Maldita Morte

Maldita Morte Royuela...




Resenhas - Maldita Morte


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Vitoria.Bueno 14/03/2017

Não é para qualquer um!
Gregório, ou simplesmente Goyo, como é também conhecido, é um anão amargo e cruel que teve uma vida horrível. Sua mãe era uma puta, seu irmão o odiava e já quase o matara, e as pessoas da cidade onde mora o tratam com desprezo por causa de sua deformidade.
No decorrer dos anos, o protagonista cresce com uma visão cruel do mundo onde vive, e conhecemos cada um de seus passos em sua longa jornada. Conhecemos suas paixões, sua ida para o circo após sua mãe o vender para o dono do lugar, sua fuga do mesmo, seu propósito em meio a política espanhola e posteriormente, seu enriquecimento.

O livro é narrado em primeira pessoa e se divide entre momentos passados e presentes. O protagonista sabe que sua vida está prestes a acabar e presenteia o leitor com a história de sua vida, literalmente. O personagem conversa com o leitor em muitos momentos.

Goyo sofreu muitos traumas, a maioria deles, devido à sua aparência e sua posição social.
Conhecemos um personagem que ao se deparar com uma sociedade preconceituosa e recriminatória, tenta ao seu modo, ganhar confiança pessoal e poder.
Além disso, temos como plano de fundo os acontecimentos políticos da Espanha no momento narrado.

O livro tem um bom enredo, que funciona bem, porém, a leitura é deveras cansativa e cheia de momentos desnecessários. Há instantes em que a estória flui bem, mas ela rapidamente cai novamente, se tornando arrastada. O final foi gostoso de ler e não tenho do que reclamar dele, mas o restante, foi cansativo, com pequenos momentos de alívio na leitura.
Não digo que o livro é ruim, de maneira alguma, como eu disse, a estória funciona bem nesse contexto e cativa, inicialmente o leitor. O problema está na escrita complicada e cheia de rodapés, e também na enrolação dos momentos descritos.

Recomendo para aqueles que gostam de leituras mais complexas e um contexto dentro de problemas sociais. Também acho que vale a pena para aqueles que nunca leram literatura espanhola e querem conhecer. E principalmente, esse livro é para aqueles com estômago forte.

site: http://ateoriadaslaranjas.blogspot.com.br/2017/01/maldita-morte-fernando-royuela.html
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Arsenio Meira 03/07/2013

Humanidade, Desprezo e Impostura
Não esperem uma resenha tradicional.

Não é um romance fácil, de entretenimento.
O personagem é singularíssimo; a trama repleta de exemplares cruéis, bem representativos da tal "condição humana".

No entanto, é possível vislumbrar algumas camadas poéticas de tamanha impostura que as pessoas jorram.

Acho agradável e essencial todo tipo de livro que não pretenda ser aquilo que não é.

O orgânico, verdadeiro, sempre encantam. A impostura e a arrogância causam desgosto e tédio.

"Maldita Morte" é, na minha opinião, um romance de primeira linhagem. A ficção e a História (no caso, a História recente da Espanha), encontram uma definitiva aproximação com o poder de alcance da linguagem.

De tal amálgama resulta uma impressão muito viva e muito dolorosa. O leitor precisa situar o que se passa no seu âmago e o que reside fora dele; não nos é permitido desprezar nenhuma linha.

Fernando Royuela deu vida a personagens incomuns, complexos, capazes de parir humor e drama na medida exata.

O inusitado já acena bem no início do livro. E nos acompanha, como a marca na carne pretejada e lacerada pelo ferrete do que é real.
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jota 29/05/2013

Bendito livro!
Maldita Morte começa com um parágrafo marcante: “Ao longo de minha vida conheci uma infinidade de filhos-da-puta e a nenhum desejei uma morte ruim. Com você não vou fazer uma exceção. O ser humano perdura pelo mundo sem se dar conta da tragédia que o aguarda. Uns inventam deuses para remediar a angústia, outros, ao contrário, atendem ao imediatismo do prazer para afugentar o inevitável, mas todos no final são medidos pela rigorosa igualdade da extinção. Eu já estava advertido do fim, mas jamais pensei que fosse acontecer dessa maneira.”

