spoiler visualizarLoba Literária 26/02/2024
Faraônico babilônico mesopotâmico lacrônico divônico etc
Vamos tirar isso logo do caminho: esse livro tenta muito ser uma continuação, mas seria melhor como um spin off. Afinal, a maioria dele se passa antes dos eventos do primeiro. Acho que esse é o maior problema dele. A partir da parte 3, a leitura fica mais lenta e menos emocionante. Faz 4 anos desde que li o primeiro livro, então eu não me lembro de quase nada - a parte 4, que conta outro ponto de vista do primeiro livro, foi bem fraca para mim por isso (e eu tinha me esquecido de como o Tracker é CHATO). A força do livro está na história da Sogolon.
Esse não é um livro para todo mundo (e não acho que será publicado no Brasil, já que o primeiro não pareceu fazer muito sucesso no país). Ele é violento de todas as maneiras possíveis, e a violência contra a mulher é tão normalizada quanto nos livros do Martin. De jeito nenhum, ele não é para leitores de inglês iniciantes, utilizando uma linguagem super oralizada que eu imagino que se baseie em vernáculos africanos ou jamaicanos (Marlon James é da Jamaica). Muitas vezes, tive que reler trechos ou me perdia tanto no som do texto que só notava que não sabia o que estava acontecendo depois de meia página. Essa linguagem traz uma originalidade incrível ao texto, mas ele não é para os fracos.
Eu amei a Sogolon. Enquanto o primeiro livro é EXTREMAMENTE machista (muito graças ao Tracker), esse reflete muito sobre as mulheres desse mundo que o Marlon James criou. Sogolon é uma antiheroína vingadora, vítima de poderes maiores do que ela e pronta para vê-los queimar. E o Aesi é um ótimo vilão, junto com todos os outros personagens da corte. Na verdade, Sogolon não tem muitos outros do seu lado.
As partes 1 e 2 da história são as mais fortes, sem sombra de dúvidas. Adoro a dinâmica da Sogolon com outros personagens (principalmente com a família dela). Essas partes também me lembram um pouco de GOT, por girarem muito em torno da corte. Saber mais do passado da história foi ótimo, mais interessante do que o original. Esse livro dá muito contexto importante para o anterior, então não esperem 4 anos para lê-lo, como eu. A criação de Dolingo, então, eu adorei.
Infelizmente, acho que o autor cometeu um erro fatal na sua história depois disso. Vejam bem, eu adoro histórias de personagens imortais. Acho que podemos ver muita coisa sobre a natureza humana através dos olhos deles. E muito da carga emocional que eles trazem vem de todas as emoções e memórias das quais esses imortais são os últimos guardiões.
Então quando Marlon James faz Sogolon perder as memórias por motivo nenhum, e nunca recuperá-las de fato, isso se perde.
A carga emocional das ações da personagem enfraquece, porque ela só age porque o autor precisa que ela aja. Por que ela foi atingida pelo poder do Aesi, sendo que ela sempre o bloqueava? Não existe uma razão na trama para ela perder as memórias desse jeito. Tudo o que ela sabe depois é o que contaram para ela, o que é, no mínimo, decepcionante. Essa foi uma falha crítica e sem sentido na história (que me deixa revoltada, caso você ainda não tenha percebido) e não acho que tenha sido a única vez que a Sogolon sofre por motivo nenhum - às vezes, o sofrimento dela não desenvolve nem sua construção nem a trama, o que faz ser um pouco gratuito.
Eu não sei o que esperar do último livro, já que eu ficaria feliz em aceitar o final do segundo como um final aberto (assim como eu já aceitara o final do primeiro como um final aberto - talvez por isso meu cérebro tenha deletado a história inteira). Eu realmente achava que a Sogolon, para concluir o seu caminho, mataria o Aesi de vez, mas é muito mais complexo do que isso. Não consigo não dar menos de 5? para esse livro que me encantou tanto, mas não consigo dizer o que se encaminhará para o final dessa história, o que me incomoda. Mas se tiver a Sogolon, tudo bem.