spoiler visualizarapenas.sarah 05/12/2022
Vozes que condenam
Não está escrito o quanto esperei por esse livro. Venho desde os primórdios acompanhando os irmãos Bell nessas empreitadas religiosas malucas em que eles se metem; desde Tyler e Poppy, passando por Sean e Zenny e, agora, Aiden e Elijah.
Apesar de essa ser a grande temática da série, o que mais me chama atenção não são as cenas hot, mas sim a forma resoluta como a Sierra aborda a religião e os temas pesados que vêm junto, desde assédio, estupro, preconceito, depressão, suicido, entre alguns outros.(Sempre olhe a lista de gatilhos antes de ler um livro. Sempre.) Me toca muito profundamente o tato dela, ao mesmo tempo trazendo firmeza assertiva, mesmo as vezes enfiando um drama desnecessário.
Meu capítulo favorito é onde Aiden se abre sobre sua jornada com a depressão, me identifiquei com diversas coisas, em principal à voz depreciativa a qual ele chama de "coisa".
Digo que esse livro foi o mais enrolado da série Priest. Demorou muito para as coisas finalmente caminharem, me entediou bastante. Muitas explicações, muitos detalhes. Tenho noção de, por ela estar colocando uma temática não muito comum de se ver nos livros de romance (ainda mais romance LGBT+) seja difícil não pesar nas explicações, afinal, boa parte do público dela (ao qual estou englobada) não conhece o mundo católico/cristão afundo. Então, todas as classificações de monges, níveis de aprofundamento na religião, rotina, termos e mais, me eram desconhecidos. Gostei muito mesmo de saber dessa cultura através da escrita da Sierra.
A conexão entre Aiden e Elijah é fantástica, mas me cansou muito a quantidade de cenas de hot em sequência. Em determinado momento parecia que era uma atrás da outra e isso me incomodou bastante.
Tenho uma opinião sobre o modo como Aiden deixou Elijah no escuro ao ir embora e ainda depois por todos aqueles anos. Eu entendo isso de não conseguir contar à família, de sentir o perigo chegando a qualquer menção em voz alta (porque dizer em voz alta significa que é real, quando tudo o que mais se quer é que as vozes deixem de existir), mas é diferente quando se tem um parceiro. As pessoas se esquecem de que um cônjuge não é qualquer pessoa, esquecem de manter uma conversa aberta acerca do que está acontecendo. Um permitiu que o o outro pensasse que estava tudo bem quando na verdade não estava e isso é terrível. Entendo também o lado do Aiden em manter silêncio quando durante toda a vida ele próprio foi colocado como o irmão que não tinha atenção suficiente porque todos estavam ocupados demais com os assuntos uns dos outros para se preocupar com ele. Eu entendo. Mas esconder as coisas de um cônjuge não é uma opção, ainda mais quando a relação deles era tão bonita. É claro que entendo tudo isso, mas não vou bater nas costas do Aiden e consolá-lo, as coisas não funcionam assim. Depois de uma crise, todos temos de assumir a responsabilidade pelos nossos atos. Faltou muita responsabilidade com Elijah e isso é explícito durante todo o livro.
É um padrão da Sierra firmar o casal vinte porcento antes do livro acabar, jogar uma complicação que forçam eles a se separarem para vir o reencontro emocionante que vai consolidar o final. Isso funcionou comigo com Sean e Zenny (realmente entrei em desespero por pensar que acabaria daquela forma), mas Aiden e Elijah só me irritaram nessa parte, achei bem desnecessário, mas até que foi uma conclusão legal.
Gostei bastante de ter voltado ao universo dos Bell; e no menor sinal de um próximo livro, eu estarei lá.
Um adendo: ler esse livro ouvindo All Night, da Beyoncé, fez toda a diferença.