Resenhas - Caminhar, uma filosofia

vagnerrg_ 10/03/2022

O caminhante é o caminho e a caminhada.
Caminhar. Ato contínuo até que não mais seja possível. Ir, só ir, porque não é possível voltar. O voltar, no máximo, é um ir, porque caminhamos por caminhos, mas tudo se faz no tempo. O caminhar é um ir no tempo.

Kerouac. Nietzsche. Rimbaud. Rousseau. Thoureu. Nerval. Kant. Benjamin. Gandhi. Eles caminhavam. Foi nas caminhadas que algumas reflexões (talvez as mais profundas) foram feitas. Gros consegue pensar como as filosofias desses autores estão conectadas com o contínuo ato de caminhar ? para alguns, até o morrer; para outros, para não morrer. É o caminhar que leva o corpo e é o corpo que guarda o pensamento. Caminhar é levar o pensamento. Levar o pensamento é uma forma de pensar.

O corpo é um veículo. Não há roda, nem hélice, nem remo. É o corpo que se move. O corpo se move. O pensamento move o corpo. A vontade de ir é a vontade de estar livre para pensar, sem estímulos ininterruptos de toda ordem, partícipe da paisagem.

Me impressiono como textos são escritos com tanta maestria e sensibilidade. Os ensaios de Frédéric Gros estão entre esses textos escritos com maestria e sensibilidade.

A existência é o caminhar. Não somos estanques. Estamos em constante movimento, ainda que aparentemente estacionados. O caminhar é no tempo e o corpo é a forma pela qual isso acontece.

pfbibiana 08/03/2022

Um caminhar interessante, mais ainda muito masculino
Uma obra que se eu visse numa livraria não me chamaria a atenção e muito menos compraria. Mas, como participo do Circuito Ubu, essa obra me veio as mãos. E, foi um desfrute que aos poucos usufruí.

Fala-se sobre o ato da caminhada em si, mas se vai além. Muito além. Fala-se sobre o corpo em movimento, mas também sobre a vida. Em vários momentos tomo como analogia o “caminhar pela vida”.

Notei o quanto aos homens é permitido um caminhar exploratório mais livre e dono de si. Não que eles se encontrem, ou tenha revelações de outro mundo (alguns sim). Mas, mesmo ao se desencontrar e o viver “perdido” é algo que é possível aos grandes filósofos homens. Não foi relatado o caminhar (na vida e no mundo) de nenhuma mulher. Isso diz muito...A quem esse caminhar é permitido (mesmo no vacilo de escolhas erradas).

Caminhar para se encontrar é um grande privilégio. Às mulheres, não é naturalizado caminhar, muito menos se perder por aí.

Apesar das considerações acima, um livro inquietante! Recomendo a leitura.

Adriana Scarpin 03/03/2022

Quem me conhece sabe que sou imensamente influenciada pelo caminhar, desde a infância e minhas peregrinações pela nossa propriedade rural, passando pelos anos em que morei em Londrina e atravessava a cidade de cabo a rabo sem nunca pegar ônibus ou carro até as contemplações dos dias de hoje. Não dirijo até hoje porque prefiro caminhar, muito embora o sol e o calor estejam muito mais insuportáveis hoje do que há 20, 30 anos.
É sobre essa paixão que fala esse livro de Frederic Gros, fazendo distinção aos mais diferentes tipos de caminhar e perpassando com isso a história da filosofia, é um belo tratado sobre uma das mais prazerosas e intelectualmente estimulantes atividades concebidas pela humanidade.
Não sem contar com dois poréns, o primeiro é a ausência de um texto sobre Freud que também amava caminhar e, o segundo é mais importante, é a ausência de um exemplo feminino de caminhar e o abismo de dificuldade que mulheres encontram ao caminharem sozinhas, seja na natureza, seja nas cidades como flâneuse. É impressionante que a gente sempre tem que lembrar aos homens que mulheres existem, se não somos nós mesmas que temos que falar sobre o assunto em questão ninguém o fará por nós, por isso acho que talvez estivesse melhor servida se lido o livros da Rebecca Solnit ou Lauren Elkin que também discorreram sobre o assunto.

Caio194 21/02/2022

Um conjunto heterogêneo de ensaios sobre filosofia e literatura que giram em torno de um tema comum - a caminhada, principalmente na natureza ("fazer trilha"). Alguns são muitíssimo interessantes, outros bastante superficiais. Fica a vontade forte de pegar uma trilha, e a impressão de que às vezes o oxigênio não chega nas ideias.

Bia 12/02/2022

Recebi o livro através de um clube de assinatura e, confesso, não esperava tanto dele. Mas o livro é surpreendente! Uma delícia de ler (apesar de alguns momentos mais arrastados e densos).

David William da Costa 21/01/2022

O livro tem seus altos e baixos
O começo do livro é fascinante, te prende já no primeiro capítulo, quando o autor fala sobre o ato de caminhar, de refletir ao caminhar, dos significados, formas de caminhar, etc. ele tende a passar para o leitor esta vontade de sair andando e deixar tudo pra trás. Porém da metade do livro para frente ele começa a ter seus altos e baixos, como o autor é mestre em filosofia, ele tende a falar sobre mestres da filosofia e contar as histórias deles com o ato de caminhar, nisto vejo que o livro torna-se maçante, fica bem difícil ler sem abrir a boca de vez em quando, o final do livro ele se salva um pouco.

Pra mim é um livro que vale a pena ser lido, mas que as vezes exige paciência.