O Plantador de Abóboras (Sonata para uma neblina)

O Plantador de Abóboras (Sonata para uma neblina) Luís Cardoso




Resenhas - O Plantador de Abóboras (Sonata para uma neblina)


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tiadodudu 13/02/2024

Viagem pelo Timor-Leste na companhia de Cervantes e Gabo
Uma narrativa com toques de realismo mágico com galos, cavalo e ganso, onde acompanhamos a formação do Timor-Leste sobre o ponto de vista da família dos Raimundos e seus descendentes com o cultivo de café, rosa e abóboras e a exploração, colonialismo e ataques dos portugueses, japoneses e indonésios. Dom Quixote e Sancho Pança são convidados de honra nesse livro conciso.
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Gigio 22/01/2024

Não se plantam, semeiam-se abóboras
Conhecer um pouco mais da história desse pequeno país quase desconhecido pra mim através dessa prosa poética foi incrível. Nossa protagonista faz um relato de sua história pessoal e de sua família costurada com um recorte da história do Timor em que o país atravessou três guerras que deixaram marcas profundas em seu povo. Se por um lado o texto é verdadeiramente lírico, por outro tem a fluidez de uma conversa ou de um 'causo' contado em volta da fogueira.
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Valéria Cristina 28/11/2023

Vencedor do Prêmio Oceanos de 2021
Vencedor do Prêmio Oceanos em 2021, este é um livro peculiar e absolutamente envolvente.

A narradora – à espera do noivo por mais de vinte anos – conta para um interlocutor misterioso a história de seu avô, de seus pais e a sua própria. Entremeada à sua narrativa pessoal, descobrimos a história do Timor-Leste.

Acompanhamos o desenrolar da guerra contra o colonialismo, a chegada de combatentes moçambicanos, a invasão japonesa durante a 2ª Guerra Mundial e a invasão indonésia. A cultura do café, a geografia do país, as diversas culturas que nele convivem em decorrência da colonização e das invasões estão relatadas neste livro poético e forte.

Ainda, vemos a formação de guerrilhas, a violência implementada contra a população, a corrupção, o racismo, o assédio estrangeiro contra os proprietários de terras que muitas vezes são expulsos de suas fazendas, as revoltas estudantis.

Tudo isso está relatado em um fluxo de memória e temos de identificar esses fatos ao longo da narrativa, pois não estão explanados de forma linear. Tudo está entremeado na fala da narradora e que oscila entre passado e presente.

Utilizando diversos termos em tétum (vale a pena a pesquisa), Luís Cardoso nos presenteia com uma história poderosa e cativante desde a primeira página.

Luís Cardoso nasceu em Kailako, uma vila no interior do Timor, em 1958. Mudou-se para Portugal ainda jovem para seguir os estudos universitários. É autor dos romances Crônica de uma Travessia (1997), Olhos de Coruja Olhos de Gato Bravo (2002), A Última Morte do Coronel Santiago (2003), Réquiem para o Navegador Solitário (2007), entre outros.


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Faluz 27/08/2023

O plantador de abóboras. - Luís Cardoso
Um livro que nos surpreende.
A leitura no inicio nos parece caótica, com uma narradora contando sua história que pouco a pouco vamos entendo se mistura a história do país. Para ouvidos surdos sobre questões do Timor Leste aparece como um desafio. Verificar a posição geográfica do país, entender o contexto geográfico, político da região nos assombra. Ao mesmo tempo a estrutura enxuta utilizada com fluxo de pensamento e repetições constantes nos deixa encafifados.
Apesar dessa surpresa nos envolvemos com nessa lida.
" ... gostaria de plantar abóboras?"
frase repetida várias vezes nos deixa entender a prioridade do alimento que no Timor permite ser utilizado de várias formas e na sua totalidade, frutos, flores, folhas e talos.
"...Não se plantam, semeiam-se abóboras."
A história do país através dos olhos de uma mulher nos deixa embasbacados.
Boa leitura.
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nocca 26/02/2023

