Robson 25/09/2023
Juiz Dredd – América – O Fascismo que fascina
Na história que consta na primeira edição – Carta de uma democrata, vemos todo o tom que irá permear o restante da história, e o cinismo e a crueldade vão tomando conta da história a medida que as páginas vão passando, é por assim dizer a história que é um gatilho para o desenvolvimento do tema.
Como o próprio Juiz cita em uma outra mídia, mega city um é verdadeiro moedor de carne, e aqui os personagens irão confirmar essa teoria perversa das piores formas possíveis, o ponto alto do desenvolvimento da história, é que os personagens da América Jara e Bennett Beeny parece que estão presos em seu curso de ação, o leitor vendo ali o que eles passam, são totalmente imersos nas histórias de ambos e penso que seria totalmente não condizente com a história caso tivesse qualquer coisa ou pontos diferentes, e isso é muito mérito de John Wagner e cia, a arte de Colin Macneil sabe criar tensão de forma incrível quando a medida que vão passando os quadros menores para depois nos jogar na cara umas splash pages e o resultado é bastante satisfatório.
Um detalhe bastante interessante também é ver como o Departamento de Justiça está dentro de todos os níveis daquela sociedade, conseguindo eventualmente até mesmo sabotar os esforços democráticos dos cidadãos em mega city um, de forma efetiva e desta forma garantindo assim a manutenção e perpetuação do poder que estes possuem, e isso cria a lógica como conhecemos na base da hq e da megona.
Quanto ao personagem Dredd, também é bastante desenvolvido mas aqui não toma as rédeas ou o protagonismo no texto, é mostrado apenas como o martelo que bate de uma sociedade já há muito “apática e apagada”, que simplesmente optou por viver confortavelmente ao invés de lutar por direitos ou se “juntar” a personagem da América Jara, e o final é perturbador, sombrio, cruel, enfim, aqui fica difícil não ver o personagem principal como apenas um vilão mesmo, mas ainda que na história de América e Beeny, as últimas histórias curtas escritas por Garth Ennis nos mostram um outro viés em que com o tempo, o Juiz acaba vendo “melhor” os caminhos talvez equivocados que pode tomar apenas sendo uma ferramenta de um sistema corrupto e que não funciona como deveria, de que adianta ser o certo e incorruptível se você está do lado errado e é apenas uma marionete, o texto é simples porém primoroso no que se propõe a fazer, e também um enorme aviso para os caminhos dos quais não devemos tomar parte, a democracia pode ter os seus problemas e não ser lá muito fácil de colocar em prática, mas a alternativa...