Flávia Menezes 29/04/2022
QUANDO UM HOMEM VAI À TERAPIA, SUAS MULHERES TAMBÉM IRÃO.
?Os homens no meu divã?, da psicóloga clínica especializada em terapia sexual Dra. Brandy Engler, foi publicado nos Estados Unidos em dezembro de 2012. Porém, em terras brasileiras, o livro só chegou recentemente, em fevereiro deste ano.
Encontrei esse livro (ou foi ele que me encontrou?), enquanto andava por uma livraria da minha cidade, e depois de folhear apenas algumas páginas, fiquei bastante curiosa para poder ler mais sobre a história daqueles homens. Afinal, não é fascinante poder entrar na mente das pessoas, e poder entender mais como as coisas acontecem ali dentro?
Bom... talvez este seja o meu lado psicóloga falando mais alto, mas preciso te contar que, quando lemos sobre a história das outras pessoas, isso nos faz pensar na nossa, e a partir daí, podemos compreender muito do que acontece dentro de nós mesmos.
E isso é exatamente o que este livro nos proporciona. Porque não são apenas casos clínicos que foram acompanhados pela Dra. Brandy Engler. Ela também nos traz as suas impressões mais íntimas sobre cada caso, assim como nos conta o impacto que essas histórias tiveram na sua mente de mulher.
Além disso, algo muito particular que acontece nesse livro, é que nesse período de atendimento em Nova Iorque, a Dra. Brandy criou capítulos paralelos em que ela, a psicoterapeuta, conta sobre seu próprio relacionamento amoroso da época, não escondendo nada. De sentimentos, sofrimentos, erros, medos e anseios, até como foi todo o desenrolar da sua história amorosa. Afinal, psicólogos também erram, também sofrem, também se sentem perdidos. E é isso que os fazem ser tão bons psicólogos: sua humanidade! Sua capacidade de compreender o outro, de ter uma escuta empática que se conecta no mais profundo do outro. Sem condenações. Mas com muita empatia.
E humanidade é o que não falta na Dra. Brandy Engler. Aliás, essa é uma coisa que admiro nos livros escritos por psicólogos americanos: eles não têm medo de ir fundo e revelar o que se passa na mente dos psicólogos durante as sessões. E nos ajuda a compreender como essa dinâmica terapeuta e paciente se dá, e como ela fortalece as relações terapêuticas.
Porque a terapia é como qualquer outro relacionamento: primeiro você conhece, depois você passa para a fase de tentar estabelecer uma confiança, para que a partir daí o laço se crie...ou não. E isso a Dra. Brandy também fala no seu livro: sobre os pacientes que desistem, e simplesmente dão as costas. O que é algo muito comum durante o começo do processo terapêutico, quando todos os medos e expectativas ainda estão presentes, e se erguem como um muro que dificulta o acesso do psicoterapeuta ao paciente.
Mas coragem é uma coisa que a Dra. Brandy Engler tem de sobra. Coragem de se mostrar verdadeira, autêntica, e sem medo de revelar sua humanidade. E coragem também para se lançar nessa especialidade da terapia sexual, tão cheia de rótulos. Que é algo que essa psicóloga já quebra logo de cara. Afinal, ela é uma mulher tradicional, nada liberal, que também tem seu lado romântico, que acredita (e apenas se envolve!) em relações meramente monogâmicas.
Lidar com esses rótulos é algo muito complexo, mas faz parte, inclusive, do processo terapêutico. Passar pela enxurrada de perguntas sobre suas especializações, sobre sua experiência em determinada área, competência, utilidade, faz parte do estabelecimento da relação paciente e terapeuta, e é algo que todo psicoterapeuta passa. Afinal, esse é o momento das dúvidas, e mesmo no mundo moderno em que vivemos, muitas pessoas ainda desconhecem o processo da psicoterapia. O que dirá de uma terapia sexual?
Até porque falar de sexo, mesmo no mundo de hoje, ainda é um assunto delicado. Não importa quanta nudez exista nas novelas, filmes e seriados. Não importa o quanto de informações a internet nos proporciona sobre o assunto. Não tem nada a ver com ter ou não acesso à pornografia. Assim como não tem nada a ver com a promiscuidade.
Sexo é um assunto deliciado, porque é uma parte muito íntima de cada um de nós, e é onde também se revelam nossos medos, nossas inseguranças, nossos traumas, nossos desejos, nossas carências, nosso desejo de amor. Por isso que Sigmund Freud, o pai da psicanálise (na verdade, o pai da psicanálise foi Breuer, mas vou deixar assim apenas pela fama que ele tem) a levava tão à sério. Porque falar da sexualidade, é falar do mais íntimo que reside em todos nós, e nossas tendências sexuais revelam muito mais do que imaginamos.
No começo, fiquei um pouco receosa com a condução que a Dra. Brandy Engler tinha em algumas psicoterapias, pois poderia levar o leitor a realmente acreditar que essa terapia tinha o intuito de tornar as pessoas mais "liberais". E trabalhar as questões sexuais, não tem a ver com fazer com que as pessoas se abram a experiências sexuais mais variadas. Mas em conhecer o próprio corpo, e o que lhe causa ou não prazer. Assim como, o que se esconde por trás disso tudo.
Mas é claro que a Dra. Brandy Engler foi mostrando, ao longo das páginas, toda a sua condução terapêutica brilhante, conduzindo o leitor para que ele compreenda como o processo da terapia se dá. Ela vai trabalhando as expressões sexuais de cada paciente (e algumas vezes, de suas parceiras), para que cada um compreenda como ele se dá, e quais são os medos, os traumas que se escondem por trás de cada um deles para, a partir daí, poder realizar todo um caminho de inserção de novos estímulos para que essa expressão sexual aconteça de forma mais saudável. Afinal, sexo não tem a ver com uma pessoa, mas com duas. E é preciso que haja uma boa comunicação, para que esse momento possa ser vivido de forma satisfatória para ambos os lados.
Levando os homens ao divã, essa psicóloga nos mostra que também nós, mulheres, consequentemente também estamos lá, seja através das terapias de casais, ou por sermos citadas. E isso é o que torna este livro uma leitura tão relevante para homens, quanto também para nós mulheres. E aqui, preciso ressaltar que não apenas em casos de relações heterossexuais. Mas para todos nós, independentemente do seu gênero e orientação sexual.
Minhas expectativas com esse livro foram todas ultrapassadas, e termino essa leitura com um gostinho de quero mais. Muito mais, porque aprender mais sobre as pessoas, e também sobre mim mesma, é algo que eu não quero parar de fazer nunca. Afinal, nos relacionarmos é algo tão constante. Seja afetivamente, ou mesmo profissionalmente, ou com pessoas próximas, com as quais mantemos relações esporádicas.
Conhecer o outro nos ajuda muito a melhorar a forma como nos comunicamos, e nos conhecermos, ajuda muito a tirarmos mais os pesos e responsabilidades indevidas que depositamos nas pessoas. E muito disso, você pode encontrar neste livro. Basta se abrir a essa experiência!