Nancy 11/07/2022
Diferente, porém nada extraordinário
A ideia do livro é diferente das demais histórias que você encontra hoje no mercado literário e isso é algo que deve ser reconhecido. Todavia, essa nem é a maior conquista de Danya Kukafka, afinal, escrever um livro sobre um serial killer pode ser um pouco mais desafiador do que parece - e eu percebi isso enquanto lia.
É inegável que diversos filmes, livros, podcasts, documentários etc, quando decidem narrar a vida de alguém que ficou conhecido por uma série de crimes - em especial, serial killers - é muito fácil cair na armadilha de romantizar a personalidade. Verdade seja dita, estamos em 2022 e ainda vemos filmes que demonstram o Ted Bundy como um garanhão, charmoso e que foi incriminado por uma série de assassinatos. No livro, a autora apresenta três narradoras femininas (além do personagem principal) para relatar alguns momentos da vida de Ansel e, durante muitas vezes, eu me perguntei o por quê Kukafka haver optado por não narrar o ponto de vista da Jennie, já que ela é uma personagem essencial para a história e, lá pela metade, eu me toquei: foi o cuidado da autora de não romantizar Ansel e, assim, tornar o serial killer uma pessoa que o leitor pode acabar gostando. Pelo o contrário, sempre que alguma das personagens narradoras começava a desenvolver sentimentos por Ansel, até o final do capítulo, você já tinha alguma razão para não gostar mais dele. Portanto, pontos para o livro.
No mais, acredito que não foi tão revolucionário assim. Quando eu terminei, já sabia que seria mais um desses livros que em 2 anos eu já não lembraria tanto da história, mas, durante a leitura, foi interessante.
Só teve uma única questão que me incomodou um pouco, que foi o fato que parecia que a autora queria fazer uma crítica a todas as mídias criadas para contar histórias de true crime e o tanto que as pessoas são fascinadas por isso. Acho que sim, quando você é um criador de conteúdo focado nisso, você tem que ter um pouco mais de tato em relação aos demais (eu mesma acho ridículo quando fazem vídeos como "contando a história de Charles Manson enquanto comemos macarrão", chega a ser insensível com todas as vítimas). Mas a autora está, justamente, fazendo um livro sobre um serial killer - ela está lucrando com algo que ela mesma está criticando. Acho as críticas válidas, mas não quando acaba recaindo a algo que você mesmo está fazendo, porque ai se torna pura hipocrisia.
No final, dou três estrelas. É um livro bom, não considero uma perda de tempo, mas também não é um livro que vou lembrar para o resto da minha vida.