Ari Phanie 21/12/2022Que o fogo queime forte por você, Shannon Chakraborty!
Tem uns spoilers logo ali, meu anjo...
Há muito tempo eu não terminava uma série/trilogia/whatever de fantasia e pensava: “Caramba, como vou sentir falta desse mundo e desses personagens!” O que a autora proporcionou a muitos de seus leitores com a história de Daevabad foi uma experiência surpreendente, e realmente mágica. Eu embarquei nesse mundo no ano passado depois de ter deixado o primeiro volume sentado na minha estante por muito, muito tempo; sem esperar nada e recebendo muito. Foi uma das melhores introduções que eu li dentro da fantasia, especialmente porque foi um sopro de originalidade dentro de um gênero bastante desgastado. Já o segundo volume fez o que eu não estava esperando: expandiu o mundo e desenvolveu personagens; e isso mantendo o mesmo nível de qualidade. Para o terceiro e último volume, eu esperava bastante, e a Chakraborty entregou tudo!
O Império de Ouro começa seguindo os acontecimentos do final de O Reino de Cobre, então nós vemos a querida mãezinha de Nahri se estabelecendo como a nova toda-poderosa de Daevabad ao lado do guerreiro mais lindo de todos os tempos, Dara; enquanto isso Nahri e Ali que fugiram de Daevabad acabam no Cairo, de volta ao lugar de onde a nossa protagonista saiu. Os pov’s iniciais de Nahri e Ali são mais tranquilos com os dois se recuperando e começando a elaborar um plano de retomada da sua cidade. Esses pov’s também trazem o desenrolar do relacionamento dos dois que passa de uma amizade platônica para algo com muito flerte e bochechas corando, o que é uma das pouquíssimas coisas que não me agradou nesse terceiro livro. Na realidade, a relação de Nahri e Ali não me agrada desde o começo porque me pareceu que seria o início de um triângulo amoroso. Mas, felizmente, a Chakraborty nunca perdeu muito tempo com romance, então não teve triângulo amoroso. Só que a relação de Nahri e Ali ter tanto foco me assustou e desagradou. O primeiro livro semeou o meu ship favorito e eu não consegui enxergar nenhuma outra opção. Além do mais, Ali nunca foi um personagem que eu gostasse de verdade. Mas não vou mais perder tempo nisso, é preciso falar do que realmente importa.
Apesar de certa calmaria em alguns dos capítulos iniciais, as coisas não demoram a pegar fogo real oficial. De repente, é tanta coisa acontecendo, tanta informação a ser processada que é muito, muito difícil largar o livro. E alguns capítulos contém tanta ação e tanto desespero que você lê prendendo o fôlego. Mas há capítulos com tanta carga emocional, tanta sensação de urgência e tão sombrios que eu não estava preparada pra eles, e esses são os capítulos do meu amado Afshin. Dara e Nahri estão lado a lado como meus personagens preferidos, mas nesse último volume Dara se sobressai. Os pov’s dele são intensos, dolorosos, sombrios, trágicos, e por isso mesmo, são os mais impressionantes e os quais eu quis que fossem muito mais longos. Desde o começo, o Dara é um personagem superinteressante. Ele tem um passado horrível, e por isso mesmo, muito ódio no coração. E tudo o que ele sabe da vida é servir os “deuses” do seu povo. E por servir esse pessoal é que ele faz inúmeras merdas. Ele é extremamente leal aos Nahid, mas graças aos deuses, nesse livro ele percebe que pode ter colocado toda a sua lealdade no lugar errado, e passa por poucas e boas ao perceber que as escolhas que fez causaram tanta dor. Dara é o perfeito anti-herói e tudo sobre ele é complexo, portanto, não há possibilidade de não gostar da história dele. E infelizmente, pra mim teve muito pouco do Dara. Eu espero que a autora tenha escrito ou escreva muito mais sobre esse meu guerreiro lindo e sofredor. Ele merece.
A minha outra personagem favorita, a dona da história, teve também um ótimo desenvolvimento, sem perder as características que conquistam desde o início. Nahri passa por inúmeras provas de fogo, por inúmeras reviravoltas e tragédias, e só fica maior e melhor. É impossível não gostar dela e de tudo o que ela representa dentro da história. É, sem dúvida, meu tipo de protagonista.
Por outro lado, temos Ali, o outro personagem principal, que eu não vou com a cara por ser comparável a um filhote de golden retriever que manja dos paranauê, mas que está envolvido com questões interessantes, como os seres chamados marids, e também com bastante da ação da história. Ali, na verdade, é um ótimo personagem, mas ele só tem uma personalidade: a de bonzinho. Não me cativou e o final dele não me agradou, mas eu sinto que é bastante injusto da minha parte, só que foi impossível pra mim sentir diferente.
A outra coisa na história sobre a qual eu tenho a reclamar (além do romance Nahri+Ali) é o fato de que a Chakraborty insiste em matar os seus personagens e trazê-los de volta. Para alguém com um poder narrativo como o dela, usar essa tática é covarde. Apelar pra isso uma vez, beleza, vai. Mas mais que isso não fica legal. E essas são os únicos defeitos que encontrei nesse livro, o que ainda assim, não me motiva a dá menos que 5 estrelas nessa belezinha. Na verdade, se eu pudesse daria uma constelação pra essa história.
Bom, finalizando: não estou pronta pra dizer adeus a essa trilogia de fantasia muçulmana que foi o sopro de originalidade que me conquistou de volta para o gênero. Foi uma viagem quase sensorial com muita intriga política, reviravoltas intensas, grandiosas cenas de ação, vilões sinistros, um bando de seres mitológicos superinteressantes, personagens verossímeis que conquistam e um final agridoce que emociona. Pelo olho de Suleiman, como já estou com saudades dessa história... Eu espero logo, logo voltar a esse mundo. Há muito que ainda pode ser contado, e eu só quero poder rever Dara e Nahri de novo. Amém, que o Profeta permita!
“Encontre sua felicidade, ladrazinha. Roube-a e nunca mais solte.”