Luiz Teodosio 21/04/2022
Lidando com conflitos da adolescência e de outro mundo
Vi que a autora se inspirou em algumas séries literárias como “Fallen”, “Hush, Hush” e “Halo”, e provavelmente o público dessas obras deve encontrar uma dose de nostalgia neste livro. Esse, no entanto, não é o meu caso. Adentrei a leitura com a referência genérica de encontrar um romance adolescente sobrenatural e foi isso o que encontrei, mas não da forma que eu gostaria.
(contém leves spoilers)
Sara, Camila, Elisa e Sofia. O núcleo adolescente dessas quatro personagens foi um dos aspectos mais bem trabalhados na história, dos conflitos próprios e clichês de garotas do ensino médio às ocasiões cotidianas que contribuíram para a caracterização e química entre elas. Vale ressaltar uma abordagem bem-vinda sobre sexualidade envolvendo essas personagens e uma quebra de paradigma envolvendo um casal meio impróprio que certamente se concretizaria se fosse um livro padrão do gênero (olá, protagonista que se apaixona por um vampiro com 120 anos de idade!).
O pilar sobrenatural de Anjo Puro foi instigante de início, com um toque de história de terror adolescente, mas após o primeiro quarto da história, novas variáveis acabam se revelando de forma que não conversa tão bem com todo o clima dessa primeira parte e nem com a vida mundana das personagens. Há um novelo narrativo que a protagonista precisa desvendar, mas que soa muito distante dela e do plot inicial, e várias das revelações vêm por algumas conveniências baseadas em visões e sonhos. O mesmo pode ser dito do worldbuilding e do sistema mágico, por assim dizer, com cenas em que eu perguntava à protagonista “você pode fazer isso?”. A construção de algumas habilidades e conflitos não recebem a sua importância nos trechos finais do livro, e, mesmo que fique para a continuação, passam uma sensação de incompletude. Apesar disso, é no clímax que o livro volta a me instigar pra valer, justamente por retomar o tipo de conflito que estabeleceu no início.
Com relação à escrita, a autora consegue dar um bom ritmo ao texto, tornando-o leve e ideal para o público-alvo adolescente. A faca de dois gumes na prosa é que, apesar de haver uma atenção para detalhes, principalmente a nível psicológico das personagens, que gera ótimas cenas na história, existem também repetições de ações, descrições e trejeitos de personagens que me fizeram revirar os olhos algumas vezes.
É provável que um público mais jovem, ou que curta esse gênero, sinta-se mais atraído por essa história.
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