do proletariado levando a uma sociedade socialista (e então ao comunismo). Pragmaticamente ele afirma, mais de uma vez (em textos diferentes): o capitalismo se adaptou e não colapsou como previa a teoria marxista; o proletariado jamais se tornou um agente de revolução social universal; as relações de trabalho do século XXI EXIGEM que se ultrapasse toda essa teoria.

As análises de Tarso Genro com certeza serão criticadas pela ortodoxia stalinista da esquerda radical. Também o será pela direita Faria Lima e pela direita Olavo de Carvalho. Faz parte. Um livro como esse propõe um debate que bota a mão num imenso vespeiro que é o terreno das utopias humanas.
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