Por esse belo início já se tem uma ideia do que mais Fernando Royuela irá nos oferecer pelas mais de trezentas páginas restantes. Se você, em vez de muita ação pode gostar um pouco mais de reflexão, talvez Maldita Morte lhe pareça um livro perfeito então. Ou não. Mas ele nunca será um livro apenas mediano, longe disso, impossível.

Bem, quem aqui conta suas aventuras, venturas e desventuras é um personagem insólito, Gregório, um anão que a vida e a sociedade tornaram um tanto cruel e que, dependendo da ocasião, é incapaz de compaixão até mesmo por uma criança faminta. Ele é o narrador e, evidentemente, o protagonista principal deste livro. O título Maldita Morte parece de romance policial, mas a ficha catalográfica diz apenas "Romance espanhol" e é isso mesmo. Embora esse relato seja do gênero picaresco.

Desde que pronunciou as palavras iniciais de sua história, Gregório vem contado a alguém – supostamente aquele/aquela que veio para dar-lhe fim, a “maldita morte” do título – os episódios de sua vida e a história de várias pessoas que cruzaram seu caminho e contribuíram para que as coisas caminhassem para a situação final. Personagens com vidas singulares, como não podia deixar de ser, dos quais Gregório sempre procurou extrair alguma coisa em seu benefício e mesmo trair alguns ou acabar com a vida de outros.

Depois de uma infância miserável, um dia a mãe, uma prostituta para caminhoneiros, doa o pequeno adolescente para o proprietário de um circo mambembe e lá vai Gregório conhecer o mundo (espanhol) e muitos outros filhos-da-puta, que vão alterar cabalmente sua vida. Para contar a história de Gregório, Fernando Royuela vale-se de uma tradição literária espanhola do século XVI, o gênero picaresco.

Explica a estudiosa Ana Maria Platas Tasende, “A categoria da narrativa mais importante na definição do romance picaresco é a da personagem, pois o protagonista desse tipo de relato é justamente um pícaro. O pícaro é qualificado como uma personagem de condição social humilde, sem ocupação certa, vivendo de expedientes, a maioria dos quais escuso.” Exatamente o que faz Gregório o tempo todo.

E segundo outro estudioso, González de Gambier, “(...) o pícaro – anti-herói por excelência - possui uma filosofia de vida assaz particular: é materialista, primitivo, desleal, manifestando inclinação para a fraude e a vadiagem.” Prato cheio para a literatura, não? E com que felicidade Royuela maneja todos esses ingredientes para nos servir a história de Gregório!

Sim, o anão perverso é tudo isso, um somatório de imperfeições humanas, mas também é um sagaz observador da história recente da Espanha, principalmente dos tempos em que o país viveu sob o caudilho Franco até a redemocratização a partir da morte do general em 1975. Mas não apenas isso: depois de muita história e jorros de palavrões os mais cabeludos, ele é capaz também de fazer poesia em prosa, como neste trecho:

“Os poetas, assim como os loucos e os cães, são dados a perceber a agonia do tempo dos homens, a fugacidade de suas épocas e a inutilidade de seus empenhos. O que pode haver detrás da consciência senão a morte?”

Então, pela poesia, pela história singular que narra, pelo personagem e o modo como foi escrito e termina, este não é um livro para multidões mesmo. Também não se pode lê-lo rapidamente, através de leitura dinâmica, como costumo fazer com muitos livros; as palavras e as frases aqui têm de ser lidas com vagar e saboreadas devidamente. Por essas e outras, Maldita Morte é um grande livro, sem dúvida.

Lido entre 16 e 29/05/2013.
Arsenio Meira 10/07/2013minha estante
Espero que as pessoas gostem de sua análise, e leiam este romance, que é muito acima da média. Vale 5 estrelas!


jota 10/07/2013minha estante
Realmente, Arsenio, o livro de Royuela é acima da média e, por isso mesmo, não é para todo mundo.


