Marcelo217 27/01/2024
Uma bonita homenagem
Essa HQ estava na minha lista de desejos há muito tempo e nesse último aniversário ganhei de presente. As expectativas foram criadas e, de certa forma, correspondidas.
A história, na verdade, é autobiográfica. O autor, Simon, relata uma perda ocorrida em meados dos anos 90 na Suécia, quando seu amigo, Kalle, morreu repentinamente. Em quatro capítulos, o autor gravita em torno do acontecimento, suas consequências e a lembrança do amigo que se foi.
O traço é bem original e colorido. A disposição dos quadrinhos junto das cores é interessante, pois passa certa emoção através desse conjunto. As características físicas dos personagens são simples, marcantes e fáceis de identificar durante toda a leitura. A narrativa através dos diálogos é complemento do contexto dado através das imagens, o que não torna a leitura cansativa em momento nenhum. Apesar de ser uma temática um pouco desconfortante, a história é transmitida de maneira natural e lúdica.
Simon elenca o declínio de sua vida, seu relacionamento com sua família, seus amigos e casos amorosos após a perda do seu melhor amigo. O apoio familiar, o ambiente (e o país) no qual ele vive foram determinantes, ao meu ver, para uma eventual superação (o que pode parecer irônico, já que a taxa de suicídio e/ou atentados à própria vida na Suécia é alta - cerca do dobro em relação ao Brasil). É possível perceber uma atenção aos transtornos mentais por parte dos pais e um diálogo saudável entre eles e Simon, fundamental para que houvesse uma recuperação plena. Além disso, o autor faz diferenciação clara entre traumas, depressão e o luto quando o personagem retoma o contato com a mãe do seu amigo falecido.
"Meu Amigo Morto" parece ser uma história de superação family-friendly (não é!) com ensinamentos e lembranças emocionantes sobre a perda, mas é um relato sincero e intimista sobre como a morte pode marcar permanentemente a vida de alguém. A emoção é transmitida de uma forma mais ou menos fria, mas sem deixar de ser genuína. O fato de Simon Gärdenfors estar disposto a retratar essa amizade interrompida, mesmo após tantos anos, representa, além de uma homenagem para seu amigo falecido, uma forma de eternizá-lo. Ao fim, a perda de Kalle é, de fato, eterna, mas vista sob a ótica dessa HQ, é um estágio de superação do luto materializado através dessas páginas. Para quem tem amigos e os amam, essa história é um lembrete de como a vida é fugaz e os que marcam nossa vida sempre permanecerão conosco.
PALAVRAS-CHAVE: HQ, amizade, adolescência, morte, Suécia, Polônia, judeu, meningite, ilustrador, saúde mental, depressão, luto, trauma, suicídio.