O sistema político do império

O sistema político do império Brasil Gerson




Resenhas - O sistema político do império


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Gabriel 23/10/2021

Uma reconstituição fabulosa do golpe de 15 de novembro de 1889
Há livros que, num primeiro momento, são capazes de nos chamar a atenção pelo título, fazendo-nos imaginar imediatamente tudo aquilo que deve haver por trás da capa. Foi exatamente o que aconteceu quando encontrei este exemplar num sebo. Entretanto, para minha frustração inicial e satisfação posterior, o livro não era nada do que eu imaginava.

«O sistema político do império», do catarinense Brasil Gerson, na verdade é uma reconstituição jornalístico-historiográfica dos acontecimentos que antecederam a queda da monarquia e das motivações por trás dos militares e dos republicanos sublevados.

O autor demonstra de forma magistral a desfaçatez daqueles que construíram a narrativa de uma proclamação da república carregada pelo povo, sob os auspícios ensandecidos da nação de norte a sul, e não de uma pequena sublevação levada adiante por militares e republicanos «malucos», para usar a expressão dita pelo Visconde de Ouro Preto ao receber a ordem de desterro por parte do governo provisório.

É certo que os fenômenos mais importantes da história ocorreram por uma série de fatores e não podem ser reduzidos a apenas um ou outro detalhe menor. Por isso mesmo, Gerson tenta apresentar um panorama do que havia na época, ressaltando a influência da abolição da escravatura assinada um ano antes, da questão militar que já existia e ganhou mais forma durante o gabinete do Barão de Cotegipe, do positivismo comtista e das ideias de supressão dos direitos da mulher no período final do século XIX -- enfim, ressaltando a influência de tudo isso no golpe republicano que veio a ter vez a 15 de novembro de 1889.

Tudo isso foi fundamental para que se buscasse a deposição, não apenas do gabinete liberal do Visconde de Ouro Preto, mas do próprio regime monárquico, como uma espécie de resposta às reformas que estavam sendo endossadas pela coroa, mas também como uma reação contra um iminente terceiro-reinado feminino, sob o comando da princesa D. Isabel.

Gerson confessa ao fim do livro que a bibliografia é pobre porque esta obra apresenta, na verdade, um desenvolvimento de artigos publicados nos suplementos dominicais de "O Jornal", portanto, de cunho jornalístico.

Entretanto, a pesquisa empreendida pelo autor, como se nota da leitura atenta, foi feita a partir de uma consulta aos acervos da Biblioteca Nacional, folheando jornais e mais jornais que, mais do que qualquer outra coisa, refletiam o momento que se vivia naquela quadra histórica do fim do século XIX.

É com essas credenciais que Gerson demonstra incontestavelmente que a república, no Brasil, foi obra de meia-dúzia de gatos pingados, assoberbados pela deposição do gabinete de 7 de junho, sem nenhum apoio popular.

A vantagem deste livro é que, ao lê-lo, compreendemos não apenas o que aconteceu nos anos 1880, mas também o que até hoje acontece no Brasil. A herança positivista está enraizada no país e as mesmas motivações de militares como Benjamin Constant e Deodoro sobrevivem soçobradas na classe fardada de hoje.

O livro foi publicado em 1970, no clímax da ditadura militar, e certamente explica muito do que estava acontecendo também àquela época. Algumas coisas não mudam e a história, por vezes, é atemporal.
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