A primeira vez em que ouvi falar do Timor Leste foi numa revista religiosa, numa matéria curta que falava sobre a colonização portuguesa e a consequente ferida aberta que deixou no país. O Plantador de Abóboras me aproximou ainda mais do Timor e da sua gente, mas confesso que tinha mais expectativas com essa leitura. A constante repetição de algumas falas e a não linearidade da narrativa, que só começa a se encaixar a partir do final do segundo momento do livro, fizeram com que eu tivesse dificuldade em manter um bom fluxo de leitura. Foi um livro curto, mas que me custou certo tempo para ler. No mais, é um bom livro e uma boa maneira de incitar o interesse pela história do país.
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Paulinho 01/10/2022

Mais uma excelente prosa em língua portuguesa
Eu nunca havia lido nada do Timor Leste, nem sequer recordava que tal território tivesse sido colonizado por Portugal. Quando vi o post da Todavia que publicou no Brasil o vencedor do Prêmio Oceanos de 2021, fiquei empolgado para conhecer mais um escritor em língua portuguesa diferentes dos territórios que eu tinha lido até então: Moçambique (Mia Couto), Angola (Pepetela e Agualusa), além de Portugal e Brasil é claro.
O livro já de cara tem duas qualidades que me agradam, a primeira, ser em língua portuguesa, costumo brincar que minha literatura favorita é literatura em língua portuguesa, depois literatura russa. E o segundo aspecto tratar do imperialismo, um tema que me é muito caro.
Fiquei surpreso e encantado, a estrutura narrativa me lembra em alguma medida “Grande Sertão: veredas” de João Guimarães Rosa, a história é narrada num fluxo de consciência quase ininterrupto, não há capítulos, é divido em três partes, na qual uma mulher inicialmente de forma desconexa e sem linearidade, narra a um interlocutor que nunca fala no texto a história da sua vida e por consequência de seu país.
Numa língua íntima e poética, com situações fantásticas e oníricas, acompanhamos nossa narradora contar desde seu avô, um moçambicano negro, a história de seu pai e mãe, seu noivado, a invasão japonesa na Segunda Guerra Mundial, o colonialismo português e a ocupação indonésia. Com direito a um final revelador sobre quem o seu ouvinte. Livro maravilhoso!
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Matheus 29/05/2022

Daqueles livros que se leva pra vida
"Ainda queres plantar abóboras ou foi algo que te ocorreu dizer para justificar a tua vinda? Deixei de semear abóboras. Planto-me nesta varanda virada do avesso e para dentro de mim. Daqui vejo o mundo. Não sei se do avesso. Não sei se eu que estou do avesso ou se é o mundo."

Nascido em Kailako, uma vila no interior do Timor, Luís Cardoso viveu boa parte de sua vida em Lisboa. Em 2001 resolve retornar às suas origens acompanhado de José Saramago. Essa viagem se deu em 2001, época em que o país recém saia da guerra por independência (Timor-Leste viria a se concretizar como estado soberano no ano seguinte, em 2002). Em meio às ruínas, Cardoso e Saramago encontraram uma mulher que se pôs a falar da história do Timor: suas três guerras sucessivas, os dilemas enfrentados pela sociedade civil e seus desafios. A partir daí, Luís Cardoso comprou para si o desafio de transformar esse relato em um romance com uma voz feminina. Quase 20 anos depois, eis que chega ao público "O Plantador de Abóboras", obra que derivada de sua promessa para si.

Na história somos ouvir uma mulher que aguarda o retorno de seu marido há quase duas décadas contar sua história. Ao mergulhar em memórias, adentramos também na história do Timor-Leste, permeada por guerras, dores e disputas ideológicas que tomam conta dos civis. Abordando temas como racismo, sexismo, misógina, a moral etc., Cardoso nos oferece um amplo olhar sobre a história de seu país natal, assim como um ensinamento a respeito dos modos de ser e ver do povo de Timor.

A narrativa se dá em forma de monólogo, como se fossemos nós mesmos os que ouvem diretamente a mulher contar sua história. Em vários momentos somos questionados sobre a razão de nossa visita. Por que estamos ali? O que queremos?

