spoiler visualizarAbduzindolivros 08/04/2023
Tudo nessa saga é cíclico, como jogar uma pedra no centro de um lado e ver as ondas se formando. Na primeira trilogia, imergimos em questões políticas, sociais e ambientais, enquanto acompanhamos os rumos da Casa Atreides: sua queda, a ascensão de Paul como Muad'Dib dos fremen e Imperador, nova queda do Império e a retomada do Caminho Dourado por Leto II, filho de Paul.
Mas, no meio desse turbilhão, tinha uma questão latente que foi bem evidenciada nesse livro aqui: o sexo. Como arma, como distração, sinal de amor, perversão, plano de reprodução ? no fim, o desenrolar de todos os planos dentro de planos se deu sobre lençóis de seda.
E eu já tinha terminado a primeira trilogia pensando, por exemplo, sobre os porquês de Lady Jessica ter desobedecido os planos das Bene Gesserit e ter gestado um menino (Paul) quando era para ela ter uma menina. Ela fez isso pelo seu amor pelo Duque, e fica subentendido que esse amor se deu por causa de uma ligação sexual muito intensa entre os dois.
E isso é mencionado várias vezes na primeira trilogia, quando Paul, depois os gêmeos, têm acesso às memórias ancestrais e sempre relembram da intimidade sexual entre Jessica e Leto. Um contraponto importante com o pai de Jessica, o Barão Harkonnen, que era um pervertido sexual, incapaz de amar e sempre pronto para destruir em nome de sua compulsão. Além das próprias Bene Gesserit que não anteviram a possibilidade de uma acólita fugir dos seus planos.
Não tem como não pensar nisso depois do salto temporal de 3000 anos entre os Filhos de Duna e O Imperador Deus de Duna, ao ver o desenrolar dos planos de reprodução de Leto II e o que ele pretendia com tudo isso.
No final da primeira trilogia, eu fiquei curiosa para ver o que seria o Império de Leto II e suas contradições; até comentei isso aqui sobre ele: ?um ser que não é mais humano, mas que os governa; uma criatura consciente de que o universo é mutável e que precisa fluir com essas mudanças, erguendo um império que irá durar quatro mil anos; um deus que trará a paz, cujo final será o oposto?. E ele foi tudo isso ? um ser cheio de contradições em um planeta contraditório: Arrakis nunca fora tão árida, mesmo estando coberta de vegetação.
Cada lição que ele quis ensinar para o povo, ele conduzia-os pelo caminho oposto. Exemplo: vocês devem aprender a ter fé em si mesmos. O que faço? Me proclamo Deus, crio uma religião e um exército para proteger meus dogmas e eliminar os hereges. E isso é só um exemplo do que rolou ali... Cara, é de explodir a cabeça.
São muitos detalhes compondo o cenário, cada pecinha montando uma imagem; eu avançava na leitura e me distanciava para tentar visualizar o panorama geral, todo o tempo de codificando cada cena, frase, diálogo, para compreender o que estava acontecendo. Isso torna a leitura mais arrastada e exaustiva (apesar desse livro ter uns trechos bem rápidos), mas eu simplesmente não consigo largar. Sempre preciso ir até o final para entender (um pouco).
E o Francisco Roberto não dá trégua, o cara mete um fato em cima do outro e a gente que lute para acompanhar. Como sempre, quando eu achava que sabia o que estava acontecendo, ele esfregava uma reviravolta estapafúrdia (mas com sentido) na minha cara.
Ora, é como Leto II diria: precisamos de surpresas, o universo é mutável.