Helder 31/07/2023Redescobrindo o BrasilEste livro me trouxe aquilo que procuro em literatura: conhecer novos mundos e culturas.
E o mais incrível é que este outro mundo está aqui no Brasil mesmo, mas tão distante da nossa realidade, que precisei que um búlgaro se naturalizasse brasileiro e percebesse que esta era uma história muito interessante e merecia ser contada.
A filha dos rios não é um livro perfeito, pois podia ser um livro épico contando a história de Maria, a filha dos rios, mas tem um pequeno problema de narrativa onde acho que o autor se perdeu um pouco e acabou quase dividindo o livro em duas histórias, mas ambas foram tão interessantes que já me deu vontade de indicar este livro para todos e ler os outros livros do autor.
Você já leu algum livro passado em Rondônia, ou na fronteira entre Brasil, Peru e Bolívia?
Pois é por lá que a história começa e que acontece durante diversos anos.
Em meados do século XX conhecemos Adriano, um caboclo que está numa canoa descendo o rio Purus, um afluente do Amazonas que nasce no Peru e chega no Brasil passando pelo Acre e Amazonas. Numa de suas paradas em uma grande lagoa existente neste rio, ele encontra uma família e recebe uma encomenda da mãe para que leve sua filha embora dali, antes que seu marido faça mal a menina que está entrando na puberdade.
Sem opção, ele aceita a missão, e segue com a menina para um lugarejo chamado Surara, onde se estabelecem. Porém logo Maria se torna uma bela mulher e o sentimento de cuidado de Adriano passa a ser algo diferente, e logo se torna recíproco.
Com o tempo, o casal recebe uma proposta para ir trabalhar em Manaus, e lá conhecem um casal, onde o rapaz herdou um seringal chamado Quatro Ases no meio da Amazonia e eles seguem para lá em busca de tentar recuperar o ciclo da borracha, mas sem saber que isso lhes trará duras consequências.
O tempo passa e o autor aparentemente se esquece de Maria e nos traz uma nova história, onde conhecemos Oleg, um judeu búlgaro que veio parar no Brasil fugindo do regime comunista e arruma um emprego com um tio que já tinha vindo antes para o Brasil e montou uma empresa que vende peças para motores a serem usados em garimpos de ouro no Rio Madeira.
Numa de suas viagens para “conhecer seus clientes” junto com um funcionário do tio, Oleg se apaixona pela aventura daquele local e decide se tornar um garimpeiro, onde sua história vai se amarrar a história de Maria.
E assim, a partir de um círculo de personagem que passam a gravitar ao redor de Oleg, temos uma aula sobre os garimpos da região da Amazonia, sem julgamentos, sem “eco chateação”, mas sim quase como uma declaração de amor a uma realidade dura e que aqui se torna até bela, mesmo com todos os problemas sociais (Prostituição, violência) e perigos que o autor nos mostra.
E pelos olhos do autor viajamos para um Brasil completamente desconhecido.
A família de Oleg é judia e sobreviveu ao holocausto nazista para cair nas mãos dos comunistas e o livro no mostra que aquela região da Amazônia recebeu imigrantes de diversos países europeus no pós guerra.
Ler este livro me trouxe uma sensação estranha, pois percebi o quanto nós, do sul e sudeste, temos preconceito com a região norte, portanto acredito que esta seja uma leitura essencial para abrir nossos horizontes e perceber que lá para cima existe muita gente boa também.
De uma chance para este livro, pois vale muito a pena. E o final é tão bonito e reflexivo que é possível que seus olhos fiquem um pouco “mareados”
Posso dizer que eu encerrei meu mês com chave de ouro!
Sem trocadilhos!