Arsenio Meira 10/07/2013minha estante
Mas seria interessante que as pessoas sacassem a importância... É utopia e etc, eu sei, mas deixa pra lá. De qualquer modo, as pessoas podem se interessar a partir de boas resenhas ou análises, como a que você escreveu.


Marita 03/08/2013minha estante
Perdoe-me Jair, mas sua afirmação de que "o livro de Royuela é acima da média e, por isso mesmo, não é para todo mundo", em resposta a um elogio do outro leitor sobre sua resenha(leitor este que nem conheço virtual ou pessoalmente), é de uma grosseria que pouco li ou vi neste site. Se eu estiver equivocada, peço-lhe desculpas.

Até iria comentar sobre sua resenha, mas resolvi silenciar, pois não sei se, conforme seus exclusivos critérios intelectuais, sou digna de ler o romance do Royuela.


jota 03/08/2013minha estante
Antes de mais nada, não pretendi ser grosseiro com ninguém. Brasileiro lê pouquíssimo (são as estatísticas que dizem, não sou eu apenas) e alguém que lê mais de 50 livros por ano em média, sem fazer trocadilho, é um leitor acima da média, como há vários por aqui (não a maioria, infelizmente). Também há livros que não são para qualquer leitor mesmo, e um dos mais conhecidos é, certamente, Ulysses, de James Joyce, mas poderia citar vários. Longe de Maldita Morte ser complexo como um livro de William Faulkner ou Franz Kafka, por exemplo. Mas por tratar-se de um romance picaresco (ainda que com escrita bastante moderna) não deve mesmo agradar muita gente, claro (foram apenas 18 leitores até o momento e a obra foi lançada em 2005). Originalmente, escrevi que "este não é um livro para multidões mesmo", depois, no comentário trocado com outro leitor, que Maldita Morte não seria leitura para todo mundo. E não é mesmo, e pensava especialmente nos leitores de certo tipo de literatura fácil (ou comercial, etc.) que é muito apreciada por aqui e que recebe médias altas, capazes de deixar escritores geniais como Machado de Assis ou Dostoievski envergonhados na tumba. É só ler algumas barbaridades de que as pessoas se valem para criticar obras consagradas da literatura universal, clássicos modernos, bons livros recentes, etc. Alguém que escreveu que O Apanhador no Campo de Centeio conta "uma história maçante", ou que é um "livro bobo" ou ainda, que encerra "uma história ruim", somente para ficar com certas resenhas que li, desconhece o valor de uma obra literária consagrada como o livro de J. D. Salinger e vai ficar pouco à vontade com Maldita Morte, se é que algum dia vai se interessar por ele. E não apenas por este livro, mas por quase tudo o que leio. Certamente não sou parâmetro de leitura para ninguém nem quero ser (ser seguidor de alguém não implica ler ou gostar dos mesmos livros do seguido) e tampouco faço resenhas ou resumos provocar discussões ou ganhar elogios. Mas para registrar um pouco do que li e revisitar no futuro, já que não coleciono livros, e sim, costumo trocá-los. Ah, e acredito ser melhor que as pessoas leiam livros ruins ou médios a não ler nada...


Arsenio Meira 03/08/2013minha estante
Marita, não há ou houve qualquer grosseria. Não raro, a comunicação por escrito pode causar interpretações equivocadas, como foi a sua.

Eu, se acreditasse ou sentisse qualquer indelicadeza do Jair ao responder-me, eu mesmo tentaria me entender com ele, já que aprecio a forma como ele encara ou vivencia a literatura.

O Jair sempre se portou de maneira respeitosa com todos aqui, ao que me consta. De mais a mais e suas resenhas são bacanas, instrutivas e muito bem alinhavadas.

E o desprendimento dele, pois eu coleciono livros, e raramente troco, rsrsrs.

Mas Jair, ela pediu desculpas antecipadas, caso estivesse equivocada, portanto deixemos pra lá.




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