Resenhas - Kanikōsen

Lusia.Nicolino 31/03/2022

É preciso conhecer os dois lados da história
Um navio. Um mundo estilizado da dinâmica do capitalismo moderno e dos raios de conscientização dos trabalhadores explorados. Os trabalhadores, enfrentando um dia a dia de privações, doenças, tarefas exaustivas e comida ruim, conseguem se organizar em uma espécie de sindicato para, mais do que tomar o controle do navio, sobreviver.
Kanikōsen é considerado um marco na literatura proletária no Japão. A história que se descortina traz à tona os bastidores de um dos famigerados navios-fábrica – embarcações pesqueiras que contavam com instalações para conserva e embalagem de alimentos enlatados. Saiam do norte do Japão para o gelado mar de Okhotsk (na Rússia) em busca de caranguejos — entre quem pesca e embala e quem come o produto na costa, uma fenda enorme, capaz de engolir sem dó qualquer vida.

Quote: "Cinzas subiam formando uma nuvem densa na frente da caldeira, como se brasas de carvão tivessem sido puxadas para fora e banhadas com água. Ao lado, os foguistas com o peito nu estavam fumando enquanto conversavam, sentados no chão, abraçando os joelhos. Na semiescuridão, eles eram justamente como gorilas agachados. A boca do depósito de carvão estava entreaberta, permitindo que espiassem, de maneira agourenta, o seu interior frio e escuro como breu."

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leofinamor 17/03/2022

Obra excelente, com uma propaganda enganosa frustrante
A obra em si é excelente, não sendo à toa que é considerada a melhor obra da literatura operária japonesa, com uma interessantissima construção coletiva dos personagens e jogos de palavras e comparações muito bem elaborados. Entretanto, o clímax do livro (que é propagandeado na sinopse como uma revolução) é quase uma piada de mau gosto com o leitor, que desenvolve uma enorme expectativa (por causa do próprio autor) ao longo de 9 capítulos que, no final, resulta em muito, muito pouco: tão pouco que não pode ser chamado de revolução, o que termina a obra com um gosto amargo, o que é, pelo menos, parcialmente não planejado pelo autor.

Charles Lindberg 24/09/2022

Fantástico exemplar da literatura subversiva japonesa
Narra o processo de conscientização e organização de um grupo de trabalhadores num navio-fábrica do Império do Japão nos anos 20, um microcosmo da proletarização da época. Retrata as condições de trabalho, que incluíam espancamentos e até enterro de operários em valas comuns após morte por exaustão; a máquina de propaganda do império japonês em seu embate político-ideológico contra a China e a Rússia, e como o "movimento vermelho" influenciava os trabalhadores e era violentamente reprimido pela burguesia.

A história é destituída de uma personagem central, narrando, em vez disso, o grupo de trezentos trabalhadores do mar como um coletivo, ainda que haja individualidades e lideranças ali representadas. O único trabalhador cujo nome conhecemos nos é dito após sua morte: Yamada.

Curto e excelente, me deixou vidrado. Li praticamente num dia só.

Lucca 28/06/2023

Este livro é essencial para compreender as formas nefastas que se faz o capitalismo
Seus tentáculos sombrios destroçam um grupo de pescadores que apenas viviam da sua pesca na sua região
Mas uma grande empresa chega no local e capta esses trabalhadores para trabalharem em um lugar completamente degradante e humilhante para gerar apenas o lucro
Lógico que esses atos vai nutrir um sentimento de revolta justíssimo
Evidenciado o quão problematico é necessário a superação do modelo capitalista
Super recomendo esse livro
É uma história um tanto quanto visceral, mas essencial para compreender a destruição que o capitalismo causa nas pessoas