Contudo, longe do pretenso tom coloquial, o que encontramos aqui é uma verdadeira escrita poética, daquelas onde várias sentenças podem levar a reflexões filosóficas sobre nós enquanto seres humanos. Ao escolher narrar a história em primeira pessoa, Cardoso abre um espelho onde possamos enxergar a nós mesmos e indagar a respeito de nossas escolhas.

Em síntese, Plantador de Abóboras é uma história fantástica.
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Leila de Carvalho e Gonçalves 14/05/2022

Vencedor Do Prêmio Oceanos
?Não se plantam, semeiam-se abóboras.? (Página 150)

Do timorense Luís Cardoso, O Plantador de Abóboras foi o vencedor do Prêmio Oceanos em 2021. Dedicada à literatura de língua portuguesa, a premiação é o equivalente lusófono ao britânico Man Booker Prize e pela primeira vez, ela foi concedida a uma obra do continente asiático, ou melhor, pela primeira vez uma obra do continente asiático esteve entre os finalistas.

Curiosamente, o romance enfrentou dificuldades para ser publicado. Apesar de Cardoso ser um nome conhecido tanto em seu país como em Portugal, O Plantador de Abóboras foi levado ao prelo pela Abysmo, após ser rejeitado pela Porto Editora, a antiga casa do escritor, sob a alegação do baixo retorno financeiro de seus livros. Uma situação que traz a pauta uma antiga discussão: a frequente dicotomia entre critica e público, ou da qualidade literária versus o mercado de livros.

Resumidamente, a narrativa é um longo monólogo que, em 160 páginas, reconta a história de um país construído por sucessivas ocupações e que, hoje em dia, tornou-se refém do petróleo existente em seu litoral. Na mão dos australianos, essa riqueza não tem sido aproveitada para incentivar a educação, a saúde e a agricultura da ilha. Conforme Cardoso denuncia, falta ?vontade política? para mudar essa conjuntura, afinal, ?não se pode passar a vida toda recriminando o passado pelo presente?.

Num fluxo poético marcado pela violência, o romance assemelha-se a uma sonata e é apresentado em três andamentos ? ou capítulos ? relacionados entre si: a revolta contra a colonização portuguesa em 1912, a tomada do país pelo Japão durante a Segunda Guerra e a invasão da Indonésia (1975-1978) que dizimou um terço da população da ilha. O resultado é uma composição polifônica que se distingue pelo emprego de expressões e palavras extraídas do ?tétum?, língua nacional e co-oficial do Timor. Para exemplificar, ao invés de europeu é usado ?malae-mutin? e ?malae-metanque? significa africano.

Outro destaque do romance é a intertextualidade tanto a homoautoral, com outros livros de Cardoso, como a heteroautoral, com livros de outros escritores. Nesse último caso, há referências explícitas a Dom Quixote, de Miguel Cervantes, e implícitas à obra de Gabriel Garcia Márquez: Manue-mutin, um local imaginário que é pano de fundo da historia, remete a Macondo, e sua protagonista e narradora, a espera do noivo há décadas, recorda Fermina Daza, de O Amor Nos Tempos Do Cólera.

Finalmente, a escolha do título do livro remete ao sonho da grande maioria dos timorenses: ter um terreno para plantar abóboras. De fácil frutificação, eles aproveitam todo o fruto, comem dos rebentos às flores, e desde a sua chegada no período colonial, a abóbora tem sido fundamental para a sobrevivência dos ilhéus, em especial, em tempo de vacas magras.

?Numa guerra ninguém faz considerações morais: ou se mata ou se morre. Mata-se e pronto. Mataste quantas pessoas, antes de entrares nesta casa para me dizeres que gostarias de plantar abóboras? Não precisas de me responder. Se tiveste de o fazer foi certamente ao serviço da Pátria. Fora de mim pensar em outras absurdas hipóteses. Haverá alguma que seja mais convincente do que matar por medo que te matem a ti?? (Página 45)

Boas leituras!
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